A ausência de ideias na campanha política

Por Alberto Porém Jr.

Um bom texto para discussões no blog.

Do Terra Magazine

“Sem ideias novas, campanhas ressuscitam temor da ditadura”

Cláudio Lembo -De São Paulo

Começou a corrida eleitoral, antes mesmo das convenções regulares, previstas na legislação. Os partidos, na busca de afastar traços de intranqüilidade interna, optaram por pré-convenções.

Uma forma de realizar encontros sem ferir frontalmente as normas atinentes às próximas eleições. Tudo, pois, o que vem ocorrendo não tem profundidade. Até outubro, muita coisa poderá se alterar.

O interessante é notar que os partidos tradicionais não apresentam novos figurantes. Retornam ao passado e o relançam no presente. O eleitor, a princípio, pensa que a História se repete.

Um dos objetivos dos partidos políticos, talvez o mais expressivo, é produzir novos dirigentes, mediante cursos de iniciação política e de conhecimentos administrativos.

Disto nenhum cuida. Todas as experiências se frustraram com o passar do tempo. Na redemocratização, os dois partidos então existentes, MDB e Arena, incentivavam a prática de debates políticos por toda a parte.

Nas Câmaras Municipais ou nas escolas de todos os níveis, políticos se apresentavam e ofereciam idéias. Colocavam-se à disposição dos interessados para responder difíceis perguntas.

Hoje, os políticos parecem ter esgotado a capacidade de argumentação. Procuram oferecer benesses e esquecer que cada eleitor deseja dialogar. Debater. Ouvir novas ideias.

A futura campanha, que seguramente se iniciará, com vigor, após a Copa do Mundo, se centrará na agressão recíproca entre os candidatos. Contornos externos das personalidades serão apontados.

Nada de idéias novas. Todos os planos do passado serão jogados no tabuleiro eleitoral. Os grandes temas políticos serão esquecidos. Valem os arranjos de ocasião.

Ninguém se lançará na busca do redesenho do quadro partidário. As quase três dezenas de agremiações, que impedem a racionalidade no ato de governar, permanecerão intocadas. Na verdade, privilegiadas.

Ainda porque, em época de eleições, mais valem segundos de rádio e televisão. Não há interesse em pensar. Longe do cenário um quadro partidário com nitidez de doutrinas.

Não se verá na campanha, que se anuncia, nada de novo. Todos defenderão o passado. E, por defenderem o passado, ouve-se, entre sussurros, recordações dos idos de 1964.

Muitas velhas vivandeiras voltam a se referir aos governos dos quatro generais com nostalgia. Vão além. Escrevem artigos, em revistas partidárias, apontando para os riscos de um golpe de Estado.

Os reflexos já atingiram a imprensa estrangeira. Inoportunas matérias apresentam manchetes impactantes: “… o fantasma do golpe militar ainda observa o Brasil”, registra El País, neste último sábado.

Nada mais equivocado. As instituições nacionais apresentam-se com inquestionável respeitabilidade. Os três poderes funcionam com normalidade. As regras do Estado de Direito são observadas.

O panorama internacional e o interno se oferecem inteiramente distintos daqueles vivenciados no redor de 1964. Os políticos – apesar dos pesares – se mostram mais conscientes.

Já não há incendiários de plantão. O mundo não se encontra dividido entre duas expressões políticas conflitantes: totalitarismo e democracia. A histórica classe média de matriz rural dissolveu-se.

Em seu lugar, surgiram os segmentos populacionais urbanos. Mais informados e melhor aparelhados para realizar julgamentos individuais. As pessoas já não permitem serem conduzidas.

Nas casernas continuam as lições de civismo e a vontade de servir a comunidade. Sem, contudo, temores infundados. Os militares, após 1988, sofreram silenciosos os reflexos dos idos anteriores.

Ficaram sós. Os civis servis, que batiam às portas dos quartéis, desapareceram. Tornaram-se todos democratas sinceros. Ainda bem. Melhor assim.

Falsos e egoístas. Colocaram-se ao lado dos militares e, depois, fugiram com indigna covardia. Com a decisão do Supremo Tribunal Federal, ao tratar da anistia ampla, geral e irrestrita, a sociedade voltará a caminhar.

Golpe militar é hipótese impossível. Acalmem-se as vivandeiras. A perfídia e a lealdade não andam de mãos dadas. Nunca mais civis – falsos patriotas – terão campo propício para suas insídias.

Cláudio Lembo é advogado e professor universitário. Foi vice-governador do Estado de São Paulo de 2003 a março de 2006, quando assumiu como governador.

Luis Nassif

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