Para economistas, Brasil precisa de um “cuidado intensivo”

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Jornal GGN – A economia brasileira encontra-se em cuidado intensivo, e o processo de intensificação de uma série de eventos – como o início dos procedimentos de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff pelo suposto uso de manobras contábeis para disfarçar o tamanho do déficit orçamentário – está levantando uma série de questões sobre quem pode ser o responsável por tais cuidados.

Em artigo publicado no site Project Syndicate, os economistas Mônica de Bolle (professora da PUC-Rio e não-residente no Peterson Institute for International Economics) e Ernesto Talvi (diretor acadêmico do Brookings Institution) consideram a situação do Brasil grave. “A saída é adjudicante; as receitas fiscais são vacilantes; e do déficit orçamental superior a 9% do PIB (Produto Interno Bruto)”. Os economistas ressaltam que “a inflação já ultrapassou a marca de dois dígitos, forçando o Banco Central a elevar os juros – uma abordagem que é insustentável, dado o aprofundamento recessão e o custo balão do serviço da dívida em rápido crescimento do Brasil”.

Os economistas dizem que, com a solvabilidade do Brasil se deteriorando rapidamente, a forma como a taxa de juros se espalha sobre a dívida soberana do país atinge níveis argentinos, e a posição de reserva internacional (de US$ 370 bilhões) parece cada vez mais vulnerável. “Quando o valor nacional de swaps cambiais (US$ 115 bilhões) é saldado, a parcela da dívida pública de curto prazo (interna e externa) coberta por reservas internacionais está abaixo do limite crítico de 100%”.

No início do ano, quando o segundo mandato presidencial de Dilma começou oficialmente, as prioridades de sua administração eram claras: implementar um programa fiscal de ajustamento que levaria o saldo orçamental primário (que exclui o pagamento de juros) de volta para o superávit e reduzir a taxa de crescimento da dívida pública para níveis sustentáveis. Rousseff nomeou sua equipe econômica associada com a ortodoxia fiscal para liderar tal esforço.

Contudo, a situação só se agravou, em parte devido à desaceleração econômica da China, o fim do boom das commodities, condições mais apertadas financeiras internacionais, o crescimento global fraca, e um legado de má gestão política de muitos anos. Mas a política interna tenha feito uma má situação muito pior; de fato, o maior obstáculo para a recuperação econômica este ano veio na forma de um enorme escândalo de corrupção da gigante petrolífera estatal Petrobras.

“Embora o escândalo tenha estourado no último ano, alegações e provas ter sido mais recentemente montagem contra os altos funcionários dos partidos políticos tradicionais, bem como empresários de destaque. E, como a Operação Mãos Limpas da Itália (“mãos limpas”) investigações na década de 1990, o escândalo Petrobras lançou a política brasileira em desordem”, pontuam os economistas. “Um senador sentado tem, pela primeira vez, foi preso por acusações de corrupção. E o processo de impeachment contra Rousseff só vai complicar ainda mais a situação”.

Segundo os articulistas, o Brasil atualmente se encontra em uma espécie de círculo vicioso, ou o que os economistas chamam de um “mau equilíbrio.” Mesmo que houvesse um governo disposto e capaz de realizar o ajuste fiscal necessário, as consequências políticas do caso Petrobras tem prejudicado a credibilidade do Brasil severamente. E a credibilidade levará um tempo para ser recuperada – e, segundo os articulistas, “tempo é um luxo que o Brasil não tem”.

País precisa de uma âncora fiscal e monetária

Os economistas ressaltam que, sem credibilidade no mercado, as taxas de juros e spreads de crédito no Brasil continuarão altos e irão afetar o esforço fiscal de ajuste, forçando a economia para uma espiral descendente. “Além disso, as pressões orçamentais irão torná-lo cada vez mais difícil para o banco central a elevar as taxas de juros de curto prazo para cumprir o seu mandato de reduzir o excesso de inflação. Em suma, o Brasil carece de uma âncora fiscal e monetária credível”, explicam.

Se o Brasil recuperar a sua credibilidade rapidamente, ele vai precisar do apoio da comunidade internacional. De acordo com Mônica e Ernesto, o Brasil não tem o equivalente institucional do Banco Central Europeu a fazer “o que for preciso” para manter o acesso ao crédito a taxas de juro razoáveis ​​uma vez que prossegue o ajuste fiscal e estrutural. A coisa mais próxima o Brasil tem é o FMI (Fundo Monetário Internacional), com o qual ele deve negociar um programa de ajustamento.

“Para ter certeza, um chamado ao FMI carrega um estigma considerável. Mas a realidade é que os países ajudando em situações como a do Brasil é uma área onde as instituições financeiras globais como o FMI – que, note-se, é mais flexível e aberto hoje do que era há uma década – pode desempenhar um papel construtivo”, dizem os economistas. “Mais ao ponto, o Brasil ficou sem bom – e muito menos fácil – opções. As únicas alternativas para um programa do FMI são uma espiral inflacionária para diluir o valor real da dívida e outras obrigações nominais, ou uma espiral econômica descendente que pode causar uma necessidade de reestruturação da dívida”.

 

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

9 Comentários

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  1. A economia brasileira tem

    A economia brasileira tem realmente algo de muito estranho.

    Como vamos chegar a uma inflação de mais de 10% com uma recessão próxima a 4% do PIB.

    Algo não bate.

    Se há descréscimo do produto, os preços deveria cair, no mínimo se manterem iguais….

    1. Só passei para lembrar que

      Só passei para lembrar que tivemos uma maxi-desvalorização da moeda de algo em torno de 50%. Isso sem contar o reajuste nas tarifas represadas.

        1. Inércia

          E apropriação pelo setor financeiro não produtivo.

          Incerteza política alimentada pelos golpistas de plantão ajuda muito. Ou não sabe que tudo tem um preço. Até um putsch.

    2. Palpite

      Um pequeno e insosso palpite: a causa disso é o nosso velho conhecido OLIGOPÓLIO que domina os principais setores da economia brasileira: bancos com spreads lunatícos e lucros astronômicos em plena recessão, setor de alimentos e outros reajustando preços (veja lucro da Brasil Foods, que segundo os mercadistas é fruto da excelente gestão do Abilio. E eles querem que eu acredito nisso).

  2. Creio que somente quando o

    Creio que somente quando o Brasil valorizar o mercado interno que é um dos mercados internos mais consumidores do planeta; pois brasileiro adora consumir, principalmente tecnologia. Quando valorizarmos o mercado interno e não sermos subservientes as commodities, seremos um país de verdade como Japão, Coréia do Sul. Até lá, seremos apenas um país com descrédito interno derivado de uma enorme taxa de juros e uma grande dívida exterior apoiada nos títulos nacionais. Ou seja, seremos apenas um país para rentistas estrangeiros lucrarem. É legal saber que, mesmo com esta alta taxa de juros, o Brasil cresce e mantem-se crescendo. Mas não estamos em uma competição mundial para vermos qual país do globo tem a maior taxa de juros mundial e mais alimenta credores estrangeiros pois descredita o mercado interno. O dinheiro do país tem de fluir, a consequência da moeda do país fluir será um aumento do seu valor no exterior. Um aumento do seu valor no exterior prejudicará as exportações mas melhorará as importações e o mercado interno. Um país dependente de commodities ou de exportações como a China, precisam de uma moeda fraca para vender seus produtos no exterior mas ao mesmo tempo como o produto tem valor agregado; o lucro é maior e o mercado interno cresce. Mas o Brasil exporta commodities, manter uma taxa de juros alta e sucatear o mercado interno para priveligiar as exportações de commodities não auxilia o país; muito pelo contrário, o sucateia e o torna dependente tecnologicamente e financeiramente. Acredito que está alta taxa de juros é para manter o mercado interno desaquecido pois tem um grande potencial de desenvolvimento, quando se mantém o mercado interno desaquecido privilegia-se o mercado exterior e as multinacionais para se instalarem aqui. Ou seja, o Brasil é um país do exterior mesmo em seu interior. Aqui está tudo funcionando ao contrário. Não esperamos ser uma China, um Japão, uma Coréia do SUl ou uma Europa e EUA desta forma. Na verdade não esperemos que sejamos diferente deles, mas que sejamos eles e dependamos deles; nos sacrificando. É esta a política brasileira de hoje, o sacrifício interno. Os bancos públicos e Bndes estão funcionando como válvula de escape; mas até eles estão sendo desacreditado. Estamos nos desacreditando de nós mesmos, ou estamos sendo forçados através de políticas de politicos inexcrupulosos e individualistas que não pensam no país. Estão nos traindo por dinheiro estrangeiro, por notas de credores estrangeiros. Os investidores estrangeiros estão dando nota para nossa falta de auto-estima. Devem estar pensando vamos ameaçar rebaixar a nota de investimento, assim eles aumentam os juros para combater uma suposta inflação e darão mais dinheiro para nós; aumentando ainda mais a inflação dos valores dos produtos interno, pois com um indústria sucateada e um real baixo como consequência têm de comprar tudo de fora com um preço salgado se auto-destruindo. Se suicidando para nos agradar! Como adoramos o Brasil! I love Brazil!!!

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