Bresser-Pereira defende ajuste e permanência de Levy

Jornal GGN – Em artigo publicado na Folha de S. Paulo, o professor da FGV e ex-ministro da Fazenda, Luiz Carlos Bresser-Pereira, defende a manutenção do ministro Joaquim Levy no cargo.

Bresser-Pereira relembra que ele próprio iniciou um ajuste fiscal enquanto ministro do governo Sarney, e que sofreu pressões da bancada econômica de seu partido, o PMDB. Ele diz, também, que o ajuste de Levy não é o principal fato que vai tirar o país da crise, mas que é essencial para recuperação da confiança das empresas e para o retorno dos investimentos.

Para o ex-ministro, a taxa de câmbio deve permanecer no patamar atual para aumentar as exportações da indústria brasileira, e consequentemente acelerar os investimentos e o crescimento econômico. Também aponta a queda radical do preço das commodities, o esgotamento da capacidade de endividamento das famílias brasileiras, o agravamento da desindustrialização e a perda da confiança das empresas no governo como as causas da crise econômica atual. 

Da Folha

Não saia, caro Levy

Luiz Carlos Bresser-Pereira

Eu não sei quem está mais errada –a ortodoxia liberal que “resolve” todos os problemas com a austeridade ou a heterodoxia desenvolvimentista que os resolve por meio da expansão fiscal. Sei, porém, que esse keynesianismo vulgar nada tem a ver com Keynes.

Diante da decisão da presidente Dilma de promover um ajuste fiscal em um quadro de recessão, o desenvolvimentismo populista pede a saída do ministro Joaquim Levy. Não saia, caro ministro.

Quando, em 1987, após o colapso da aventura populista que afinal foi o Plano Cruzado, eu assumi o Ministério da Fazenda e iniciei um ajuste fiscal, a “bancada econômica” do meu partido na época, o PMDB, incentivou minha expulsão da sigla. Só não fui expulso porque Ulysses Guimarães interveio.

Não é o ajuste fiscal o principal fato que nos tirará da crise, mas ele é essencial para que haja a recuperação da confiança das empresas, e elas voltem a investir.

O principal ajuste já aconteceu; foi o da taxa de câmbio. Desde que essa taxa permaneça no nível atual, a indústria brasileira voltará a investir e a exportar, e o Brasil voltará a crescer. O grande desafio é ter uma política cambial que mantenha a taxa de câmbio real no presente nível.

As causas da crise foram (a) a queda radical do preço das commodities exportadas pelo Brasil em agosto e setembro de 2014; (b) o esgotamento da capacidade de endividamento das famílias; (c) o agravamento da desindustrialização; e (d) a perda de confiança das empresas no governo, que se agravou devido à transformação de um superavit primário de 1,7% do PIB em 2013 em um deficit de 0,6% em 2014.

Não obstante, o desenvolvimentismo populista está indignado. Agora quer isentar o governo federal da Lei de Responsabilidade Fiscal. Como se fosse um absurdo estabelecer limites para o deficit público.

Seus representantes supõem que estão defendendo os trabalhadores e os pobres advogando agora a expansão fiscal, como supunham nos últimos 12 anos em que defenderam a apreciação cambial.

Não compreendem que o objetivo da política macroeconômica não é promover a justiça social, mas garantir o pleno emprego. Não se reduz a desigualdade quebrando o Estado e o país, mas tornando o sistema tributário brasileiro progressivo e aumentando os recursos para a educação e a saúde.

Uma política macroeconômica é legítima se atende a pelo menos três requisitos. Primeiro, é necessário que a economia esteja em recessão; segundo, que essa recessão tenha sido causada por um processo de superprodução e não de paralisação da economia provocada por perda de confiança; e terceiro, que o Estado esteja financeiramente sadio, de forma que quando o deficit público aumenta, todos sabem que esse aumento é temporário.

O Brasil atendia no início deste ano apenas ao primeiro critério. Não atendia ao segundo, porque não se pode falar em superprodução. E as finanças do Estado não estão sadias; muito ao contrário. A crise explodiu logo após o governo haver feito uma expansão fiscal violenta. Replicar com mais expansão fiscal é irracional.

Caro ministro Levy, pertenço a uma escola de pensamento diferente da sua, mas não vejo alternativa a sua política. O restabelecimento da confiança já está começando a acontecer porque a sociedade está vendo o esforço que está sendo feito para realizar o ajuste fiscal.

A depreciação cambial realizada pelo mercado devolveu competitividade à indústria. Agora é necessário que o Banco Central se convença de que está na hora de começar a baixar os juros, e teremos as condições para a economia brasileira sair da crise.

LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA, 81, é professor emérito da Fundação Getúlio Vargas. Foi ministro da Fazenda (governo Sarney), da Administração e Reforma do Estado e da Ciência e Tecnologia (governo FHC)

Redação

9 Comentários

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  1. Bresser começou a mudar a

    Bresser começou a mudar a postura e afastar das besteiras que apoiou nos últimos anos. É sempre assim estes economistas apoiam a merda toda, defendem o governo e quando vem os resultados mudam de opiniao. Vide Delfim e agora o Bresser. Deveriam ter criticado antes e tentado formar opinião quando outros economistas apontavam o caminho que estávamos trilhando.

  2. desenvolvimentismo populista

    keynesianismo vulgar nada tem a ver com Keynes

    Com a palavra AA, Luis Nassif e os que não só defenderam  o keynesianismo vulgar como também o Bresser (que ainda tenho em baixa conta) quando ele fazia proselitismo em defesa do desenvolvimetismo populista.

  3. Se a política fiscal não está

    Se a política fiscal não está disponível, utilize-se a política monetária. (aliás, no mundo inteiro é o contrário: primeiro a monetária, só depois a fiscal).

    Se tivesse uma política monetária decente ajudava a resolver a parte fiscal. E a inflação também ajuda (que não é de demanda!!!)

    Só que o Levy é banqueiro. Como é que pode então o Bresser vir com uma besteira destas?

    Falar nisto, semana passada saiu um bom post do Krugman sobre os Brics. A única coisa que ele errou, na minha opinião, foi dizer que os brasileiros não são estúpidos (nós somos!):

    http://krugman.blogs.nytimes.com/2015/10/24/original-sin-and-global-stagnation/?module=BlogPost-Title&version=Blog%20Main&contentCollection=Opinion&action=Click&pgtype=Blogs&region=Body

    For countries, getting trendy on Wall Street, and worse yet becoming part of a catchy acronym, is like finding yourself on the cover of BusinessWeek or Fortune: it’s a sure sign of big trouble ahead. So we should have known that the BRICs were heading for a nasty fall; and sure enough, emerging markets have gone from heroes to dogs in practically no time.

    But what are the implications for the world economy? Emerging markets are out, but advanced countries are in again, so isn’t it a wash? Unfortunately not, because there is an important asymmetry here.

    What is true is that all commodity exporters are being hit:

    PhotoCredit

    But they are responding differently. Look, for example, at monetary policy in Brazil versus Canada:

    PhotoCredit

    Canada has kept interest rates low; it might even do some fiscal stimulus if the economy continues to weaken. But Brazilian policy is reinforcing the slump, with interest rates going up and fiscal tightening in prospect.

    This is not because the Brazilians are stupid. It’s partly because they came in with a relatively high inflation rate, so that they aren’t as relaxed about currency depreciation as the Canadians can afford to be. But it’s also because emerging markets still suffer to some extent from original sin — underdeveloped capital markets and a tendency to borrow in foreign currency. This sin isn’t nearly as strong as it was 15 years ago, when Barry Eichengreen and Ricardo Haussman coined the term, but corporate dollar-denominated borrowing after 2008 brought it partially back.

    The result is that as markets lose faith in emerging economies, these economies are pushed into contractionary policies; meanwhile, the advanced economies receiving the capital inflows aren’t responding with expansionary policies. So the overall effect of the new emerging markets disillusion is a global turn toward contraction. I still think it’s not enough to produce a global recession, but am less sure than I was a few months ago.

    Oh, and a US interest rate hike, which would not just hit the US economy but also, via a stronger dollar, hit the emerging markets via balance sheets, would do a lot to make things even worse.

    1. Faz bem saber que Bresser Perira se junta a mim

       

      Droubi (terça-feira, 27/10/2015 às 13:31),

      Não sei se você é economista, se for tenho uma tarefa melhor para você do que ficar censurando o Bresser Pereira quando ele finalmente expõe na Folha de S. Paulo uma opinião que não acompanha a corrente principalmente da esquerda, mas que é também a minha opinião. Gostei deste artigo do Bresser Pereira porque eu que não sou economista (sem querer com isso me igualar ao Bresser Pereira que também não o é) sentia um tanto deslocado em não ver ninguém de qualidade defendendo o Joaquim Levy.

      No final de 2014, quando o nome de Joaquim Levy fora indicado, eu que vi com correção a escolha senti-me extremamente satisfeito quando li aqui no blog de Luis Nassif a defesa de uma política fiscal mais contracionista exposta pelo economista de esquerda Fernando Nogueira da Costa no post “Tática fiscalista e estratégia social-desenvolvimentista, por Fernando N. da Costa” de quarta-feira, 03/12/2014 às 17:04, contendo um texto dele para o Brasil Debate. O post “Tática fiscalista e estratégia social-desenvolvimentista, por Fernando N. da Costa” pode ser visto no seguinte endereço:

      https://jornalggn.com.br/blog/brasil-debate/tatica-fiscalista-e-estrategia-social-desenvolvimentista-por-fernando-n-da-costa

      Desde aquela data eu defendo a política econômica que estava implícita na escolha de Joaquim Levy. É bem verdade que atualmente Fernando Nogueira da Costa não mais defende a política de Joaquim Levy. É uma pena.

      Antes, entretanto, de falar sobre a defesa que Bresser Pereira faz de Joaquim Levy, eu quero abordar o que eu chamei de tarefa para você. A tarefa melhor que eu tenho para propor para você, é que você faça um estudo do PIB trimestral no terceiro trimestre de 2013 e descubra porque os investimentos tiveram aquela queda abrupta quando comparado com o trimestre imediatamente anterior. Foi algo normal, por exemplo, terá sido decorrente de uma decisão do governo que reduziu os investimentos da Petrobras naquele período, ou ainda dentro de um quadro de normalidade a queda teria sido fruto da própria marcha dos acontecimentos tendo em vista como a economia brasileira estava sendo administrada (Isto é o problema foi da má política econômica), ou foi algo anormal (Isto é eu estava certo em avaliar a política econômica de Guido Mantega como correta)? Se você no seu estudo chegar uma conclusão a disponibiliza para que quem o lê com atenção possa vir a conhecer o que pelo menos para mim parece ter sido uma grande incógnita.

      Lembrei em colocar a Petrobras como um fator de explicação natural para a queda do PIB no terceiro trimestre de 2013 em decorrência do post recente “Petrobras responde por maior queda do PIB, segundo Fazenda” de quinta-feira, 22/10/2015 às 15:42, publicado aqui no blog de Luis Nassif com matéria da Agência Brasil de autoria de Wellton Máximo, e que pode ser visto no seguinte endereço:

      https://jornalggn.com.br/noticia/petrobras-responde-por-maior-queda-do-pib-segundo-fazenda

      Eu enviei domingo, 25/10/2015 às 22:38, um comentário para o Wellton Máximo, salientando que assim como a Petrobras é responsável por parte da queda do PIB, ela pode ter sido responsável pelo crescimento dos investimentos nos três trimestres anteriores ao 3º trimestre de 2013, e a queda no 3º trimestre de 2013, que diante da retomada dos investimentos verificada nos três trimestres anteriores parecia algo fora do compasso, pode não ter sido tão anormal como eu imagino que foi. Só que este aprofundamento do conhecimento tem que ser feito por economistas. Só eles após estudo é que poderão dizer se a queda foi normal, e, portanto, explicada pela própria natureza do crescimento que ocorria e do sistema econômico existente ou foi uma queda anormal. E é este o desafio que eu lanço a você.

      Quanto a sua crítica ao Bresser Pereira pelo fato de elogiar o Joaquim Levy, eu imagino que você está em boa companhia, isto é, o Andre Araujo vai também fazer a mesma crítica. Considero que você e Andre Araujo e também o Luis Nassif estão errados ao não compreender a necessidade da política de contenção que Joaquim Levy está fazendo.

      Eu fundamento esse meu entendimento crítico a vocês da seguinte maneira. Há duas possibilidades de um país entrar em ritmo de crescimento: Ou pelo aumento do déficit público ou pelo aumento da receita do setor privado que não seja pelo aumento do déficit público. O aumento do déficit público com a moeda muito valorizada, como estava antes, com a baixa taxa de crescimento (em muito em virtude do que aconteceu no terceiro trimestre de 2013), com o baixo índice de desemprego que existiu até 2014 e com problemas enormes no Balanço de Pagamentos e com a perspectiva de subida de juro nos Estados Unidos, é uma temeridade sem tamanho.

      O aumento da receita (aumento do faturamento sem aumento correspondente dos custos) do setor privado que não seja pelo déficit público ocorre quando há uma desvalorização. Quando há desvalorização o setor recebe em moeda nacional muito mais do que recebia antes. E quando há uma desvalorização, parte do setor produtivo nacional começa a receber mais receita decorrente da venda para o mercado interno em substituição as importações. Nessa hora é necessário no Ministério da Fazenda um João Ninguém. É isso que o Joaquim Levy é. Um João Ninguém mãos de tesoura com muito conhecimento de matemática e ainda mais alguém com formação de Chicago que é uma universidade que não forma ninguém para servir aos governos, eu pelo menos não conheço ninguém de Chicago que tenha trabalhado em um órgão como o Ministério da Fazenda de qualquer país mais desenvolvido.

      Então quando há desvalorização você deve evitar a inflação a menos que você tenha o câmbio arrastado e possa com isso manter a desvalorização no nível desejado. Só que este processo leva a inflação para um nível politicamente perigoso ainda que seja para um nível que venha a favorecer a economia, ao reduzir a dívida pública e a dívida privada. E deve evitar que a desvalorização saia do controle. Então você tem que subir o juro e tem que evitar que os gastos maiores com os juros sejam ainda acrescidos com os gastos correntes ou de investimento do governo e portanto você tem que cortar os gastos públicos..

      Enfim o Brasil está fazendo tudo certo e sem que o juro precise ir a 40 – 45% como foi no início de 1995, após a desvalorização do México, no ano de 1998, quando da crise russa, em 1999, quando da crise brasileira (E deve ter subido muito em 1997 quando houve a crise nos tigres asiáticos). Nunca na história do Brasil o juro subiu tão pouco para enfrentar a desvalorização.

      O Bresser Pereira só errou em dizer que é preciso abaixar o juro de imediato. Em meu entendimento é preciso ter três meses de inflação na faixa de no máximo 0,4% para que o Banco Central possa iniciar um ciclo de baixa. Creio que esses três meses só vão aparecer no segundo trimestre de 2016. Infelizmente a realidade está saindo pior do que eu imaginava, mas não se pode perder a paciência com isso. É bem verdade que o desemprego não pode ser avaliado por quem está empregado, mas não vejo outra alternativa para o Brasil depois do que ocorreu no terceiro trimestre de 2013, e considerando que se trata de um país capitalista e democrático.

      Clever Mendes de Oliveira

      BH, 27/10/2015

  4. Mistificação

    “Diante da decisão da presidente Dilma de promover um ajuste fiscal em um quadro de recessão…”

    Esse que é o problema da mistificação…

    O tal ajuste foi proposto quando o emprego era recorde, recorde; e a inflação estava dentro do combinado. Fosse ele decidido no primeiro trimestre a vida seguiria em frente…

    Mas a chacrinha política resultante do conluio cínico de uma oposição que não aceita resultado de eleição, uma imprensa golpista, um congresso de achacadores e um punhado de “vacas togadas” não permitiu.

    Nenhuma ciência é possível quando até os “intelectuais” mimetizam o que a máquina de propaganda buzina. É sintomático, aliás, que os meios de comunicaçao não entrem em nenhum modelo desses cientistas e analistas políticos (sim, Bresser está atuando no campo político).

    Bom pros ideólogos, que os utiilizam livres, leves e soltos.

    E contam, inclusive, com a adesão do “campo acadêmico”, e não somente da “classe política”.

      1. Política anticiclica.
        2014 terminou com emprego recorde, recorde; e inflação “dentro do combinado”. Não adianta fingir.
        E a oposição, ah, a oposição, simplesmente recusou o resultado das eleições. Ou seja, se decredenciou completamente pra qualquer debate responsável e razoável. Deve, portanto, ser tratada como merece: como uma oposição golpista que oscila entre o cinismo e a histeria.

  5. Um economista que tentou criar um plano mirabolante

    que ñ serviu pra nada, comentando sobre um ajuste que vai levar a nada pq ninguém corta da própria carne…

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