Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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Palavras ao vento, por Rui Daher

Furacão

Ah, quanta coisa se perde saindo de São Paulo em andanças por terras aonde não chegam tão facilmente as folhas e telas cotidianas.

Hoje, cheio de acessos aqui no hotel, leio mensagens de amigos me entregando mais uma gafe da presidente Dilma Rousseff, e dizendo-se envergonhados, justo agora quando renhidamente lutamos contra nosso complexo de cães vira-latas.

Confesso ter ficado curioso. O pronunciamento misturava ONU, energia, sistemas eólicos e armazenamento de ventos. Uns bravios, como nosso Judiciário, outros amenos, como a reação do governo e do partido a que pertence.

Após três dias de campo, dois deles levando no velho lombo de guerra fortes chuvaradas, pés-de-vento, botas amassando barro vermelho, e sofrendo com quem ainda não colheu o trigo, mas tomando o vinho do sorriso com quem já plantou a soja, e vê suas primeiras orelhinhas aparecerem, fui pesquisar do que tratava a nova crucificação.

Entrevistada em Nova York, a desafeta de quem acha o País desgovernado e propõe tomar o Poder de Estado por um golpe supostamente legalista, ignorando Constituição, regime democrático, e os 55 milhões de votos que a elegeram, disse o seguinte:

Até agora, a energia hidrelétrica é a mais barata, em termos do que ela dura com a manutenção e também pelo fato da água ser gratuita e da gente poder estocar. O vento podia ser isso também, mas você não conseguiu ainda tecnologia para estocar vento. Então, se a contribuição dos outros países, vamos supor que seja desenvolver uma tecnologia que seja capaz de na eólica estocar, ter uma forma de você estocar, porque o vento ele é diferente em horas do dia. Então, vamos supor que vente mais à noite, como eu faria para estocar isso”?

Então foi isso? Entendo. A presidente enlouqueceu mesmo. Vergonha nacional! Deve ter passado a noite sem dormir pensando em como seria bom um esforço conjunto das nações para encontrar tecnologia que permitisse colocar o vento em sacos, valvulados ou selados, mantê-los em silos e, um dia, quando necessário, abrir embalagens, reservatórios, e encontrar lá dentro, de acordo com a dosagem recomendada em bula: brisa, tufão, furacão, tornado, pum, ou mesmo ele “encanado”, risco de gripe ou pneumonia, como temiam nossas bisavós.

Não creio alguém ter cogitado ter sido uma forma de, usando exemplo improvável, ressaltar a dimensão do conseguido no evento, com a adesão de tantos países importantes, contumazes poluidores, em procurar tecnologias e ampliar o uso de fontes renováveis de energias. Hidrelétrica, biocombustíveis, eólicas.

Só mesmo um empedernido e ultrapassado petista assim interpretaria a gafe presidencial, pensou aí algum Rodrigo, sem lembrar-se dos leques que as senhoras ainda usam para acionar o vento estocado diante dos seus narizes.

Também aqueles grandes penachos, movidos a negros altos e fortes para abanarem reis das arábias enquanto eles se deliciavam, frescos, vendo formosas moças em performances de ventre. Nunca assistiram a um filme produzido pela Columbia Pictures? Pois é, vento estocado, todo têm.

Pode não ser tão louca assim a Presidente da Federação de Corporações.

Desabafo

Assim como pedi um mês sabático para o “Dominó de Botequim”, devido à necessidade de me concentrar em atividades profissionais, fiz o mesmo com minha coluna sobre agronegócio em CartaCapital.

Foi aceito, claro. Como todos sabem, isso é um zero a zero que não prejudica ou garante ninguém.

Na última coluna publicada, em 1º de outubro, lá até hoje, “Vamos falar de feno”, fui irônico ao explicar a levada que dava aos meus textos.

Desde então o site manteve a coluna fechada para comentários. Uma exceção, porém. A certo Rodrigo (daí a menção acima, sabendo que a maioria deles é de gente boa), que assim comentou no dia seguinte, e que lá permanece até hoje, como destino fatal de minha mediocridade:

RODRIGO. RESUMO DO ARTIGO: “olha só como sou um bom escritor e culto, isso é porque eu sou de esquerda e, portanto, sou muito mais inteligente! Se você não é, é apenas mais um bobo incapaz de se libertar da mídia de massa capitalista opressora que inventa todas estas mentiradas só para chegar ao poder. Se você não é de esquerda e petista, é só mais um bovino e deveria estar comendo feno agora! Acorde, isso é tudo mentira! O governo de esquerda (esquerda???) é ótimo! Não caia nesta mentirada da mídia e acredite em nosso jornalismo independente!”

PS: Espero que não censurem meu post, como todos os outros….

Não tive direito de resposta e nem mesmo uma vozinha que me apoiasse. Se o tivesse, responderia apenas o seguinte: “Estimado Rodrigo, você acertou em cheio. Na mosca”!

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

9 Comentários

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  1. Postagem lamentável

    O autor da postagem está chamando a presidenta de burra. A presidenta é teimosa, alienada e péssima par falar de improviso. Mas burra ela não é, sou obrigado a defender e nem sou petista (observação impescindível nos dias atuais ao se comentar algo sobre política).

    Todos sabem que a presidenta é péssima na arte de falar de improviso. Mas o autor da postagem, na ânsia de criticar a presidenta que tem uma quantidade absurda de motivos para ser criticada, quer interpretar o que ela disse como fazem os jornais da imprensa velha. O autor ficou parecendo também um destes coxinhas sem cérebro que abundam nas caixas de comentários.

    É óbvio que ela não estava falando em estocar o vento e sim a energia gerada após a conversão. Ainda não existe sistema viável economicamente para armazenar em grande escala a energia gerada pelo vento (= energia eólica).

    O que eu gostaria de ler é a transcrição da continuação desta fala dela. Muitos estão dizendo que ela falou que se alguém desenvolver um sistema de armazenagem da energia eólica em outro páis nós podemos comprar. Isto sim, se verdade for, seria bastante criticável afinal seria um atestado de que só podemos vender comoditites e comprar produtos tecnológicos. Neste caso, contem comigo para criticar.

     

     

    1. Ei Rabuja,

      não percebe ironia, não, meu prezado? Isso me faz lembrar quando a turma cheirada vibrava com a música “Cocaine”, um clássico com Eric Clapton, e os autores e ele tinham que explicar: “Olha, pessoal, a letra é contra ela, sacou”?.

      Rabuja, através da ironia, o texto defende Dilma. Aliás, bastava ler o comentário feito por um certo Rodrigo à minha coluna na Carta, que não iria assim tão pesado contra a presidente. 

  2. Estupidez humana.

    Eu estou quase tomamdo a decisão de imitar um inglês que, diante da estupidez humana, comprou uma fazendinha nos alpes suiços e resolveu viver como uma cabra, no meu caso um bode.

    Vou comprar um sitiozinho, no sertão da Paraíba, para viabilizar o projeto.

  3. Estocar Vento

    É bacana ver a ignorância da reação agindo. Esclarece.

    A fala da presidenta sobre estocar vento é correta e muito didática! Não é técnica e, por isso, é tão boa.

    Uma das questões mais importantes da energia é guardar quando se produz mais do que se gasta pra usar quando falta.

    Se você, por exemplo, usa energia eólica para bombear água pra uma caixa dágua alta e depois (quando não tem vento) produz, por gravidade, energia com essa água, você “ESTOCOU VENTO”.

    Dilma é boa professora.

    A coxinhada, além de ter má vontade, é muito ignorante.

  4. Pobres de Espírito: Ela estava falando de “Estocar Vento”, sim..

    Tenho uma Hipótese.

    Quem lê muito, tem péssima Oratória.

    Dilma é um caso típico.

    Talvez, no País inteiro, ela, e poucos, tenham lido sobre a “Estocagem de Ventos”.

    E, o pior, a Pesquisa está bem embaixo dos nossos narizes.

    Chama-se FAPESP e Universidade de Birmingham:

    Aliás, antes que os ignorantes sugiram que ela “Estoque Vento” “Peidando no Ventilador”, isso também já é feito…

    1. Estocando Vento (FAPESP):

    Dilma está errada por querer ‘estocar vento’? Para cientistas britânicos, não

    Pesquisadores da Universidade de Birmingham desenvolvem sistema com ar líquido para estocar energia proveniente de fontes intermitentes, como a solar e a eólica

    O debate sobre o desenvolvimento de fontes de energia limpas e sustentáveis segue na ordem no dia e, nesta semana, agitou as redes sociais depois da afirmação da presidente Dilma Rousseff que, em entrevista coletiva concedida na ONU (Organização das Nações Unidas), disse não existir tecnologia atualmente para “estocar vento”, em menção às dificuldades decorrentes da viabilidade técnica de se substituir as hidrelétricas por fazendas de energia eólica.

    Veja o vídeo com a declaração da mandatária:

    https://www.youtube.com/watch?v=sQwnyAwBsGs

    Apesar da confusão de palavras na frase da presidente, o aproveitamento máximo da produção de energias alternativas, como a eólica e a solar, é um tema que chama a atenção de especialistas no setor. Neste sentido, a Revista Samuel republica a reportagem da Agência Fapesp, de 2014, sobre o processo que está sendo desenvolvido por cientistas britânicos para usar ar líquido como forma de otimizar a utilização de fontes renováveis como a solar e a eólica, reduzindo os efeitos de sua intermitência no abastecimento da rede elétrica. Confira a íntegra da reportagem de José Tadeu Arantes:

    O Reino Unido vai utilizar ar líquido para estocar energia proveniente de fontes renováveis (solar e eólica). O método, já testado em planta-piloto, deverá entrar em escala comercial em 2018.

    Segundo os responsáveis pelo projeto, a proposta é contribuir para a superação de altos e baixos no abastecimento provocados pela intermitência das fontes renováveis. Estocada em ar líquido, a energia estaria disponível para o consumo mesmo em dias nublados ou de calmaria.

    O projeto foi explicado pelo professor Richard Williams, pró-reitor e diretor da Faculdade de Engenharia e Ciências Físicas da University of Birmingham, no Reino Unido, em palestra na FAPESP, durante o evento “UK-Brazil interaction meeting on cooperation in future energy system innovation”, realizado para promover a cooperação científica entre pesquisadores brasileiros e britânicos na inovação de sistemas de energia.

    “Uma planta-piloto de 350 quilowatts (kW) encontra-se em funcionamento, conectada à rede elétrica do Reino Unido, há três anos. Essa unidade está sendo, agora, transferida para a University of Birmingham como uma plataforma de testes. E o governo disponibilizou um financiamento de £ 8 milhões para que uma unidade de demonstração, de 5 megawatts (MW), esteja operacional em meados de 2015. Tudo isso para que tenhamos a opção comercial da estocagem de energia em ar líquido até 2018”, disse Williams à Agência Fapesp.

    Projeto britânico pode solucionar uma das questões mais problemáticas para a disseminação da energia eólica

    O princípio físico do processo é relativamente simples. Setecentos e dez litros de ar, resfriados a menos 196 graus Celsius, dão origem a um litro de ar líquido. Esse ar líquido pode ser estocado e, posteriormente, quando entra em contato com uma fonte térmica, volta a se expandir. A expansão do ar é utilizada, então, para movimentar uma turbina, convertendo a energia mecânica em energia elétrica.

    A liquefação do ar é uma forma de estocar a energia proveniente de fontes intermitentes, como a solar e a eólica, assegurando que a rede não sofra decréscimo de fornecimento nos momentos de menor insolação ou de redução no regime dos ventos.

    De acordo com Williams, dessa forma, otimizando a utilização de fontes renováveis, a estocagem criogênica (que utiliza temperaturas muito baixas) passa a ser uma importante peça na política britânica de descarbonização da matriz energética.

    O Climate Change Act, aprovado pelo Parlamento britânico em 2008, estabelece a redução de 80% nas emissões de gás carbônico (CO2) até 2050. E as Renewables Obligations determinam que os provedores de energia elétrica licenciados no Reino Unido forneçam uma proporção crescente de eletricidade gerada a partir de fontes renováveis, fixando a banda de 15% para 2020.

    “O ar líquido para armazenamento de energia torna-se mais eficiente acima de 10MW, de modo que não é apropriado para uso em edifícios isolados, mas bastante adequado na escala que vai do bairro ou do parque industrial à cidade. Já no âmbito dos transportes, uma possibilidade é seu emprego em soluções de tecnologia híbrida, para aumentar a eficiência de motores diesel, em caminhões ou balsas de curto percurso, por exemplo”, disse Williams.

    Aumento na eficiência

    Considerando-se os dois ciclos, de resfriamento e reaquecimento do ar, a eficiência esperada para o processo, na etapa de demonstração, é da ordem de 60%, contou o pró-reitor da University of Birmingham.

    “Mas a eficiência pode ser aumentada para 80% ou mais com a utilização de calor residual no ciclo expansivo. Outra forma de aumentar ainda mais a eficiência é conjugar as unidades produtoras de ar líquido com terminais de gás natural liquefeito, de modo a aproveitar o frio residual produzido nesses terminais durante a fase de reconversão do gás ao estado gasoso”, explicou.

    Segundo Williams, os impactos ambientais diretos do processo deverão ser muito baixos. “Para o armazenamento de energia, o dispositivo apenas captura e esgota o ar. E, quando a estocagem criogênica é utilizada em motores, o material trocado com o meio é novamente o ar”, disse.

    “Como a temperatura de funcionamento desses motores é menor do que a da combustão interna convencional, os componentes podem ser fabricados com plásticos em vez de metais, reduzindo a energia incorporada”, argumentou.

    Eleita “universidade do ano” pelos periódicos The Times e The Sunday Times, a University of Birmingham tem entre suas prioridades atuais a criação de soluções inovadoras a partir do conceito de sustentabilidade.

    Por isso, somou-se a outras quatro universidades britânicas (Hull, Leeds, Sheffield e York) para formar o Centre for Low Carbon Futures (Centro para Futuros de Baixo Carbono), que reúne engenheiros, cientistas naturais e cientistas sociais focados em alternativas energéticas e mudanças climáticas, em interface com governo, empresas e entidades da sociedade civil.

    O Birmingham Centre for Cryogenic Energy Storage (Centro de Armazenamento de Energia Criogênica da University of Birmingham), criado em associação com a University of Hull, é parte dessa iniciativa.

    A University of Birmingham mantém acordo de cooperação com a FAPESP para apoiar projetos de pesquisas colaborativas entre o Estado de São Paulo e o Reino Unido. Duas chamadas de propostas já foram lançadas no âmbito do acordo. Na primeira chamada, sete propostas foram selecionadas. 

    (*) Conteúdo publicado originalmente na Agência Fapesp, no dia 4/6/14

    2. Estocando Peido:

    http://revistapegn.globo.com/Noticias/noticia/2014/04/tecnologia-transforma-pum-das-vacas-em-energia-limpa.html

    Tecnologia transforma pum das vacas em energia limpa

    Solução para um dos gases causadores do efeito estufa vem da Argentina

    As vacas e seus puns produzem até 25% das emissões de gás metano, um dos causadores do efeito estufa. Um problema realmente sério, apesar de render muita piada.

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