Serra propõe mudança nos indicadores da dívida pública

Enviado por andre sousa R

Da Carta Maior

A dívida pública na linha de tiro
 
Se o indicador proposto por José Serra fosse adotado, haveria um engessamento da União em matéria de política tributária e política fiscal.
 
Ceci Juruá
 
O Senador José Serra acaba de encaminhar parecer sobre a Emenda No. 1 de Plenário ao Projeto de Resolução do Senado No. 84/2007, que trata dos limites  da dívida pública da União, conforme determinado na Lei Complementar 101, a Lei de Responsabilidade Fiscal, e em disposições constitucionais.  O Senador é o relator desta Emenda No. 1,  no âmbito de comissão constituída no Senado em agosto último, a Comissão Especial para o Desenvolvimento Nacional.
 
No relatório, o Senador enfatiza o objetivo de reduzir, ao longo de quinze anos, o limite de endividamento da União.  Para o Senador este objetivo requer em primeiro lugar,  a troca de indicador, abandonando-se a relação dívida bruta/ PIB e adotando-se, como novo indicador, a relação dívida consolidada /receita corrente líquida.  Segundo o relatório, este novo indicador deveria passar dos atuais 5,6 para 4, no espaço de 15 anos.  Isto é, em 2030 a divida consolidada da União deverá ser de no máximo 4 vezes a receita corrente líquida federal.   
A justificativa apresentada para a troca do indicador consiste no argumento que é preciso incluir, como dívida da União, os títulos em carteira no Banco Central e todas e quaisquer operações entre o Tesouro e instituições financeiras estatais. São citados explicitamente BNDES, Petrobrás, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil. Tais operações são vistas pelo Senador como manobras contábeis que estimulam a lassidão fiscal, e graças a elas houve um forte aumento do endividamento público entre julho de 2014 e julho de 2015.
 
À primeira vista, os argumentos apresentados por Serra parecem atender às reivindicações dos mercados financeiros, interditando ao Tesouro socorrer-se de entes públicos do setor financeiro em situações justificadas pela conjuntura econômica, para fins de sustentação do crescimento e de minimização de efeitos deletérios provocados pela crise econômica internacional. Estas reivindicações foram claramente explicitadas no período eleitoral por correntes vinculadas ao projeto tucano. E ainda, foram rejeitadas nas urnas.  
 
Por outro lado, e mais grave, a troca sugerida de indicador pretende assimilar a União aos demais entes federados – estados, municípios e Distrito Federal, cujo limite de endividamento é dado por relação entre dívida e receita corrente líquida. Proceder desta forma significa desconhecer a singularidade da União em matéria de competências específicas, muito distintas daquelas que correspondem aos demais entes federados.  Cabe citar, a título ilustrativo, a responsabilidade de emitir moeda e de administrar as reservas cambiais do país. Na prática, o Senador parece desconhecer o capítulo sobre Organização dos Poderes da própria Constituição da República.
 
Por outro lado, merecem ser destacadas algumas qualidades do relatório, no que diz respeito à análise de fatos recentes.  Sua leitura permite em particular entender melhor certas questões conflitivas entre o Tesouro e os segmentos rentistas da economia brasileira a partir de 2011, situações em que as demandas do mercado não foram sancionadas pelo Governo, como foi o caso da taxa de juros SELIC. Por exemplo:
 
O Tesouro não rolava integralmente a dívida porque não aceitava os preços que o mercado estava disposto a pagar por seus títulos. Tendo em vista a crescente deterioração fiscal, os poupadores só aceitam comprar títulos públicos a taxas mais elevadas, que reflitam o risco representado por um Tesouro fragilizado. Este, por sua vez, não queria sancionar os preços oferecidos pelo mercado e se recusava a vender a quantidade de títulos necessária para rolar toda a dívida vincenda. (relatório de José Serra, Emenda N. 1 de Plenário/2015)
 
Observa-se, no trecho acima, que o Governo Dilma-Mantega tentou resistir à pressão dos rentistas por aumento da taxa de juros SELIC, e o fez monetizando parcialmente a dívida pública por ocasião de resgate dos títulos, o que acabou por reintroduzir o overnight. Nas palavras do prof. Nakano:
 
o Executivo pode ter déficits públicos ilimitados já que o Banco Central acabará financiando, com moeda indexada, isto é, no overnight, como já vem acontecendo crescentemente.  (artigo intitulado Deterioração conjuntural in Valor de 11 de setembro último)
 
Para concluir, nesse momento inicial do debate em torno da Emenda No.1, deve-se atentar para a possibilidade de o indicador proposto representar, ainda, um engessamento da União em matéria de política tributária e política fiscal.  Se adotado o indicador proposto por Serra, para limite da dívida pública, não haverá mais espaço para uma série de medidas tomadas recentemente em apoio ao mercado interno, tais como a desoneração da folha de pagamento e outras modalidades de subsídios à atividade econômica.  
 
De fato a receita corrente líquida depende do crescimento econômico, por um lado, mas também das dimensões de certos itens do gasto orçamentário.  Ficarão ameaçados, por exemplo, as despesas previdenciárias e os salários do funcionalismo, mas também as transferências constitucionais a outros entes da Federação, três itens do gasto público que concorrem para a redução da receita corrente líquida.  Em situações de estresse orçamentário e financeiro, a proposta de Serra poderá ter efeitos indesejados, ampliando os conflitos no interior dos aparelhos de Estado e da própria sociedade civil.  
 
Ceci Juruá é economista, doutora em política públicas, membro do Conselho Consultivo da CNTU.  Rio de Janeiro, setembro de 2015.
Redação

6 Comentários

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  1. A única coisa que o José

    A única coisa que o José Serra pode fazer neste momento é revisar seu plano de fuga. Ha, ha, ha… 

  2. SP votou na banca e não numa pessoa física…

    ..,,..

     

    tudo
    O Equador antes e depois de Rafael Correa: em vermelho os gastos com juros.,,em azul os gastos sociais.,,..através de uma auditoria viu-se que os banqueiros, com base em fraudes que vinham sendo praticadas há décadas, lhes cobravam o que não deviam.,,em 2011 o gráfico vermelho aumentou um pouco face a empréstimo verdadeiro recebido pelo pais e não papéis podres pra comprar estatais em alguma privataria.,, No Brasil que força seria capaz desbancar a banca e fazer como Rafael Correa fez no Equador: inverter o gráfico pagamento de juros vs gastos sociais. Correa fez uma coisa bem simples: instalou uma auditoria internacional da qual participou a brasileira Maria Lucia Fattorelli. A equipe descobriu que a divida era na verdade uma fraude e que o Equador devia de fato apenas 30% do que lhes era cobrado. Correa chamou os credores os quais aceitaram receber apenas aquilo que lhes era devido. Se o pais gastava 40% pagando juros e 10% com gastos sociais, isso foi invertido. O Brasil precisa fazer a mesma coisa, além de democratizar a midia e alterar esse sistema midiatico-penal que hoje serve a Casa Grande leia-se tucanos..,que partido teria condições de bancar isso, ou seja, desbancar a banca..,,.a Grécia capitulou?Por que ou ama Equador Rafael Correahttp://www.diariodocentrodomundo.com.br/por-que-o-equador-ama-rafael-correa/ Busca no Google sobre a experiência equatoriana – Clique aqui Brasil: uma imagem Link para os infográficoshttps://jornalggn.com.br/blog/antonio-ateu/crise-o-caminho-do-dinheiro

    Marina e Zé Serra concordam que se faça uma CPI dos Bancos, bem como a auditoria da dívida externa como ocorreu no Equador, quando houve uma inversão de gastos,,,… toda a riqueza produzida pelos equatorianos era destinada ao pagamento da dívida, com a auditoria viu-se que a dívida era produto de fraude, e o que era gasto com pagamento de divida virou gastos sociais.  Uma auditoria internacional constatou  a dívida da Grécia é decorrente de podres repasadas ao pais, o qual se viu obrigado  a pagar tais papeis com dinheiro vivo aos banqueiros e rentistas. O Equador encarou o problema e conseguiu que os credores concordassem  em receber apenas o que de fato lhes era devido, a Grécia fez tal auditoria da qual participou a brasileira Maria Lúcia Fattorelli, quando se constatou que a fraude repete o mesmo padrão em todos os países. No entanto a Grécia, sob pressão da banca, não conseguiu fechar um acordo para que pagasse apenas o débito real como ocorreu no Equador…,.., vê-se que não é fácil enfrentar os abutres que sugam a vida dos povos através de fraudes. Por seus compromissos com a banca, Marina e Zé Serra são os políticos que menos tem condições de encarar o problema da dívida

    https://jornalggn.com.br/noticia/serra-propoe-mudanca-nos-indicadores-da-divida-publica

    Ainda sobre a questão da dívida pública

    https://jornalggn.com.br/blog/jose-carlos-lima-spin/a-corrupcao-e-o-sistema-da-divida-2015-por-maria-lucia-fattorelli

     

  3. Marina e Zé Serra

    Marina e Zé Serra jamais concordarão que se faça uma CPI dos Banco.,,..a CPI já foi tentada por Marina e Zé Serra jamais concordarão que se repita por aqui o que foi feito no Equador,,..já tivemos por aqui CPI dos Bancos e da Dívida Pública, mas sem muita consequência para os fraudadores…,..quanto a auditoria da dívida externa, já há experiências mundo afora,  no Equador esse tipo de investigação resultou na inversão de gastos: se  toda a riqueza produzida pelos equatorianos era destinada ao pagamento da dívida, com a auditoria viu-se que a dívida era produto de fraude, e o que era gasto com pagamento de divida virou gastos sociais.  Uma auditoria internacional constatou  a dívida da Grécia é decorrente de podres repassadas ao pais, o qual se viu obrigado  a pagar tais papeis com dinheiro vivo aos banqueiros e rentistas. O Equador encarou o problema e conseguiu que os credores concordassem  em receber apenas o que de fato lhes era devido, a Grécia fez tal auditoria da qual participou a brasileira Maria Lúcia Fattorelli, quando se constatou que a fraude repete o mesmo padrão em todos os países. No entanto a Grécia, sob pressão da banca, não conseguiu fechar um acordo para que pagasse apenas o débito real como ocorreu no Equador…,.., vê-se que não é fácil enfrentar os abutres que sugam a vida dos povos através de fraudes…,..o jogo é pesado, sendo que há suspeitas de que as manifestações de junho de 2013 tenha, dentre outras causas, o fato de Dilma ter baixado os juros ao patamar de 5%(https://jornalggn.com.br/blog/iv-avatar/marina-a-sem-partido-que-caiu-do-ceu-para-os-rentistas), quando a banca rompeu com o governo, o qual  posteriormente cedeu os anéis para não perder os dedos. Uma coisa é certa: por seus compromissos com a banca, Marina, Zé Serra e congêneres são os menos credenciados para encarar o problema da dívida.

     

  4. Perguntinha básica…

    “Segundo o relatório, este novo indicador deveria passar dos atuais 5,6 para 4, no espaço de 15 anos.”

     

     

    Para se chegar a esse indicador, só vender a Petrobras, o Banco do Brasil e um pedação da Caixa será suficiente?

     

    Claro, o Serra nem pensou nisso…

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