Líderes da indústria e do comércio criticam decisão do Copom

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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O aumento da taxa Selic em 0,25 ponto percentual, para 7,50% ao ano, não foi bem visto pelos representantes do setor produtivo. Embora a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) tenha sido diretamente influenciada pelo comportamento da inflação, os líderes de diversas entidades deixaram claro que medidas como controle de gastos e a realização de reformas seriam mais eficientes na gestão das políticas.
 
Veja abaixo a opinião de diversos dirigentes sobre o aumento da taxa de juros:
 
Fiesp/Ciesp (Federação e Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) – Para o presidente das entidades, Paulo Skaf, a decisão do Copom foi considerada “equivocada”. “Da mesma forma que ninguém quer o aumento da inflação, o Brasil não precisa de aumento de juros, mas de aumento de produção”, disse, citando dados do Produto Interno Bruto (PIB) em 2012, que teve crescimento de 0,9%, com a Indústria caindo 2,5% e, segundo o executivo, os dados de 2013 não apontam retomada do crescimento – ao contrário, o indicador IBC-BR de fevereiro indicou queda de 0,5%.  Dentro desse ambiente, Skaf afirma que foi instalado “um falso debate” de juros versus inflação.
 
“O Brasil não pode abrir mão do controle da inflação, mas devemos superar a política econômica do uso exclusivo da taxa de juros. A nova política econômica deve ousar no sentido de aumentar os investimentos públicos, controlar os gastos de custeio, criar um ambiente favorável ao investimento privado e, de forma corajosa, finalizar as reformas que promovam a desindexação da nossa economia”, afirmou. “Claramente, aqueles que neste momento e com essa conjuntura econômica buscam restringir o debate à taxa de juros estão defendendo seus próprios interesses e não o desenvolvimento do Brasil”, concluiu.
 
Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) – O presidente da entidade, Roque Pellizzaro Junior, acredita que a decisão tomada pelo Copom poderia ter sido postergada para o próximo mês, “caso o governo adotasse medidas de austeridade para reduzir os gastos públicos”. Na avaliação de Pellizzaro Junior, o governo brasileiro deveria fazer um sacrifício político neste momento e reduzir as despesas públicas para controlar a inflação. “Aumentar os juros é um remédio que deve ser usado somente em último caso, porque tem efeitos colaterais amargos: reduz o consumo, diminui os investimentos e piora a situação das famílias endividadas. É um sinal de que o governo não quer fazer seu dever de casa”, disse Pellizzaro Junior.
 
O líder do movimento varejista disse ainda que os preços dos alimentos iniciaram um movimento de queda nas primeiras semanas de abril, o que mostra que a inflação já recuava sem a necessidade de mexer nos juros. “Os números mostram que o custo de vida das famílias diminuiu no começo de abril. Além disso, o atentado em Boston, associado aos números chineses, fez o preço das commodities passar por um resfriamento. Acredito que inflação recuaria automaticamente e a decisão de aumentar a Selic poderia ter sido postergada”, avalia Pellizzaro Junior.
 
Confederação Nacional da Indústria (CNI) – Embora reconheça que o controle da inflação seja importante, a entidade “lamenta” que o Copom “tenha optado pelo caminho de combate à alta inflacionária com maiores danos à atividade produtiva. A indústria mostra desempenho abaixo do esperado no início do ano, dando continuidade à situação negativa do fim de 2012”. Segundo a CNI, o aumento dos juros é extremamente prejudicial à indústria, “setor de maior capacidade de recuperação e de melhor contribuição para o crescimento da economia, mas que já vem sendo atingido por custos crescentes”. Para a entidade, o novo ciclo de alta dos juros “irá afetar a confiança do empresário e comprometer os investimentos, cuja elevação considera essencial para reativar a economia”.
 
A CNI avalia que uma política econômica baseada em aumento dos gastos públicos e alta dos juros tem pouco impacto nas pressões inflacionárias, e que tais pressões estão concentradas nos preços dos alimentos e nos preços dos serviços, estes últimos não influenciados pela concorrência internacional e, portanto, estimulados pela demanda parcialmente aquecida. O aumento dos juros também influencia o câmbio, devido à maior atração do dólar pelo juro mais elevado. “O resultado dessa combinação de políticas gera o pior cenário, que é inflação alta e crescimento mínimo”, conclui a CNI.
 
FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo) – A instituição entende que a medida do órgão regulador “serve para recuperar a confiança do mercado quanto à sua capacidade de controlar a alta nos preços, mas acredita que as autoridades econômicas poderiam ter cogitado outro caminho para lidar com a questão, como a retomada dos investimentos públicos, direcionamento de gastos e mudanças nas metas de inflação para números mais realistas”.
 
“O BC é responsável por preservar a estabilidade da moeda brasileira e está apto a tomar as decisões que julga melhor. No entanto, o aumento neste momento pode ser um obstáculo para a retomada do ritmo de crescimento do País, pois os juros não exercem influência em itens que tem causado as pressões inflacionárias, como no caso dos alimentos e serviços. A medida também torna-se um foco do mercado neste momento porque houve desaceleração no desenvolvimento da economia brasileira em fevereiro e essa mudança poderia trazer uma retração ainda maior na atividade interna”.
 
FIRJAN (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro) – A instituição considerou a decisão previsível, mas que “poderia ter sido evitada caso tivesse sido adotada uma política fiscal que aliviasse a pressão sobre os preços”. A contribuição que pode ser dada pela política fiscal é necessária, mas não suficiente. “A combinação de inflação persistentemente elevada e baixo crescimento do PIB também está relacionada aos chamados gargalos estruturais, que resultam em baixa produtividade e elevados custos de produção para as empresas brasileiras”, diz a entidade, defendendo duas frentes de atuação para a política econômica: aumento do superávit primário, pautado em redução dos gastos correntes do governo, e aprofundamento da agenda de competitividade, com foco na redução do chamado “custo Brasil”.
Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

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