Do Valor
Para Lopes, pessimismo do mercado é “equívoco”
Por Denise Neumann e Flavia Lima
Valor: Quais?
Lopes: A crítica que o PT faz, e que chama de posição dos financistas, é dizer que essa história de que o mercado vai gerar o melhor dos mundos parece com aquela do Delfim [Netto] de crescer para redistribuir depois. O mercado diz, se o Brasil virar Chile, em vez de 3%, vai crescer 4%. Ele diz, eu não quero isso. Para o governo, para os 20% mais pobres é melhor fazer uma redistribuição de renda na marra usando o Estado. Aí, a renda dele vai crescer 6% ou 8%, e não 3%. E isso é inegável: o governo do PT está fazendo uma redistribuição muito intensa de renda. É só pegar o Bolsa Família, a política de reajuste de salário mínimo, que é uma política de indexação que aumenta a inflação. Essa intromissão do governo na atividade não é incólume. Eu chamaria essa concepção de política econômica do governo do PT de socialista, que é diferente da concepção liberal moderna.
Valor: Dá para combinar isso com o tripé macroeconômico?
Lopes: Algo que me deixa otimista em relação ao governo do PT é que apesar dessa concepção socialista ele não rompeu com a base institucional criada pelo governo FHC. No regime de metas de inflação, a ideia é focar os 4,5% para criar estabilidade de preços. Aí o governo do PT olha que 6,5% é o máximo e decide que vai trabalhar no máximo. E a mesma coisa na área fiscal. Vejo o governo do PT tentando levar ao máximo a condução da política econômica, claramente com o objetivo de redistribuir renda, de, como diz a Dilma, fazer um país de classe média. Ainda que o custo seja ter um período maior de inflação alta, ou uma posição de dívida pior. Em vez de reduzi-la para 20% do PIB fica em 35%. A questão que se coloca é se isso é sustentável. Em que medida posso fazer uma política de testar os limites sem que isso destrua a estrutura. O que vejo de ruim é que há um governo com uma concepção socialista e com uma falta de convicção de tornar isso claro. Falta explicitação.
Valor: E essa explicitação pode vir em 2014, durante as eleições?
Lopes: Não. E aí vamos ver o que vai acontecer. Se muda o governo ou não.
Valor: Mas se o PIB for mais para 3% não ajuda a reeleição?
Lopes Não sei. Se a inflação estiver em 6,5%, o governo consegue se reeleger?
Valor: Mas o sr. não parece apreensivo com a possibilidade de reeleição…
Lopes: Acho que se o governo se reeleger significa que a sociedade fez uma opção por uma política econômica socialista diante de uma alternativa liberal. E a política socialista tem riscos. Vivemos em um mundo em que a avaliação do exterior usa o mesmo parâmetro liberal moderno. Então, o Brasil pode perder rating, pode ser rebaixado. E isso pode ter consequências, pode haver um ataque especulativo contra o real. O Brasil não é China, não é Coreia do Norte. Então, se o país começa a desenvolver uma política muito diferente do normal, pode perder capacidade de atrair investimentos, certamente vai perder reputação na área financeira. Mas aí acho que se sobressai a importância da base institucional criada pelo governo FHC. O PT é um partido que tem um projeto socialista que não foi abandonado. Vamos parar com essa história de que o PT mudou e que é favor do Consenso do Washington. Nunca foi e nunca vai ser. Se isso termina em desastre? Acho que não. Na medida em que o governo fica tentando redistribuir renda, mas mantendo austeridade, operando no limite ao respeitar as regras do jogo.
Valor: O sr. vê o Aécio ou o Eduardo Campos sendo mais ortodoxos na condução da economia?
Lopes: Não sei. Acho que o Aécio tem dado sinais de voltar a uma política mais ortodoxa como proposta no governo de FHC. E acho que está correto. É bom para o país voltar a privilegiar o combate à inflação, a austeridade fiscal, privatização. Do mesmo jeito que acho que a oposição, ao fazer isso, está realçando qual o DNA do PT, que é redistribuir renda, mesmo que envolva mais inflação, mais intervenção de governo. Quanto ao Eduardo Campos e a Marina, não sei o que vão propor. Tem esse lado da economia verde. Mas seria útil se o debate sobre a concepção de política econômica fosse colocado. Mesmo que não tenha efeito em 2014, pode ter para 2018.
Valor: O sr. abandonou a ideia de escrever um livro sobre a passagem pelo BC?
Lopes: Estou escrevendo um livro sobre psicanálise. É meu hobby e já tenho dois terços dele. Só não sei como vou fazer quando for lançá-lo. Ele é divertido, não tem nada a ver com economia. A economia acadêmica ficou muito chata.
Valor: Ao mergulhar na psicanálise conseguiu ver algo diferente na economia?
Lopes: Boa pergunta. Na economia não sei, mas nos economistas certamente. Passei a entendê-los melhor.
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Rara boa entrevista no “valor”
Agora as respostas do F. Lopes são bem melhores que as perguntas…
Acho que ele tocou em pontos fundamentais
1 – política cambial na saída da crise em 2009: foi um crime contra o pais do H. Meirelles só para fazer ganhar os seus amigos banqueiros de investimentos. E foi reincidência do que ele, junto com Palocci fizeram em 2003-4.
2 – PIB vs PNB: ele não especificou mas fato é que os “pibinhos” cantados pela mídia não batem com o desemprego baixo e ainda caindo. Sugiro alguem fazer a medição de crescimento do PNB (incluindo os efeitos do comercio exterior + Import – Export) e talvez veremos números mais coerentes. E sem precisar de PhD’s no IBGE…
3 – Comunicação (péssima) e (falta de ) firmeza de política do Ministério da Fazenda: isso o Nassif tem falado muito disso há meses. Faltam convicções e um plano de 3-4 anos nas contas públicas.
Como o previsto
Toda vez que o BC vai tentando mudar a politica de divida publica sempre aparecem os ex-presidentes do BC representantes da agiotagem do passado tão tão distante falando lorota
Como cara pálida que divida publica liquida é para camuflar alguma coisa?
Se comparar ao governo do qual você foi ex-presidente tanto no bruto quanto no liquido a coisa era um grande lavanderia.
Goste ou não, pelo menos ele
Goste ou não, pelo menos ele define o seu lado, se posiciona, não fica fazendo “terrorismo” político-eleitoral. Não faz a crítica vulgar.
Desvalorização do Real 98/99
Ele poderia ter explicado o “episódio” da desvalorização do Real em 98/99 (que alguns poderiam chamar de “falcatrua eleitoral”)…
Ele foi vítima. Internamente,
Ele foi vítima. Internamente, sempre defendeu a desvalorização. Malan e Gustavo Franbco seguraram. Na véspera de explodir passaram o pepino para ele.
Oposição terá coragem de assumir o discurso neoliberal?
Eu adoraria ver o Aécio defendendo esse posicionamento, dizendo que será mais austero, que deixará o destino da economia na mão do mercado, que o mercado seria o responsável pela distribuição de renda e explicar ao povo que uma inflação de 2% ao ano é mais importante do que ter comida na mesa e capacidade real de consumo, ainda que a inflação gire em torno de 5,5%.
Esse é um discurso de alguém que não é político, quero ver alguém da oposição defendendo esse mesmo posicionamento, duvido, não acreditam no que acham que acreditam.
É mais ou menos como ele diz que o governo Dilma não assume ser socialista, será que não assume.
O PIB seria maior se mudasse a metodologia do IBGE?
Um ponto importante que ele destacou em diversas respostas, mudança na metodologia de medição do PIB pelo IBGE, Nassif, já que essa é sua área, o que realmente ele quer dizer com isso? Ao que parece ele acha que o PIB seria maior se fosse medido de forma diferente.