A demissão de Jobim

Por Marco Antonio L.

De O Globo

Dilma decide que vai demitir Jobim quando ele voltar da Colômbia

RIO – A presidente Dilma Rousseff já decidiu demitir o ministro da Defesa, Nelson Jobim, depois das declarações dele à revista “Piauí” , que chegará às bancas nesta sexta-feira. Na entrevista, afirmou que a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, é “muito fraquinha” e que Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, “nem sequer conhece Brasília”.

A decisão foi tomada hoje de manhã em reunião de Dilma com Ideli, Gleisi, a ministra de Comunicação Social, Helena Chagas, o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, e Gilles Azevedo, assessor pessoal de Dilma. No entanto, a presidente vai esperar Jobim voltar de Tabatinga, na fronteira do Amazonas com a Colômbia, para informá-lo da decisão. Dilma considera deselegante demiti-lo hoje, quando ele participa de viagem oficial em companhia do vice-presidente colombiano, do vice brasileiro, Michel Temer, e do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.

O trecho da entrevista à “Piauí” em que Jobim critica as ministras foi antecipado pela colunista Monica Bergamo, na “Folha de S. Paulo” . Segundo o jornal, o ministro da Defesa também atacou o governo no debate sobre o fim do sigilo eterno de documentos. “É muita trapalhada”, disse.

Embora já tenha decidido demitir Jobim, Dilma lerá só hoje à noite a entrevista dele à “Piauí”. Segundo assessores, a presidente ficou especialmente incomodada com a informação sobre a conversa que ambos tiveram quando Jobim decidiu convidar José Genoino para assessorá-lo na Defesa. Dilma teria perguntado se Genoino seria útil no ministério e, segundo a entrevista, Jobim respondeu: “Quem sabe se ele pode ou não ser útil sou eu”.

A presidente também considerou uma agressão gratuita o comentário de Jobim sobre as ministras Ideli e Gleisi. Em entrevista a um programa da “Folha” e do UOL, Ideli considerou “desnecessárias” as declarações do colega e disse que ele “deveria se conter um pouquinho”.

O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), não criticou abertamente as declarações de Jobim. Na tentativa de consertar o estrago do ministro, Sarney acabou piorando a situação.

– Eu não li ainda essas declarações, mas o que posso dizer é que o ministro Jobim é um homem muito experiente, muito equilibrado. Jamais faria comentário qualquer que pudesse atingir as pessoas ou pudesse atingir o governo. Eu acho até que esta [declaração] não combina com a ministra Ideli porque a Ideli é até bem gordinha, não é bem fraquinha – afirmou Sarney.

Petistas consideram que ministro quer sair do governoAs declarações irritaram os petistas reunidos nesta quainta-feira no Rio para o encontro da executiva nacional do partido. O líder do PT no Senado, Humberto Costa, afirmou que Jobim deu mostras de que quer deixar o governo.

– Foi uma declaração infeliz gerando constrangimento para o governo e para a base de apoio. A impressão que dá é que ele está querendo sair – disse o senador, ex-ministro do governo Lula.

Já o secretário nacional de Comunicação do PT, deputado André Vargas (PR) disse que os petistas não “perderiam tempo” discutindo a situação do ministro.

– Ele não é dirigente do PMDB, aliás, ele acaba constrangendo seu partido. Essa é uma questão (as declarações do ministro) está mais para o PMDB do que para o PT responder.

No Senado, a entrevista de Jobim não foi bem recebida . Para o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), o ministro externou seu lado machista:

– As declarações do ministro se excederam e trazem um eco de machismo que não cabe nem no momento da nossa evolução social. A ministra Dilma foi eleita presidente por um público majoritariamente feminino. E ela repersenta não só as delicadezas da alma feminina, mas também as resistências morais e de caráter da mulher brasileira.

Na avaliação do senador Cristovam Buarque (PDT-DF), Jobim estaria fazendo provocações.

– A sensação que fico é a de que o ministro está fazendo provocações. E isso é péssimo – afirmou.

Jobim viajou para Tabatinga, no Amazonas, para a assinatura de um acordo para a criação da Comissão Binacional Fronteiriça (Combifron) e a adoção do Plano Binacional de Segurança Fronteiriça. Segundo a agenda, o ministro deixará a base do Caximbo, no Amazonas, às 20h30m. No avião que o levou de São Gabriel da Cachoeira, também no Amazonas, a Tabatinga, Jobim leu a nota da colunista da “Folha” e teria comentado com assessores que nem se lembrava mais disso, já que a entrevista à “Piauí” ocorreu um mês atrás.

Na semana passada, o ministro da defesa também provocou polêmica após dizer que tinha votado em Serra em 2010. A declaração provocou reação dos petistas e desconforto com Dilma. O ex-presidente Lula defendeu Jobim ,cuja situação no governo se complica a cada dia. O ministro da Defesa será o segundo apoiado expressamente pelo ex-presidente a ser demitido por Dilma. O primeiro foi Alfredo Nascimento, que deixou o Ministério dos Transportes no fim de julho.

Luis Nassif

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador