Afrouxamento monetário: sentido correto mas força insuficiente, por Diogo Costa

Afrouxamento monetário: sentido correto mas força insuficiente

por Diogo Costa

O Banco Central do Brasil se movimentou corretamente na última quarta-feira, quando baixou a taxa básica de juros da Selic em 0,75% pontos percentuais – para 13% ao ano.

O sentido é correto mas o afrouxamento monetário ainda está longe das necessidades que o país precisa para retomar a atividade econômica após dois anos consecutivos de violenta recessão.

A queda na taxa de juros, da maneira como ocorreu, sinaliza um certo desespero – ou finalmente lucidez? – do governo golpista para reativar a economia esfrangalhada.

Ainda mais quando se sabe que o atual processo de desinflação ocorreu não pelo aumento do investimento público e privado, para aumentar a oferta na produção de bens, mas sim por uma colossal escalada na taxa de desemprego (acompanhada pelo aviltamento da massa salarial). Destravar o consumo e o investimento é urgente.

No quesito taxa real de juros – que é o que de fato importa para trabalhadores, empresários e investidores -, a queda nominal para 13% ao ano infelizmente terá um efeito mínimo. Vejamos:

1. Taxa anual e real de juros – ex post – no Brasil (2008 a 2017)

-2008: 6,2%

-2009: 5,6%

-2010: 3,8%

-2011: 4,9%

-2012: 2,4%

-2013: 2,3%

-2014: 4,3%

-2015: 2,6%

—————-

-2016: 7,4%

-2017: 6,4%¹

Pela previsão do mercado, expressa no relatório Focus do Banco Central, a taxa real de juros do país – em 2017 – continuará a ser a maior desde o ano de 2008 (ano que marca o início do Crash – Crash de 15 de setembro de 2008).

A seguir vamos mostrar o histórico das taxas reais de juros no país. A já referida taxa real de juros é obtida através da média nominal de juros de um período menos a inflação do mesmo período (equação de Fisher). O parâmetro utilizado é o da taxa real ex-post de juros.

– Histórico recente e anual das taxas reais de juros no Brasil –

1) Governo FHC (1995 a 2002)

1.1 Primeiro mandato

-1995: 25,1%

-1996: 16,0%

-1997: 18,5%

-1998: 22,2%

-média simples do primeiro mandato: 20,4%

 

1.2 Segundo mandato

-1999: 14,3%

-2000: 11,0%

-2001: 9,1%

-2002: 5,9%

-média simples do segundo mandato: 10,0%

 

1.3 Média simples nos mandatos de FHC: 15,2%

 

2) Governo Lula (2003 a 2010)

2.1 Primeiro mandato

-2003: 13,0%

-2004: 8,2%

-2005: 12,7%

-2006: 11,8%

-média simples do primeiro mandato: 11,4%

 

2.2 Segundo mandato

-2007: 7,3%

-2008: 6,2%

-2009: 5,6%

-2010: 3,8%

-média simples do segundo mandato: 5,7%

 

2.3 Média simples nos mandatos de Lula: 8,5%

 

3) Governo Dilma (2011 a 2015)

3.1 Primeiro mandato

-2011: 4,9%

-2012: 2,4%

-2013: 2,3%

-2014: 4,3%

-média simples do primeiro mandato: 3,4%

 

3.2 Segundo mandato

-2015: 2,6%

 

3.3 Média simples nos mandatos de Dilma: 3,3%

 

4) Governo golpista de Temer (2016)

-2016: 7,4%

 

5) Médias simples da taxa real de juros no Brasil

5.1 Média simples nos mandatos de FHC: 15,2%

5.2 Média simples nos mandatos de Lula: 8,5%

5.3 Média simples nos mandatos de Dilma: 3,3%

5.4 Média simples nos governos do PT: 6,4%

5.5 Média simples no pós Plano Real: 9,7%

O fantasma do desemprego e da convulsão social certamente fará com que o Banco Central afrouxe ainda mais a política monetária daqui para a frente. Mas essa política leva tempo para fazer efeito.

Tempo este que não impedirá o triste aumento do desemprego neste ano da graça de 2017.

¹ Perspectiva atual de acordo com as previsões do mercado (Relatório Focus do Banco Central do Brasil).

 

 

Redação

8 Comentários

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  1. ”’O sentido é correto mas o

    ”’O sentido é correto mas o afrouxamento monetário ainda está longe das necessidades que o país precisa para retomar a atividade econômica após dois anos consecutivos de violenta recessão.”

    Duas observações:

    a – Se o sentido está correto,porque incorreto estava.

    b- Está longe das necessidades ?  E quem o deixou longe ?

  2. Juro real

    Diogo

    Muito oportuna essa estatística sobre a taxa de juros real, desde o primeiro mandato do FHC.

    Minha primeira surpresa foi o juro real de 2,6% em 2015. Fui checar e realmente deu 2,6%.

    Entretanto, com uma taxa de juro real relativamente baixa em 2015, a conta de juros passou de 4,4% do PIB em 2014 para 6,7% do PIB em 2015, um aumento de 50%.

    De onde veio esse extraordinário aumento da conta de juros e da dívida bruta em relação ao PIB, de 54% para perto de 70% (estou citando números de cabeça)? 

    Isso precisa ser explicado. Parte veio do prejuizo com swaps cambias, para proteger o câmbio e da manutenção das reservas cambiais. 

     

    1. .

      Caro Ferruccio Gobbo:

      1. A conta dos juros acompanha a variação dos juros nominais e não dos juros reais

      2. A conta da dívida pública acompanha a questão do déficit primário (tivemos déficit primário em 2014, 2015 e 2016 e teremos também em 2017, 2018, 2019 e talvez até mesmo em 2020)

      1. 1.       A conta de juros é

        1.       A conta de juros é nominal, mas a comparação com o PIB desconta a inflação, e esta comparação mostra que, em 2015, a conta de juros subiu 50%, em termos reais, de 4,4% do PIB para 6,7%.

        2.       A conta da dívida pública acompanha o déficit nominal. O déficit nominal em 2015 foi de R$ 620 bilhões, sendo R$ 118 bilhões devido ao déficit primário e R$ 502 bilhões devido à conta de juros (81% do déficit nominal). Em outras palavras, a dívida bruta sobe principalmente devido à taxa de juros.

        3.       Vale lembrar que a conta de juros não inclui somente juros sobre os títulos públicos, inclui custo com as reservas cambiais e custos com swaps cambiais.

        Eu fiz uma simulação de uma queda da Selic de 13% para 9% no fim de 2017, e uma queda da inflação para 5%. A taxa de juros real média seria de 6,5% a.a. para 2017. Em outras palavras, não vai ter a queda substancial de juros anunciada pelo governo.

        Assumindo que a taxa básica de juros tem uma relação com o tamanho da dívida pública, fica difícil acreditar que teremos redução dos juros nos próximos anos, considerando que a dívida pública irá crescer, em relação ao PIB,  até 2019/2020.

  3.  Sobre a B :
    E o anteassor

     Sobre a B :

    E o anteassor dele, não?

    Vc acha que MANTEGA foi ministro ou um boneco nas mãos de Dilma ?

     Essa é fácil de responder;

    Não escorregue.

    Assim  sendo, qual era o ministro que tinha autonomia no governo Dilma ?

    Não responda NENHUM pórque é óbvio demais.

    Se vc responder,tenho outras perguntas cabeludas mas intrigantes.

        TOPA ?

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