Uma análise da política econômica no governo Dilma, por Guilherme Haluska

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Artigo do Brasil Debate

Por Guilherme Haluska*

Ao longo dos últimos meses, o governo Dilma tem sido criticado pela forma que conduziu a política econômica. Em síntese, o governo teria buscado estimular o crescimento pela via da demanda, e não da oferta, e pela via do consumo das famílias e do gasto público, e não dos investimentos.

Teria ocorrido também uma flexibilização do tripé macroeconômico, adotando uma política fiscal expansionista e tolerando uma inflação próxima do teto da meta. O resultado teria sido baixo crescimento, inflação elevada, redução do superávit primário e aumento do déficit em conta corrente.

Analisando os componentes da demanda, vemos que os gastos do governo central apresentaram um dos menores ritmos de crescimento já observados desde a estabilidade monetária, maior apenas que o do 2º governo FHC, quando o País foi forçado a realizar um ajuste fiscal como exigência de acordos com o FMI.

Isso já coloca em xeque a tese de “irresponsabilidade fiscal” da administração atual. Contudo, as receitas também cresceram mais lentamente, tanto por conta do baixo crescimento quanto das desonerações fiscais. (Ver Gráfico 1).

Quanto ao consumo, também é difícil argumentar que este tenha sido fortemente estimulado, uma vez que tanto o salário mínimo quanto o crédito para pessoas físicas cresceram num ritmo bem inferior ao dos anos anteriores. (Ver Gráfico 2).

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Por fim, o investimento público, variável da demanda com maiores efeitos dinâmicos sobre a economia, continuou aumentando, embora sem apresentar as expressivas taxas de crescimento dos governos Lula.

Ainda assim, a formação bruta de capital do governo federal e das empresas estatais cresceu mais do que o investimento total. Destacamos também as concessões para obras de infraestrutura, que não tiveram efeito no atual mandato, mas que devem aumentar as taxas de investimento nos próximos anos.

Adicionalmente, o governo realizou uma série de medidas visando a aumentar a competitividade da indústria e assegurar o nível de emprego, estimulando o crescimento. Promoveu a desoneração da folha de pagamentos, isentou impostos sobre investimentos, reduziu as tarifas de energia elétrica e promoveu uma desvalorização cambial no ano de 2012.

A desvalorização cambial, embora seja importante para melhorar o saldo em transações correntes, gerou também pressões inflacionárias. Além disso, alguns bens de consumo duráveis continuaram tendo uma menor incidência de impostos, sem ter suas alíquotas recompostas aos níveis originais (essas isenções haviam sido instituídas na fase mais aguda da crise, em 2009).

A escolha dos setores beneficiados foi alvo de críticas e foram vistas como estímulos à demanda. Contudo, reduções de impostos podem ser encaradas não apenas como estímulos a demanda, mas também como reduções de custos e estímulos a oferta.

A escolha dos setores também é justificável, uma vez que os segmentos de bens de capital e de bens de consumo duráveis são os mais prejudicados durante uma crise, enquanto os bens de consumo semi e não duráveis são menos afetados.

As desonerações sobre investimentos, contidas no Plano Brasil Maior, são indícios de que houve importantes incentivos ao investimento, e não apenas ao consumo.

Em meio a essa conjuntura, com todos os componentes da demanda agregada crescendo a ritmos menores e com o nível de utilização da capacidade instalada próximo das médias históricas e em trajetória de queda desde 2010, existem vários indícios de que a inflação no Brasil nos últimos anos foi causada por pressões de custos, e não de demanda.

Destacamos quatro importantes fontes de pressões inflacionárias:

a) choques de oferta desfavoráveis ao longo dos últimos anos provocando elevada inflação de alimentos (vale lembrar que nos últimos quatro anos, os Estados Unidos, o Nordeste brasileiro e o Estado de São Paulo sofreram com suas maiores secas dos últimos 50 anos);

b) desvalorização cambial de 34% de dezembro de 2010 até agosto deste ano;

c) a partir da crise de 2008, a produtividade passou a crescer mais lentamente, o que fez com que esta passasse a aumentar menos do que os salários, pressionando principalmente a inflação de serviços; e

d) existência de indexação, formal ou informal, que faz com que os efeitos de choques pontuais se tornem persistentes ao longo do tempo.

Concluindo, vimos que os gastos do governo central, o crédito e o salário mínimo cresceram a um ritmo menor durante o governo Dilma do que nos governos anteriores, o que torna difícil sustentar a tese de que as autoridades buscaram acelerar o crescimento através de estímulos ao consumo e do gasto público.

Além disso, as críticas muitas vezes ignoram os incentivos que foram dados aos investimentos. Dessa forma, a política econômica não parece ter sido responsável pela inflação acima do centro da meta, até porque tentativas mais incisivas de controlá-la por meio de reduções da demanda agregada poderiam colocar em recessão uma economia que já vinha crescendo pouco.

É bom lembrar também que parte da redução do superávit primário que ocorreu em 2012 e 2013 foi causada por desonerações tributárias, que embora sejam uma política fiscal expansionista, representam reduções de custos que contrabalançam eventuais pressões inflacionárias.

Nesse contexto, a política foi coerente, pois promoveu uma desvalorização cambial visando a aumentar a competitividade nacional, ao mesmo tempo em que promoveu reduções de custos de produção, com desonerações, redução do preço da energia e também a isenção de impostos sobre produtos da cesta básica, visando ao mesmo tempo a compensar as pressões inflacionárias e estimular a atividade econômica.

* Guilherme Haluska é formado em economia pela Unicamp e aluno de mestrado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

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Redação

10 Comentários

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  1. pra mim. o que mais

    pra mim. o que mais importa

    nesta discussão toda em economia,

    é a manutenção do emprego

    – pleno emprego é demais, né! –

    e de um ritmo de crescimento que,

    embora moderado, mantenha

    a economia girando.

  2. Até que está correta a

    Até que está correta a análise, contudo se esqueceu de falar o real motivo da atual estagnação da economia brasileira: A China reduziu a compra de commodities. Simples assim. A política econômica da Dilma é praticamente a mesma do Lula, só que somos quase uma colônia exportadora de commodities para China, que, devido a crise mundial, agora reduziu suas importações e afetou nossos termos de troca e o governo não soube lidar muito bem com isso, posto que não tem uma politica de investimento a curto prazo, principalmente na industria de transformação.

     

    P.S. As criticas da imprensa são simplesmente politiqueiras, sem fundamento economico nenhum e  dos candidatos com possibilidade de vitoria Dilma é a única capaz de evitar um desastre na economia brasileira, mesmo com várias falhas nesse primeiros anos. Só vota no banco central independente de Marina e no rentismo de Aécio quem é completamente leigo em economia ou quem pensa em ganhar muito dinheiro com isso, em detrimento dos interesses do país. 

    1. Não é tão simples assim se

      Não é tão simples assim se considerarmos que a abertura da economia brasileira para o mundo é relativamente pequena.  Para um PIB de 2,3 trilhões de dólares, as exportações correspondem a apenas 10% da demanda agregada…O Brasil continua a ser um dos países menos vulneráveis do mundo a oscilações da economia mundial via balança comercial. A questão não está somente aí. Claro que a depressão do comércio global nos afeta sim . Me parece que há um componente de expectativas internas muito mais consistente. Falo de um clima artificial de crise gerado por uma campanha sistemática da mídia absolutamente oligopolista que sim pode deprimir as expectativas dos agentes econômicos e do público em geral, e isso tem sido feito há três anos de forma sistemática.

      1. Mas a mídia sozinha não seria

        Mas a mídia sozinha não seria capaz de causar tanta influência nos humores do mercado investidor se este não fosse alinhado política e ideologicamente com as suas posições. Nenhum big player do mercado é uma anta e todos tem ao seu dispor trocentos consultores e analistas. Trata-se de uma jogada articulada mídia-mercado contra um governo progressista e em detrimento do crescimento do país diante de uma grave crise global, jogando contra o bem estar do povo brasileiro.

  3. A análise parece dedicada,

    A análise parece dedicada, fundamentada e muito importante para a divulgação. É claro que o PIG e a oposição já sabem disso, mas não ouvem, não veem e não falam a respeito. Por outro lado, não existe nenhum caminho de fácil acesso (exceto a internet) que permita que informações relevantes, feito essa análise, possam chegar com rapidez ao conhecimento da população. Todavia, se as conclusões forem mesmo comprovadas, creio que faltará buracos para comportar tantas cabeças de alarmistas braxileiros e extrangeiros.

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