Banco Central independente, por Henrique Meirelles

Enviado por Anarquista Sério

Da Folha de S. Paulo

Ancorando o debate

Por Henrique Meirelles

Participo de discussões com investidores globais nas quais são analisados vários países. Anos atrás, quando falávamos do México, foi pontuado que era ano eleitoral e existia grande chance de vitória de candidato presidencial populista.

Apesar disso, os investidores mostraram tranquilidade. Como o Banco Central do país era independente e seu presidente e diretores tinham mandatos longos à frente, não havia a possibilidade de um novo chefe de governo alterar substancialmente, num único mandato, as decisões sobre política monetária ou cambial.

O ponto central no intenso debate sobre a decisão do BC brasileiro de manter a taxa de juros inalterada é a autonomia da instituição. A controvérsia foi resolvida de forma permanente e simples na maioria das economias relevantes via instituição da independência legal do BC –o que significa na prática que a sua diretoria terá mandatos estabelecidos por lei para cumprir os objetivos formulados pelo Executivo.

E por que muitos países adotaram a medida em lei? A razão é clara: embora a inflação baixa seja muito popular, medidas de combate à inflação podem ser no curto prazo impopulares. A defasagem de tempo entre o aumento dos juros e a queda da inflação é grande. E passa muitas vezes por queda da atividade econômica, o que poucos políticos querem assumir.

O problema colocado é que o Brasil está em recessão e o desemprego cresce –fatores que em geral levam à queda da inflação ou deflação. Mas nossa inflação é alta.

Nessa difícil conjunção, é inevitável debater se o BC deve subir mais os juros. Economistas competentes argumentam que, com inflação e expectativa de inflação altas, o único caminho é subir os juros, o que ajuda a criar a estabilidade necessária ao crescimento. Outros economistas reputados dizem que, dada a recessão, a inflação convergirá à meta nos próximos anos.

Em qualquer circunstância, porém, não há dúvida de que é fundamental dar ao BC a capacidade de ancorar as expectativas inflacionárias e assim conter reajustes inerciais. E aí voltamos à independência. Ela elimina eventuais desconfianças de que influência política com interesses de curto prazo impediriam o BC de tomar as medidas mais adequadas.

A solução encontrada até agora em diversos países para resolver esse problema de forma permanente e impessoal foi dar independência ao BC. Isso não só elimina boa parte das dúvidas como despolitiza a discussão, que fica mais técnica.

É raro em países com BC independente ver políticos importantes querendo influenciar decisões sobre juros. Nesses países, os números mostram maior confiança e eficiência na condução da política monetária, o que eleva seus benefícios a toda a sociedade. 

Redação

27 Comentários

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  1. Seria o mesmo que. ….
    Colocar as raposas pra tocarem o galinheiro. …
    Em pais sub, não rola….
    Apesar de que seria uma oportunidade pra ocorrer o Armagedon e após o juízo final de nossa economia, teríamos a legalidade para usar a guilhotina rm várias das cabeças coroadas que hoje dão as cartas no Brasil. ..

  2. O artigo parte da premissa de

    O artigo parte da premissa de que aumento de juros é o ÚNICO e SAGRADO remédio para combater a inflação, o que não é verdade,já que os juros subiram substancialmente nos últimos meses e a inflação também.

    Seria interessante se o autor pudesse explicar como os juros poderiam atuar sobre uma inflação causada pelo aumento dos preços administrados (energia e gasolina) e pela desvalorização da moeda.

  3. É a comissão de sindicalistas, independente, que

    definirá o valor do salário? Proponho criar essa comissão, pois com o risco da eleição de direitistas, fica garantida a grande maioria da população contra o arrocho salarial.

  4. O Henrique Meirelles chama de

    O Henrique Meirelles chama de competentes economistas que apresentam apenas o aumento dos jutos como forma de combate à inflação. Ora, se a inflação fosse de demanda até acredito que poderíamos ter um arrefecimento do aumento dos preços em função da elevação da taxa, mas não é o nosso caso. Estamos com a demanda em queda e a inflação não cede. Segundo penso, o fenômeno está muito mais ligado ao desequilíbrio fiscal, à campanha exarcebada da imprensa contra qualquer medida do governo e aos crescentes custos decorrentes da desvalorização do real. Claro que como todo bom rentista e suas vinculações políticas e doutrinárias este senhor está defendendo o lado de seus aliados e amigos do peito. É aquela história, farinha pouca, meu pirã primeiro. Esta história de Banco Central legalmente independente é conversa ole para boi dormir. Trata-se de maneira de grupo minoritário da elite empresarial comandar os destinos da moeda e as implicações que isto acarreta para a vida das famílias. Não nos enganemos, se tal medida fosse solução o Governo Lla não teria tido o sucesso que teve no controle da inflação. Seria o caso de perguntar ao Ilustre rticulista, como é que ele sem ter mandato fixo e liberdade legbal de comando da moeda teve tanto sucesso durante o governo do “apedeuta”  metalúrgico? Será que ele é mágico? Botem esta corja para trabahar para o Brasil e não para interesses sabe-se lá de quem!!!

  5. Fica sempre a perguntinha
    Fica sempre a perguntinha básica:
    Independente de quem?
    O texto responde claramente, de governos populares. Pequenos grupos em postos chaves são facilmente “tornados dependentes” pela banca que o escriba representa.
    Farinha pouca, meu pirão – sempre!

  6. Criação de ruído.

    Fica claro no momento que diversos interesses estão presentes nesta discussão. De um lado os que querem de qualquer forma , e utilizando qualquer fato, fazer uma campanha contra o governo  e de outro interesses financeiros que foram de alguma forma contrariados com a decisao do BC.   Isto tudo gera um ruido enorme e se cria um foco que é de há muito bandeira de certos grupos  que defendem a independência do Banco Central.

    Utilizando as palavras do próprio articulista se vê que a noção de autonomia e independência está longe de ser única.

    …………….. independência legal do BC –o que significa na prática que a sua diretoria terá mandatos estabelecidos por lei para cumprir os objetivos formulados pelo Executivo.

    Se formos coerentes com esta definição  é extremamente importante que o BC converse com o executivo, mormente num momento de crise e possíveis guinadas  na política economica.

    Do outro lado o proprio articulista recai no velho discurso de que as decisões devem ser técnicas , como se a economia fosse apenas técnica.  Este termo é curioso para um assunto como a economia que obviamente não é apenas técnico. A ecnomoia  é ideológica , é política e  extremamente interpretativa. Obervem  que  o aumento de juros taõ defendido por alguns não teve nenhum efeito sobre a inflação, mas um grande efeito sobre a recessão. Ainda assim há os que defendam um aumento de juros. Se inocentemente eu acreditar que o façam porque acreditam técnicamente neste modelo  ( e não nos lucros) eu diria que este modelo , que se pretende ser tecno- científico está sendo contestado pela realidade. Neste cso critérios técnicos ou científicos diriam que ele deveria ser abandonado.  Mas é claro que não funciona  assim, o que torna a desculpa técnica uma mera retórica.  Na frente das câmaras estes grupos falam em autonomia, mas na verdade querem controlar o BC .

          Isto tambem me leva a pensar que  este ruído todo,  sobre a decisão do BC, é de um lado a frustação de parte da BANCA  que pretendia aumentar seus lucros  e  controlar o BC e a campanha de desestabilização     política do país.

    1. Exatamente

      Eu ia comentar extamente sobre essa frase grifada do texto: “para cumprir os objetivos formulados pelo Executivo”

      Ora, como cumprir com esses objetivos com um BC independente da influência do próprio Executivo?

      E como definir os objetivos do Poder Executivo, nesse contexto, se esses objetivos são alteráveis de acordo com o perfil político de cada gestão?

      Outra coisa, o que é exatamente uma decisão técnica? A que agrada a banca, a ideologia liberal, ou a produtiva, eis a questão.

  7. indepndente do cidadao e comandado pelos donos do dinheiro

    A farça ee a açao comum dos economistas testas de ferro do mercado financeiro

    O Diabo ee o mestre deles: Vieram ao mundo pra enganar e levar p homem a auto desttuiçao

     

    E ate engraçadp; tudo que a Boblia diz sobre a figura do duabo de aplica a essa gente

    2008 foi o ano que qurbrou o mito dessa tal ‘independencia”

  8. A política do BC falhou na

    A política do BC falhou na sua meta de controlar a inflação e na cartinha do Tombini tentou evadir de suas responsabilidades, se não fosse o relatório do FMI para desdizer o BC continuava a subida de juros como se estivesse em 1994. A única carta que o Tombini merecia ter escrevido é a de demissão.

  9. E………………..

    Querem é mais lucros, e não importa o equilibrio das nações nem a  situação financeira do povo.

    Os abutres e sanguessugas já disseram: “Deêm-me a chave do cofre, e não me importa qual a ideologia” !!!!!!!!!

    Vide a situação da Grecia ?

    Querem mais ?

  10. Está certíssimo o Meirelles – que seja, sim, Independente….

    ….. independente DO MERCADO, caro Henrique Meirelles. 

    1) Onde já se viu diretor de Política Monetária do Banco Central do Brasil ser cantado pelos bancos e endossado pelos analista Sardenbergs? 

    2) O corpo decisório de autoridade monetária precisa ser ISENTA, estar ACIMA dos interesses. 

     

     

  11. Esse banqueiro é uma piada.

    Esse banqueiro é uma piada. Independente de quem, cara pálida? Se for independência dos banqueiros assino embaixo. Mas se for independência de governos legitimamente eleitos, só tenho a dizer ao Sr Henrique Meirelles: vá para o diabo que o carregue e leve os banqueiros do Copon junto!

  12. Se é pra ser independente,

    por quê não torná-lo um cargo elegível pelo voto direto e secreto do povo?

    Aí teríamos outro problema: quem poderia se candidatar ao cargo? Dêem exemplos de nomes…

    Esse candidatos seriam filiados a partidos políticos ou viriam do Judiciário, do Ministério Público, que se consideram os únicos incorruptíveis no País?..

    Assistam ao filme The Big Short e tenham uma noção de como funciona essa máfia que é o sistema financeiro. Agências de risco que vendem ratings, sistema regulatório inexistente, falcatrua em cima de falcatrua. E nós aqui tentando entender, acreditando que existe honestidade de propósitos nesse meio.

    Sofremos hoje com a enorme dificuldade que o governo Dilma tem de escolher ministros. Desde os que vão pro STF, MPF, até os Pansera e os Zé da Justiça da vida, não tem mais ministro digno do nome no Governo? Pô, onde já se viu por um funcionário do BC na presidência? Vai ser republicano assim lá na China pra ver o que acontece…

     

  13. O movimento do BC nada Mais é
    O movimento do BC nada Mais é do que uma oportunidade, para quem o controla, chantagem a sociedade brasileira.

    O autor do artigo é o porta voz da proposta.

  14. Mais uma chantagem

    Independente? Como assim? Parece que os liberais entreguistas querem que independencia só da pressão da sociedade, mas não quer independencia da pressão dos rentistas e do setor financeiro, que é quem controla e influencia as decisões do Banco Central. Meirelles, fala sério… Você precisa entender o que é desemprego. Mas antes você precisa entender o que é trabalhar…

  15. Evidência

    Qualquer pessoa, mesmo com apenas mediana capacidade de raciocínio, constata que o mercado financeiro e os rentistas em geral são inimigos da democracia. Ou seria outra coisa querer que os bancos centrais sejam independentes dos governos eleitos pelo voto da maioria? Ou seria outra coisa querer que os tais bancos sejam dependentes, apenas, do mercado financeiro e dos rentistas?  

  16. Vamos conversar?

    Ele falou em mandato mas não falou em eleição, em campanha eleitoral, nem quem se candidata e nem quem vota.

    Se é para ser independete e autonomo, tem que ser eleito pelo povo, o que acaba por fazer desta eleição mais importante do que a do chefe do executivo.

    Quer independencia e autonomia nesses termos? 

    Vamos coversar…

  17. Um jênio
    “É raro em países com BC independente ver políticos importantes querendo influenciar decisões sobre juros.” You don’t say! Nem o capitão óbvio conseguiria ser tão brilhante.

    Decisões técnicas é o escambau, o missivista quer é que o mercado financeiro tenha o monopólio das influências sobre a política monetária, nem que isso custe 100% da arrecadação de impostos. O céu é o limite. Gente irresponsável e sem caráter.

  18. Eu não sei como alguns

    Eu não sei como alguns cidadãos podem preferir um Banco Central sob o comando de políticos e servindo a interesses políticos.

    Mas tudo bem, esses caras devem gostar que sujeitos como o próprio autor do texto, ou o Armínio Fraga, ou até mesmo o Alexandre Schwarstmann sejam captados diretamente no sistema bancário, investidos no cargo de presidente ou diretor do BCB e depois de um período voltem ao sistema bancário para colher o fruto de suas políticas no BC.

    Só um imbecil acredita que esse sistema é melhor do que você ter funcionários de carreira no comando do BC.

     

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