Mercado ignora fracasso de gestão Levy, por Laura Carvalho

Jornal GGN – Em sua coluna na Folha de S. Paulo, a professora da FEA-USP, Laura Carvalho, diz que uma guinada do governo Dilma para a esquerda “beira o impossível”. Para Laura, o mercado insiste no “mito” da retomada do crescimento através do bom comportamento, ignorando as falha da gestão de Joaquim Levy no Ministério da Fazenda.

Ela cita também um debate entre Paul Krugman, vencedor do Prêmio Nobel, e Olivier Blanchard, ex-economista chefe do FMI, onde foi discutido a mudança da visão do Fundo Monetário Internacional sobre a austeridade fiscal. Leia mais abaixo:

Da Folha

Mais realistas que o rei?

Laura Carvalho

Uma guinada à esquerda do governo Dilma Rousseff beira o impossível. Além da crise política, os agentes do mercado insistem no mito da retomada do crescimento pelo bom comportamento e ignoram o fracasso da gestão Levy, em que os investimentos públicos caíram 38%; a confiança dos agentes privados despencou, e as projeções de crescimento e de arrecadação tributária tiveram de ser revistas inúmeras vezes.

Um dos temas do debate público promovido na City University of New York, em 7 de dezembro, com o vencedor do Prêmio Nobel Paul Krugman e o ex-economista-chefe do FMI (Fundo Monetário Internacional) Olivier Blanchard, foi justamente a mudança da visão do Fundo acerca dos efeitos da austeridade fiscal.
 
Blanchard destacou duas etapas nesse processo. Na primeira, logo após a crise de 2008 e diante do colapso da demanda privada nos países ricos, concluiu-se que a política monetária não seria suficiente para estimular essas economias, e o FMI passou a defender um deficit fiscal de 2% do PIB. Essa recomendação, que Blanchard classifica como revolucionária, só foi aceita pelos governos, segundo ele, porque estes estavam perdidos e, assim, dispostos a aceitar remédios mágicos. Por sorte, diz, aceitaram o remédio certo.

 
Na segunda etapa, já em 2010, algumas economias avançadas esboçavam uma recuperação, mas tinham níveis muito altos de endividamento público. Na Europa, segundo Blanchard, os alemães conseguiram emplacar a ideia de que bastaria agir de forma bem comportada para que as economias melhorassem.
 
Krugman lembra que a doutrina de que cortar gastos públicos poderia ser expansionista, por resgatar a confiança dos agentes privados e, assim, os investimentos, era sustentada por pesquisas que quantificavam estatisticamente reduções no deficit fiscal que não eram oriundas de variações no ciclo econômico e encontravam impacto positivo sobre o crescimento.
 
No entanto, o método utilizado não identificava episódios muito conhecidos de ajuste fiscal nos países, além de outras falhas. Um estudo econométrico de grande porte realizado por pesquisadores do FMI em 2011 identificou tais episódios e encontrou o resultado nada surpreendente de que contrações fiscais são, pasmem, contracionistas.
 
Nesse contexto, e a partir da evidência de que as economias europeias foram muito pior do que o previsto em 2010 e 2011, Blanchard teria se dedicado a descobrir a origem dos erros de projeção do Fundo. Seriam fruto de coisas imprevisíveis ou de fatos conhecidos que não haviam sido considerados corretamente?
 
Um estagiário teria então apresentado em uma reunião um gráfico em que mostrou forte correlação entre a magnitude da consolidação fiscal implementada nos países e o tamanho dos erros de projeção. Em períodos de recessão, a consolidação fiscal traria, portanto, efeitos muito piores sobre o produto do que o previsto nos modelos. Uma versão mais elaborada do gráfico apareceu no World Economic Outlook de outubro de 2012, sinalizando de uma vez por todas a mudança na visão do Fundo. Quem sabe, com alguma sorte e bons estagiários, o governo brasileiro não acabe escolhendo o remédio certo dessa vez, fazendo uma guinada de uns 13 graus em direção ao crescimento. 
Redação

8 Comentários

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  1. Vai torrar os neuronios

    dos discipulos de Von Mises! Deficit fiscal de 2% do PIB. Vão para o sanatório do Dr. Simão Bacamarte todos! Os comunas tomaram o FMI! Rs.

  2. Tecla SAP desabilitada

    O Levy não teve sucesso mas também não fracassou. Ele apenas era a tecla SAP para relacionar o Governo com o “humor’ do mercado (aquela meia dúzia que manda no mundo).

    O Governo, e todos nós, constatamos que o mercado não quer nem saber e torce pela derrubada deste Governo. Sendo assim, o Governo desabilita a tecla SAP para comunicar-se com o mercado e instala outra tecla SAP para comunicar-se com as organizações de base e o povo, com mais conceito de economia real.

  3. o tal estagiário teve uma

    o tal estagiário teve uma epifania de lógiva e descobriu:

    levantou-se, enceou um rictus de raiva diante dos financeirizadores ,

    contraiu os músculos do rosto, do corpo…

    depois abriu um largo sorriso e mostrou que

    o contrário de contrair é expandir… 

    mas um administrador rejeitou seu acesso ao munsdo

    mágico das falácias por causa do vasto riso que inundou a sala….

  4. Seguindo a receita

     

    Por: Diario de Pernambuco

    Publicado em: 31/12/2015 07:01 Atualizado em:

    O governo federal anunciou o pagamento de R$ 72,4 bilhões em pedaladas. Com isso, o déficit público primário deve atingir mais de R$ 125 bilhões, o que representará cerca de 2,15% do PIB de 2015

     

    1. Não seguiu a receita

      Como disse Ciro Gomes dias atrás: Lord Keynes se revira no túmulo. Normalmente esse tipo de confusão (citar o déficit público de um país em recessão) sempre é feita como forma de refutar a ideia de que déficit público em momentos de crise não resulta em crescimento . Mas não podemos esquecer que no caso do Brasil, o déficit público não foi produzido pela expansão dos investimentos, muito pelo contrário, os investimentos foram reduzidos. Esse défict é fruto de em conjunto de fatores, tais como: aumento dos gastos com o serviço da dívida, expansão dos gastos correntes, desonerações fiscais, crescimento do déficit previdenciário, pagamentos de programas sociais. Ou seja, nada que possa fazer a economia voltar a crescer.Talvez minha ignorança seja grande, mas desconheço país do mundo que desde que Keynes propôs ampliar os gastos públicos (investimentos) em situações de crises não tenha conseguido êxito (desde que tenha aumentado os investimentos e não apenas os gastos do governo). Caso alguém saiba de algum país que se manteve em recessão mesmo após ampliar os investimentos, por favor, me aponte. 

  5. Mercado ignora fracasso de gestão Levy

    A Laura poderia ter constado no primeiro parágrafo o montante de juros transferidos via SELIC para ficar bem claro quem ganhou e quem perdeu.

    No mais um bom texto trazendo mais luz para o tamanho do erro de Levy, na  formulação e na condução incoerente de seu ajuste .

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