O planejamento e o futuro do setor elétrico brasileiro

Jornal GGN – O consumo anual de energia elétrica no Brasil é de 555 TWh (Terawatt-hora), com crescimento médio, nos últimos dez anos, de 4% ao ano. Com esse nível de demanda, é inegável a necessidade de se realizar investimentos para garantir a oferta. Depois do apagão de 2001, a segurança energética virou um dos assuntos mais urgentes para o desenvolvimento do país.

Em 1990, o mundo desenvolvido – Estados Unidos e Europa Ocidental – representava dois terços do consumo mundial de eletricidade. Atualmente, os países em desenvolvimento já respondem por 50% do total. Até 2035 esse panorama deve mudar. EUA e Europa devem passar a consumir quase 12 mil TWh e os países em desenvolvimento mais de 20 mil TWh.

Os números foram apresentados na terça-feira (21), durante a abertura da Power-Gen Brasil, pelo presidente da Eletrobas, José da Costa Carvalho Neto. De acordo com ele, os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) vão liderar essa evolução. “Considerando esse cenário, até 2035, a Índia deve crescer 226%, a China 116,3%, o Brasil 99,4% e a Rússia 49,9%”. No mesmo período, o consumo dos EUA cresceria 21,9%, bem abaixo da média mundial de 69,2%.

Pela projeção da Eletrobras, em termos de participação mundial, a China passaria a responder por 27,5% do consumo total, EUA por 14,7%, Índia 7,8%, Rússia 3,9% e o Brasil chegaria a 2,9%.

Nos últimos anos, a capacidade instalada do Brasil deu um salto. Em 2002 era de 80,3 GW e em 2013 chegou a 124,8 GW. O crescimento no período foi de 55,4%, uma média ao ano de 4,2%, muito próxima ao crescimento do consumo. Hoje, apenas as hidrelétricas já respondem por 85,3 GW da potência. E as térmicas – quem em 2002 produziam 8,5 GW – já são responsáveis por 19,3 GW.  Até 2025, a capacidade instalada deve chegar a 195,1 GW.

De forma semelhante, a rede básica de transmissão tinha, em 2002, 76 mil quilômetros de extensão e hoje tem 116 mil quilômetros. O crescimento foi de 54%, de novo, 4% ao ano. Com isso, o número de interrupções de fornecimento, que em 1997 era de 21 ocorrências anuais, com duração total de 27 horas, baixou para dez ocorrências anuais, com duração média de 18 horas.

Assim, o serviço de energia elétrica no Brasil é o segundo mais bem avaliado pela população, com 18% de satisfação alta e muito alta e 58% de satisfação adequada. O índice total de aprovação, portanto, é de 76%, número inferior apenas aos 78% dos Correios.

E o presidente da Eletrobras está confiante no desenvolvimento do sistema. Na opinião dele, o Brasil deve continuar a ser o segundo do mundo em energia hidrelétrica – em primeiro lugar está a China. “Nós já aproveitamos 32,7% do potencial hidrelétrico brasileiro. Há mais 13,1% considerados no plano decenal, 3,3% que podem ser aproveitados em bacias sem intervenção em terras indígenas e 5,4% com intervenção em terras indígenas, mas com boas oportunidades de mitigação. Além disso, há outros 6,7% de potencial em pequenas centrais hidrelétricas”, detalhou.

Isso totaliza 61,2% do potencial hidrelétrico, mas José Carvalho da Costa Neto diz que não vamos nunca chegar a 100% sem impactar negativamente o meio ambiente e os povos indígenas e ribeirinhos. No entanto, ele acredita muito no potencial brasileiro para fontes alternativas.

“Nós temos potencial para 345 GW de potência com o vento medido a 100m de altura. Nosso vento tem uma volatilidade muito menor do que o da Europa. E eu posso afirmar pra vocês: o mesmo sucesso que nós tivemos com a energia eólica nós vamos ter com a solar”, garantiu.

Além disso, ele lembrou que o Brasil tem a sexta maior reserva de urânio do mundo. “Mas só prospectamos um terço do nosso território. Quando explorarmos 100% teremos a segunda maior reserva de urânio. E nós somos um dos cinco países do mundo que dominam a produção, desde a mineração até o enriquecimento”, disse.

Sobre as termelétricas, ele lembrou que elas têm para a segurança energética do país. “Se nós não tivéssemos essas térmicas, com esse período hidrológico que estamos passando, nós já teríamos racionamento”, afirmou.

Mas ele aposta em uma diversidade cada vez maior de fontes, não apenas no Brasil, mas no mundo. “Descontada a hidrelétrica, as fontes renováveis, hoje, respondem mundialmente por 992 TWh.  Em 2035 devem representar 5.785 TWh. Mas o cenário ideal seria de pelo menos 9.089 TWh”, explicou.

Os próximos passos do setor elétrico brasileiro incluem a construção das usinas no rio Tapajós. “Só em geração, nós vamos investir R$ 220 bilhões. Em transmissão serão mais R$ 70 bilhões”, detalhou o presidente da Eletrobras.

Para ele, os principais desafios do país no futuro envolvem solucionar as dificuldades na obtenção de licenciamento ambiental, que obriga as empresas a lidar com todos os agentes ambientais, nacionais, dos estados e municípios e atrasa muito o processo. Além disso, ele acredita na integração da rede elétrica da América do Sul. “Os períodos hidrológicos de cada país são complementares. É um ganha ganha, porque o mínimo da soma é maior do que a soma dos mínimos. Mas esse é um desafio político, tanto quanto logístico”.

Sobre a crise financeira do setor elétrico, o executivo entende que as medidas do governo foram adequadas. “A Eletrobras foi muito afetada por essas medidas, justas, de renovação das concessões, mas estamos trabalhando para reduzir custos. Sendo continuada essa política, há uma tendência estrutural de redução da tarifa no Brasil”.

O Brasil ficou na 30ª posição no levantamento do Conselho Mundial de Energia, que avaliou a sustentabilidade, segurança energética e equidade. O país conquistou o conceito A em sustentabilidade, B em segurança e C em equidade. Para o presidente da Eletrobras, a 30ª posição pode ser boa na comparação com outros índices, mas está longe do ideal para a sétima maior economia do mundo. “Desde 2003 nós ligamos 15 milhões de habitantes que, no século XXI, não contavam com energia elétrica. Ainda falta cerca de 1 milhão. Nós vamos perseguir a melhora nessa avaliação”.

Redação

4 Comentários

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  1. Não vi qualquer

    Não vi qualquer planejamento…

     

    Térmicas não eram apra ser backup?

    Temos 20GW de térmicas extremamente sujas e isso é bom?

    Qual o planejamento?

  2. planejamento

    Planejar significa olhar para o futuro  pensar no melhor e no pior. Em se tratanto de enegia,  a natureza é a fonte.

    O Brasil come estamos vendo atualmente está com uma seca no sudeste que é a região de maior cosumo e onde se localizam grande parte das hidroelétricas. Vamos depender desta fonte por muitos anos. Uma forma de manter a chuva e as nascentes é a a recuperação das florestas. Infleizmente não vejo nenhuma notícia a este respeito.A fonte mais eficaz e menos poluidora  para usinas termicas é o gas. Precisa-se estudar as fontes de gas, a forma de transportar e até introduzir industrias de turbinas no Brasil.   Nosso Pais é bem ensolarado principalemento no Nordeste e aproveitamentos desta energia poderia ser desenvolvido nesta região. No sertão da Bahia tem ventos constantes numa velocidade aproveitavel, além dos ventos alísios no Nordeste. Desperdícios podem ser monitorados e solucionados. O uso racional da energia pode ser ensinado nas escolas, repartições, industrias, residencias e  edifícios antes de acontecer uma crise.

    E por fim é inevitável no futuro que se utilizem as centrais termicas a urâniio.

     

  3. momentos de reflexão

    Temos um consumo crescente de energia, mas nossos produtos de exportação não têm valor agregado ou tecnológico. O país precisa diversificar seu parque industrial, não basta permanecer somente na primeira etapa do processo. Produzimos alumínio e aço para exportação, e daí recebemos de volta os produtos de alta tecnologia, feitos com nossa matéria-prima. 

    Pior ainda é que a base de nossa exportação voltou a ser o setor primário, minério e grãos. REgredimos para o início do século XX, quando Monteiro Lobato criticava a dependência do café. Quando o café perdeu valor, o país afundou. Hoje contamos com o consumo dos chineses, mas até quando? 

    Precisamos discutir o que fazemos com tanta energia, como a gastamos. E temos que abrir o mercado de energia para o pequeno produtor, aquele cujas placas solares, com 25 anos de vida útil, poderá gerar energia utilizando a área do telhado de casa como fonte. Numa cidade como São Paulo, a soma dos telhados teria uma potência instalada equivalente à Itaipu, quiçá maior. Somem-se os telhados de todas as principais cidades do país. É uma escala gigantesca que nano-geradores, que podem tornar desnecessários os enormes investimentos, e riscos ambientais de projetos hidrelétricos na Amazônia.

    Por que não construir usinas nucleares acopladas às hidrelétricas? O maior problema de uma nuclear é ter volume de água suficiente para o resfriamento. Ele está disponível próximo de uma barragem.  A água usada retorna ao lago e ainda passa pela turbina, gerando duas vezes. Nucleares geram muito e ocupam muito pouco espaço. Ao lado de hidrelétricas aproveitariam o sistema de transmissão já instalado.

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