Política tem mais responsabilidade que regulação nas crises econômicas

Estudo encomendado pelo FMI mostra que as ações políticas têm mais relevância que a burocracia regulatória na formação de bolhas 
 
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Jornal GGN – O pesquisador do Fundo Monetário Internacional (FMI), Jihad Dagher, descobriu que ações políticas tem impacto decisivo para criar bolhas econômicas. Ele chegou a essa conclusão após avaliar a política partidária e econômica nos momentos que antecederam dez bolhas, trazendo exemplos do século XVIII até dos anos mais recentes. 
 
Segundo Dagher, as regulações mais severas foram aplicadas logo após uma grande crise. O estrago proporcionado por uma bolha financeira costuma derrubar o partido da situação colocando no lugar um governo que impõe a regulação como promessa de campanha. Porém, com a volta do crescimento da economia e do mercado, as políticas no setor voltam a ficar afrouxadas, repetindo-se o mesmo ciclo. 
 
A primeira crise estudada por Dagher foi a “South Sea Bubble”, de 1720, que levou a inglaterra a criar a lei “Bubble Act” proibindo a formação de empresas de capital aberto por ações sem a aprovação direta do Parlamento. A regulação surge após a quebra da South Sea Company, empresa patrocinada pelo governo que detinha a exclusividade do comércio na América do Sul. O problema, reforça o autor, é que a regulação foi bastante restritiva trazendo impacto negativo para o desenvolvimento da Inglaterra. Ela só foi derrubada 100 anos depois durante o estouro de outra bolha financeira, em 1825 que gerou novas reformas e regulações. 
 
O mesmo fenômeno o pesquisador identifica na Grande Depressão dos anos 30, na crise financeira japonesa dos anos 1990, na dos bancos nórdicos também nos anos 1990, na coreana de 1997, na bolha das empresas pontocom, na irlandesa de 2008, na americana de 2007 a 2009 e na crise imobiliária e financeira da Espanha. 
 
O autor observa que existe, portanto, uma espécie de movimento pendular na regulação. Quando uma crise estoura, o governo não consegue ser reeleito no pleito seguinte e a nova gestão impõe regras mais duras. Por sua vez, quando a economia melhora até ocorrer um boom, as regras são abrandadas abrindo condições para a criação de uma nova bolha. Assim, esse movimento pendular tem forte relação com o ambiente político e menos com a decisões burocráticas da regulação. 
 
Dos dez exemplos analisados, Dogher encontrou como ponto comum casos de corrupção, atuação de lobistas e aumento da interação entre governos e banqueiros. Além disso, quando o governo caia após um estouro da bolha a oposição vencia nas urnas com elevada margem de votos. 
 
“As ramificações políticas das crises não podem ser subestimadas. Crises financeiras muitas vezes geraram mudanças políticas significativas e intensa polarização”, completa. Acompanhe aqui matéria na íntegra no jornal Valor.
 
Redação

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