Desindexação vai permitir meta menor da inflação, afirma Mantega

Do O Globo

Mantega: desindexação permitirá meta de inflação menor no futuro
 
Segundo ministro, efeito das chuvas nos preços dos alimentos já está se dissipando
 
CRISTIANE BONFANTI
ELIANE OLIVEIRA 

BRASÍLIA – O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse nesta terça-feira, em entrevista à TV Brasil, que quando não houver mais desvalorização do real frente ao dólar e,portanto, a pressão inflacionária for menor, o governo poderá retomar a tarefa de desindexação da economia. A indexação é o sistema de reajuste de preços com base em índices passados, o que realimenta a inflação. Ele acrescentou que, no futuro, também será possível trabalhar com uma meta de inflação menor, de 3% a 3,5% ao ano. A meta atual é de 4,5%, com margem de dois pontos percentuais para cima e para baixo.

— A economia se habituou a ter correções automáticas. Temos de desindexar a economia.

Mantega destacou a autonomia do Banco Central. Disse que esse status garante mais liberdade para a autoridade monetária decidir sobre a elevação ds juros, por exemplo.

— A autonomia do Banco Central é importante, para que [o BC] possa fazer as maldades que são necessárias — brincou.

‘Preços já estão caindo’

Mantega afirmou que os preços de produtos no Brasil, inclusive os de alimentos, começaram a cair e garantiu que em junho a inflação estará em um “patamar mais tranquilo”. Em resposta a uma diarista, na estreia do programa Espaço Público, na TV Brasil, o ministro afirmou que a inflação é sazonal, subindo todos os anos e, depois, voltando ao “seu patamar normal”.

— Eu garanto que os preços já estão caindo, inclusive os preços dos alimentos. Eles subiram agora em março em função de uma questão sazonal e também porque houve diminuição das chuvas no Brasil. Isso aumenta os preços dos hortifrutigranjeiros. Portanto, já teremos agora em abril uma inflação menor e, em maio, menor ainda que em abril, de modo que em junho a inflação estará num patamar mais tranquilo — disse o ministro.

Mantega disse ainda que a maioria dos trabalhadores está ganhando salários maiores.

— Mesmo que tenha inflação, e nós não queremos inflação, combatemos sempre a inflação, tomamos todas as medidas necessárias, mas infelizmente existem surtos inflacionários por muitas razões. O importante é que o governo combate esses surtos — disse Mantega, que ressaltou que o Brasil, nos últimos 10 anos, não ultrapassou o teto da meta de inflação, de 6,5% ao ano.

Gastos do governo

Questionado sobre a expansão dos gastos do governo e seu impacto na inflação, Mantega citou fatores que pressionam os preços – como a ocorrência secas no mundo e a desvalorização do real — e disse que, todos os anos, o governo tem economizado para pagar juros da dívida pública, o chamado superávit primário.

— Ano passado, economizamos R$ 88 bilhões. Nos anos que se passaram, todos os anos, fizemos superávit pelo menos de 1,8%, 1,9% do PIB — disse. — Antes da crise, fazíamos superávits maiores. Em 2008, fizemos quase 4% de superávit primário. O governo tem poupado a cada ano e não é o gasto público que tem pressionado a inflação — acrescentou o ministro, que observou que, em períodos de pressão inflacionária menor, é possível fazer um superávit maior.

Ele reiterou a autonomia do Banco Central para elevar ou reduzir a taxa básica de juros (Selic):

— O Banco Central tem autonomia, decide quando tem elevação da taxa de juros. Também decide quando a taxa de juros vai ser reduzida. Assim como pode subir, um dia pode descer. Em pleno ano eleitoral, o Banco Central elevou em 3,75 pontos percentuais a taxa de juros no Brasil — disse.

— Eu acho que uma autonomia do Banco Central é importante para ele fazer as maldades que são necessárias — disse Mantega.

Críticas de Delfim Netto

Questionado sobre as críticas do ex-ministro Delfim Netto sobre a chamada “contabilidade criativa” – o uso de manobras contábeis para fechar a meta de superávit primário -, Mantega disse que Delfim Netto sempre merece ser ouvido, embora o governo nem sempre deva concordar com ele. Mantega explicou que as críticas que o governo recebeu devem-se ao fechamento das contas em 2012, quando o governo enfrentou dificuldades para cumprir a meta de superávit. Naquele ano, lembrou Mantega, o Tesouro recorreu ao Fundo Soberano, criado em 2008 como uma poupança pública do país.

— Usamos o fundo Soberano. Ele (Delfim Netto) fez duas críticas. Acho que, talvez, ele exagerou um pouco, mas ele tem bastante conhecimento de contas públicas — disse Mantega.

Ele observou que todas as contas do governo são aprovadas pelo Tribunal de Contas da União, mas afirmou que, depois das críticas relacionadas ao fechamento das contas em 2012, o governo tem realizado um grande esforço para tornar as contas ainda mais transparentes.

Consumo

Mantega afirmou que os bancos privados não estão liberando crédito para os consumidores brasileiros, o que se refletiu na queda dos financiamentos para automóveis e na concessão de empréstimos consignados (com desconto na folha de pagamentos). O ministro disse que “alguns abusos foram cometidos em 2009 e em 2010”, com a liberação de muito crédito por parte do setor privado, o que causou inadimplência. Mantega considerou, porém, que a inadimplência está em um patamar bastante confortável e que o consumo “já apresenta condições seguras”.

— O investimento está crescendo justamente porque tem crédito para o investimento. Então, tem crédito para investimento e não tem para consumo — afirmou.

— Não pretendo fazer nenhum movimento com os bancos públicos para resolver esse problema (da falta de crédito para o consumo) — disse Mantega.

Mantega reconheceu que cometeu erros durante sua gestão – ele se tornou este ano o ministro mais longevo do período democrático -, mas disse preferir lembrar mais os acertos que os erros. Ele afirmou que pode não ter estimulado adequadamente a indústria.

— Talvez não tenhamos feito a desvalorização adequada, que desse competitividade para a indústria em 2011 e em 2012. Mas é que a gente sempre olha as consequências do outro lado. Se você faz uma desvalorização muito forte, depois você tem uma pressão inflacionária e isso pode cair por terra. Talvez tenha sido essa, digamos, talvez a falha que eu tenha cometido, o que me vem à cabeça. Certamente, cometi outras, mas estou aqui com amnésia a essa altura da noite — disse o ministro.

Mantega avaliou que a perspectiva é de melhoria da economia internacional. Afirmou também, que, no que diz respeito aos discursos da oposição, há declarações sobre a realização de um governo mais severo, com medidas antipopulares e de cortes de despesas do Estado. 

— Vão cortar tudo. Não sei o que vão fazer. Terra arrasada, talvez. Está havendo muita incoerência nas declarações dos candidatos — considerou Mantega, que acrescentou não entender a política econômica que a oposição pretende fazer.

 

Redação

5 Comentários

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  1. Globo entrevistando Mantega e

    Globo entrevistando Mantega e publicando a fala positiva do ministro?

    A velha técnica de malhar e recuar quando os números reais chegam.

    1. IBGE mostra sinal de

      IBGE mostra sinal de enfraquecimento da inflação no período pré-eleitoral
       

      ippibge

      Saiu hoje uma pesquisa muito mais preocupante para a oposição que as de intenção de voto.

      Que, aliás, adotaram a tática da metralhadora: uma por semana, para manter o clima de “queda” do favoritismo de Dilma Roussef.

      A pesquisa que faz os conservadores torcerem o nariz é outra: a do Índice de Preços ao Produtor, que mede a variação do custo das matérias primas e bens intermediários – necessários à produção de outros bens – comprados pelas indústrias.

      E ele foi de -0,22%, revertendo uma sequência de altas expressivas que vinha desde outubro passado e que teve seu pico na seca do mês de janeiro.

      A queda nestes preços significa um pressão negativa sobre o preço dos produtos  ao consumidor final mais adiante.

      No final da semana sai o IPCA, que deve vir em torno de 0,7% e  a grita será de que a inflação estará perto de “estourar” a meta de 6,5% no acumulado de 12 meses.

      Como em relação às pesquisas eleitorais, a tética é a de manter a pressão.

      Vocês vão ler, cada vez com mais frequência, que o preço dos serviços está aumentando com a Copa.

      Como disse Dilma Rousseff, na sua fala do 1° de maio, o pessoal do “quanto pior, melhor”  está com a corda toda.

      http://tijolaco.com.br/blog/?p=17260

  2. Estréia do Programa “Espaço Público” da TV BRasil

    A entrevista foi concedida durante o programa “Espaço Público” inaugurado ontem na TV Brasil. O entrevistador é Paulo Moreira Leite. A proposta é entrevistar, durante uma hora e meia, convidados do programa, às terças-feiras, com início às 22:00h. Assisti à entrevista e percebi o Ministro Mantega muito seguro, além de otimista (sua característica) em relação à economia do país. Notei segurança em suas análises. Não vejo a poítica econômica guiada pelo Ministro Mantega sem rumo, após ouvi-lo nessa entrevista.

  3. Assis, cara, a entrevista foi

    Assis, cara, a entrevista foi na tv pública – TV Brasil. Ocorre que as boas informações recolhidas do ministro e publicadas no Globo foram decorrência da maestria do entrevistador – Paulo Moreira Leite – que não tem nenhum viéis… rsrs

  4. Baixar os juros básicos e

    Baixar os juros básicos e cruzar a ‘linha vermelha’ que protege os lucros do financismo? k k k k k k k k k k.

     

    É o mesmo que a Rússia anexar a Criméia e não sofrer as represálias dos EUA – os donos do mundo.

     

    O ministro deveria dizer que o governo faz investimento e que gasto do governo é pagamento dos juros de uma dívida que não foi auditada até hoje.

     

    Aff!

     

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