Keynesianos criticam política econômica de Dilma

Sugerido por BRAGA-BH

Do Brasil Econômico

Política de Dilma é criticada até por keynesianos

Fernanda Nunes   ([email protected])
04/02/14 09:14

Modelo econômico comemorado em 2010 já não é consenso. Economistas querem investimento, mas não sabem de onde virá

Rio – Inflação próxima do teto da meta, balança comercial deficitária, desvalorização cambial crescente e cenário externo preocupante. Um ambiente de instabilidade está dando margem a críticos do governo da presidenta Dilma Rousseff, em ano de eleição, para questionar a política econômica que, em artigo publicado em 2010, o então secretário do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa (atual pesquisador da Fundação Getúlio Vargas), classificou como caso de sucesso. “Durante o governo Lula, o Brasil iniciou uma nova fase de desenvolvimento econômico e social, em que se combinam crescimento econômico com redução das desigualdades sociais”, comemorou, então, Barbosa.

Com um Produto Interno Bruto (PIB) negativo em 0,5% no terceiro trimestre de 2013, comparado a igual período anterior, e o processo de retração da desigualdade estagnado, como demonstra a Pesquisa por Amostras de Domicílio (Pnad) de 2012, academia e mercado questionam: a fórmula desandou?

Em seu artigo, na época em que o Brasil avançava a ritmo chinês, Barbosa atribuiu o crescimento à mão do “Estado no estímulo ao desenvolvimento e no planejamento de longo prazo”, uma clara alusão à teoria de John Maynard Keynes, teórico do século XX, defensor da tese de que o ciclo econômico não é auto-regulado. A própria presidenta Dilma Rousseff tem a sua imagem, frequentemente, atrelada à escola keynesiana, pela defesa à intervenção estatal na economia – como a decisão de segurar os preços dos combustíveis vendidos pela Petrobras e também da energia elétrica, contrariando os interesses empresariais. Seu orientador de mestrado na Unicamp foi o professor keynesiano Manoel Cardoso de Melo.

A esse grupo se contrapõem os neoliberais, credores no poder dos fundamentos financeiros para equilibrar a economia. No entanto, atualmente, diante de perspectivas não tão otimistas quanto as de três anos atrás, a presidenta enfrenta crítica de ambos os lados e não chega a ser reconhecida como uma fiel representante por nenhum deles. Presidente da Associação Keynesiana Brasileira (AKB), o professor da Universidade de Brasília (UNB) José Luis da Costa Oreiro enxerga na atual política econômica uma flexibilização do modelo econômico do “tripé” – câmbio flutuante, metade inflação e superávit primário – inaugurado pela equipe de Fernando Henrique Cardoso.

“Não houve mudança na matriz macroeconômica. O que foi feito foi alongar a convergência do centro da meta da inflação, reduzir a meta de superávit primário e manter o regime de flutuação cambial, mas com indução de valorização por meio de mais controle da entrada de capitais. Foi mantida a lógica do modelo anterior, só que o governo passou a testar os seus limites”, diz Oreiro.

Em sua opinião, não é suficiente flexibilizar o tripé, criado para conter a inflação, para garantir crescimento econômico. Em vez disso, sua principal proposta é que o governo adote um sistema de meta de poupança pública, com foco no investimento. “Essa é a regra de ouro da política fiscal de Keynes, na qual o endividamento público só pode ocorrer para financiar investimento e não o consumo. É claro que é uma mudança que não pode ser feita do dia para a noite”, ressalta o professor da UnB, salientando, em seguida, que a taxa de poupança pública hoje é negativa em 1% do PIB e que o ideal seria estar em 5%. “Não é uma política de austeridade, mas de mudança do perfil do déficit. É uma mudança da composição da poupança. O ideal é financiar todo o investimento com poupança interna e zerar a externa”.

O que está em questão no debate sobre a política econômica atual, a mesma comemorada no artigo de Barbosa de 2010, é o gasto do governo e a sua capacidade de investimento em um ambiente externo mais hostil, diz o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito. “A única coisa a ser feita é mostrar sinais fiscais menos expansionistas, evitar custeio. Exatamente o que ninguém sabe, porque o grau de mau humor chegou a um grau muito elevado”, opina. Ele reclama de uma má vontade dos economistas. “Chegamos num ponto em que o mercado exige que o governo jogue o país para a recessão”.

Solução à crise é tema de dossiê de Associação

A crise econômica internacional e o sentimento de falência do modelo neoliberal que predominou no cenário externo a partir de 2008 fortaleceu no Brasil um grupo de economistas que veem na mão do Estado a solução. Em meio à turbulência, foi criada a Associação Keynesiana Brasileira (AKB), em 2008. Sua função, desde então, é desenvolver o conhecimento da teoria do britânico John Maynard Keynes, para quem a “mão invisível” do mercado não funciona por si só contra situações de concentração de renda e desemprego. Em vez disso, a saída para os keynesianos está na intervenção do governo na economia.

Hoje, após seis anos de criação da entidade, cerca de 150 economistas brasileiros aderiram à AKB. São professores universitários, analistas de mercados, entes do governo e profissionais da iniciativa privada que apostam na intervenção do Estado como complementação aos mercados privados. Economistas formados, sobretudo, nas universidades federais – como Unicamp, UFRJ, UFMG e Universidade Federal de Uberlândia -, de diferentes orientações partidárias.

Anualmente, a AKB organiza um encontro internacional. Neste, acontecerá em agosto, na Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, com homenagem ao economista Luiz Gonzaga Belluzzo, da Unicamp, e minicurso de Nelson Barbosa, do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Ibre/FGV).

Além do fórum, os keynesianos brasileiros também produzem dossiês da crise. O terceiro e último, publicado em 2013, teve o sugestivo título “A economia brasileira na encruzilhada”.

Luis Nassif

17 Comentários

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  1. Ontem assistindo ao

    Ontem assistindo ao Brasilianas.org com a presença de Belluzzo, ficou claro o consenso entre os debatedores que o principal gargalo para um crescimento mais robusto da economia brasileira e a reversão do processo de desindustrialização, seria o câmbio apreciado.

     

    O valor considerado ideal para o câmbio que tornaria a industria brasileira mais competitiva segundo as opinões seria de no mínimo R$ 2,70, mas há opiniões que chegam ao valor R$3,50.

     

    O grande problema é o efeito inflacionário de um câmbio na faixa de R$ 3,00, Belluzzo então falou da necessidade de que os aumentos salariais fiquem restritos aos ganhos de produtivadade, o que ajudaria na contenção da inflação, disse ele também sobre a necessidade do governo negociar um pacto político com os sindicatos com o objetivo de manter os aumentos condicionados aos ganhos produtividade.

     

    Estando corretas essas análises, fico com a preocupação de que a Presidente Dilma não tenha o perfil de liderança para essa tarefa, aliás não só a Presidente Dilma como não vejo nenhuma liderança política com capacidade de convencimento e habilidade de negociador para convergir interesses, a única e solitária liderança capaz de conduzir esse processo sem turbulências na minha opinião seria o Presidente Lula.

     

     

  2. Hein?

    Li, reli e li novamente e não encontrei uma única crítica consistente dos “keynesianos” ao governo de Dilma Rousseff. Aliás, a única crítica talvez consistente diz respeito ao nível da poupança interna, mas os “keynesianos” dizem que isto não se faz da noite para o dia…

     

    A FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo), ou seja, a taxa de investimento, cresceu exponenciais 6,5% no ano passado. O câmbio está sendo desvalorizado de forma gradual desde 2011, a distribuição de renda e o pleno emprego permanecem e assim o Brasil vai superando a turbulência da economia mundial com remédios diferentes daqueles ministrados na Europa do desemprego galopante, do arrocho salarial, das demissões em massa nos setores público e privado, do desinvestimento e dos cortes brutais nos orçamentos públicos para a educação, a saúde e a assistência social. Sempre é bom destacar, também, que a inflação apurada nos três primeiros anos do governo Dilma é INFERIOR a inflação apurada nos três primeiros anos de FHC e de Lula…

     

    Afinal de contas, qual é a proposta objetiva dos “keynesianos”? Quem souber, por obséquio, nos explique…

     

    Será que os “keynesianos” ainda não compreenderam que o mundo está hoje às voltas com a crise econômica que insiste em manter seus efeitos nos EUA e na Europa? Será que não sabem que a China (que cresceu em média 11% ao ano entre 2000 e 2008) diminuiu drasticamente a sua projeção de crescimento, para ‘apenas’ 7,5% ao ano? Será que não sabem que o México está a quatro anos consecutivos com o PIB crescendo em níveis menores a cada ano? Não sabem que a Grécia está já a seis anos consecutivos com queda do PIB? Não sabem que a Zona do Euro cresceu 0,0% em 2013? 

     

    Como é fácil falar, difícil é cotejar o Brasil com o cenário internacional…

    1. Bacana Diogo

      Eu aprendo bastante tanto com os textos, quanto com os comentários. Estou ainda me abstendo de emitir opiniões, e até mesmo de tomar ainda qualquer partido, mas de qualquer forma é sempre bacana ler os pontos e contrapontos, como os seus.

    2. A questão da poupança interna

      A questão da poupança interna é o ponto central da crítica dos keynesianos, não entendi o que você não entendeu.

      Será que os keynesianos não sabem que o mundo está em crise, aliás, será que os keynesianos não sabem nada sobre crises econômicas.

      Deve ser isso, talvez você devesse participar da próxima reunião da AKB, e assim partilhar seu maravilhoso conhecimento com os keynesianos. Faça uma palestra sobre crises econômicas – explique como Keynes, Minsky e outros não sabem porra nenhuma – e depois complemente com sua maravilhosa tese do “consumo eterno, sem investimentos”. Mas me avise, também gostaria de dar umas boas gargalhadas!

      1. Gargalhe de sua própria ignorância…

        Nunca defendi nenhuma tese de “consumo eterno, sem investimentos”, isto é apenas uma rotunda e grotesca mentira. O Brasil é hoje o segundo maior canteiro de obras do globo terrestre, perdendo apenas para a China. A FBCF cresceu exponenciais 6,5% no ano passado, desmentindo a tese do ilustre missivista desinformado a respeito do “consumo eterno, sem investimentos”. Estude um pouco mais rapaz!

         

        Quanto a poupança interna, este é mesmo o debate principal, mas até agora não vi nenhum “keynesiano” dizer como se poderia empreender o aumento desta poupança interna aqui no Brasil. Falar, falar, falar e falar qualquer um faz, precisamos saber é das medidas efetivas (quais são) que os “keynesianos” propõe para tanto. Há várias maneiras de fazer isto, uma delas seria interromper a Política Nacional de Valorização do Salário Mínimo (que impacta diretamente nas aposentadorias e pensões). É isto o que os “keynesianos” querem para o país? Se é, que digam com todas as letras.

        1. “Quanto a poupança interna,

          “Quanto a poupança interna, este é mesmo o debate principal, mas até agora não vi nenhum “keynesiano” dizer como se poderia empreender o aumento desta poupança interna aqui no Brasil. Falar, falar, falar e falar qualquer um faz, precisamos saber é das medidas efetivas (quais são) que os “keynesianos” propõe para tanto. “

           

          Do texto:

           “Essa é a regra de ouro da política fiscal de Keynes, na qual o endividamento público só pode ocorrer para financiar investimento e não o consumo. “

          Pergunta: o que é um analfabeto funcional?

          1. ERRADO: É alguém que lê, mas

            ERRADO: É alguém que lê, mas não entende o que está escrito.

            Por exemplo, alguém que lê isso:

             “Essa é a regra de ouro da política fiscal de Keynes, na qual o endividamento público só pode ocorrer para financiar investimento e não o consumo. “

             

            E depois comenta isso:

            “Quanto a poupança interna, este é mesmo o debate principal, mas até agora não vi nenhum “keynesiano” dizer como se poderia empreender o aumento desta poupança interna aqui no Brasil. Falar, falar, falar e falar qualquer um faz, precisamos saber é das medidas efetivas (quais são) que os “keynesianos” propõe para tanto. “

             

            Entendeu agora?

            “regra de ouro da política fiscal de Keynes, na qual o endividamento público só pode ocorrer para financiar investimento e não o consumo. “

             

            Infelizmente o blog não possui o recurso desenho, o que permitiria explicar em um formato mais compatível com o seu nível intelectual!

  3. Caro Nassif e demais
    Se

    Caro Nassif e demais

    Se Keynes for uma mera intervenção do governo da economia, qual país não é keynesiano?!

    Keynes é mais do que isso. Mas criaram o seu esgotamento, com o desmonte do Leste Eurpeu. A essa nova saga de tiranossauros, foi dado singelo nome de neoliberal. Poesia macabra, mais uma terminologia terrível, como facilitador para professor.Novamente uma nova distribuição/roubo das riquezas dos brasileiros, hipotecaram seu futuro.

    Lula/Dilma, fazem malabarismo, sabem que o keynesianismo é uma forma de socorrer o povo sem oferecer risco ao capital, que se acumula com ele, basta ver os ganhos dos bancos, indústrias, comércios etc etc.

    Quanto mais cresce os beneficios para o povo, mais o orçamento amarrado pelos neoliberais, se torna  um nó.

    Há que se fazer um novo orçamento, um orçamento social.

    Saudações

     

  4. Não  existe uma só politica

    Não  existe uma só politica economica possivel, dependendo dos objetivos é ossivel criar modelos distintos e viaveis.

    O essencial para qualquer politica economica é que os agentes economicos, consumidores, assalariados, empresarios pequenos, medios e grandes e mercado financeiro ACREDITEM na politica que se quer implantar.

    Para que exista essa CREDIBILIDADE ESSENCIAL é preciso que o responavel por essa politica tenha principios conhecidos e que todos saibam que ele está no comando da politica economica com plena autoridade.

    Com uma Presidente estilo Dilma, que não opera de forma a delimitar a autoridade exclusiva de cada Ministro ou responsavel pela politica economica, isso jamais vai acontecer. Dilma prefere Mantega porque ele segue qualquer ordem que a Presidente determinar, manda baixar juros, baixa, certo ou errado. Por exemplo , Meirelles tinha a politica dele e Lula não interferia, porque se interferisse Meirelles sairia, o mercado sabia disso, prisso deu certo.

    As medidas keynesianas de Roosevelt tinham credibilidade por causa de seu Secretario do Tesouro dutante quase todos seus quatro mandatos, Henry Morgenthau Jr., que tinha completa credibilidade dos agentes economicos, todos sabiam que Morgenthau não faria loucuras, do que resultou que mesmo com a guerra não houve inflação importante mesmo com enormes gastos militares.

    Sem esse mecanismo de confiança na politica economica os empresarios não investem e não contrtatam novos empregados, cada setor tem que ter uma matriz de regras solidas, para que os projetos possam ser planejados.

    Mudança abrupta de regras, como foi feito na energia eletrica e no petroleo, quando paralisou-se os leilões do pre-sal por 5 anos para trocar o sistema vitorioso de concessões pelo de partilhas, fez o Brasil atrasar 5 anos o incremento de produção de petroleo, gerando um deficit na conta petroleo de 21 bilhões em 2013. Desastrosa tambem foi a capitalização artificial da Petrobras, que abalou o otimismo do acionista com a empresa fazendo o valor de mercado cair 70%.

    Essa gestão atabalhaoda, erratica e improvisada não constitue uma politica economica consistente e com visão estrategica, trata-se de uma serie de quebra-galhos, jogo de ilusionismos, manipulação de numeros, o resultado está na taxa de Risco Brasil de 221 pontos-base (2,21% acima do juros T-Bill) contra 82 pontos-base (0,82%) do Mexico.

    Por saber de tudo isso o mercado vê com pessimismo o Brasil nos proximos 4 anos.

    A turbulencia é consequencia.

    1. Que monte de asneiras sobre o

      Que monte de asneiras sobre o New Deal, que foi implementado de maneira coercitiva e alterou radicalmente as regras da economia americana.

      Os comentários do “historiador econômico” são sempre assim, lamentáveis.

  5. Tudo é relativo. Se todo o

    Tudo é relativo. Se todo o contexto muda, mesmo sendo excelente a política, então é natural que se obtenha resultados positivos menores. Mas não há desastres e o horizonte é promissor. Apenas há menos resultados bons e problemas de conjuntura que têm equacionamento garantido. Tentar vender a atual situação como merecedora de que se troque radicalmente de política é oportunismo irresponsávvel, ainda mais que a política alternativa é o caminho para o suicídio certo.

    1. Hehe… 
      “A ordem, nessas

      Hehe… 

      “A ordem, nessas alas, é pregar uma volátil combinação de políticas insustentáveis: mais inflação, depreciação cambial, fortes aumentos de gastos públicos, subsídios à indústria, protecionismo comercial.”

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