A díficil relação de Tasso e Ciro

Do Valor

Após duas décadas, relação de Tasso e Ciro está à beira do rompimento 

Raquel Ulhôa, de Brasília
17/06/2010 

Pela primeira vez desde que iniciaram um projeto político comum, em 1986, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) e o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) estão à beira do rompimento – político e pessoal. Sentindo-se “traído” por Ciro e seu irmão Cid Gomes (PSB), governador do Ceará, o tucano, em conversa com aliados, fala em “traição”, “decepção” e “covardia”. Somente uma reviravolta no quadro estadual pode reverter a situação.

Tasso tinha acordo com Ciro e Cid, candidato à reeleição, para uma aliança na eleição majoritária em 2010. O governador lançaria apenas um candidato ao Senado, o deputado Eunício Oliveira (PMDB), e apoiaria a reeleição de Tasso. No entanto, com base em várias sinalizações, Tasso está convencido de que o compromisso não será cumprido pelos irmãos Gomes.

A última vez que Tasso e Cid conversaram foi há cerca de cinco meses. Faltava decidir se a aliança seria formal ou apenas um apoio branco, ou seja, Cid não preencheria uma das duas vagas de senador na chapa majoritária, facilitando a reeleição do tucano. O compromisso do governador era resistir à pressão do PT para que lançasse o ex-ministro José Pimentel ao Senado.

CirCiro – mais ligado a Tasso do que Cid – participou de tudo. De lá para cá, o governador tem adiado a retomada das negociações com Tasso. Mais recentemente, o senador tentou falar com os irmãos, mas eles não atenderam às ligações (duas para o governador e três para o deputado). E nem retornaram depois.

A certeza de que o acordo seria descumprido foi consolidada por Tasso depois da visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Cid, em 8 de junho. Lula declarou não ter tratado de política, o que foi interpretado como ” piada” pelo tucano, que esperava pela decisão do governador de não lançar Pimentel.

Tasso, agora, prepara um nome para lançar contra Cid. Quer fazê-lo até segunda-feira. Os dois nomes cotados são os de Marcos Cals e do empresário Beto Studart.

O senador tucano disse a aliados que esperava – principalmente de Ciro, de quem se considerava amigo – uma explicação para que pudesse organizar a campanha do partido. Tasso agora avalia que Cid protelou a conversa com o propósito de evitar que o PSDB articulasse alternativa.

Em reunião com prefeitos, na terça-feira, Tasso fez críticas a Cid e Ciro. Quando algumas lideranças perguntaram se Ciro sabia e concordava com o recuo do governador em relação à aliança, Tasso foi duro. Disse que o deputado “é cúmplice” e que a decisão foi tomada pelos dois.

Tasso e o deputado do PSB mantinham forte ligação desde que o tucano, em 1986, então governador , designou Ciro líder do seu governo na Assembleia Legislativa. Ambos eram do PMDB. Em 1988, já no PSDB, Ciro foi lançado por Tasso candidato a prefeito de Fortaleza e elegeu-se. Em 90, também apoiado por Tasso, Ciro foi eleito governador. Na época, o senador brigou com Sérgio Machado, que queria ser candidato.

Em 1998, foi candidato a presidente da República pelo PPS. Tasso, então presidente do PSDB, apoiou formalmente a reeleição de Fernando Henrique Cardoso. Em 2002, no entanto, o tucano tornou pública a decisão de não apoiar o candidato do seu partido, José Serra, para ficar ao lado de Ciro. Alegou tratar-se de um projeto político do Estado.

Em 2003, Ciro foi para o PSB. Tornou-se ministro da Integração Nacional de Lula. Foi eleito deputado federal em 2006, mesmo ano em que o irmão Cid saiu vitorioso da disputa ao governo do Estado. Tasso defendia a candidatura de Cid, mas o então governador Lúcio Alcântara, do PSDB, disputou a reeleição contra sua vontade. O tucano ficou neutro, o que significou apoio implícito a Cid, eleito em aliança PT/PMDB. O PSDB integrou o governo do PSB.

Em abril, quando Ciro ainda era pré-candidato a presidente e Dilma foi ao Ceará, o senador saiu em defesa do deputado e declarou que a visita era “uma afronta” ao deputado. Ciro teve sua candidatura rejeitada pelo PSB. Tasso tem dito que a quebra de acordo derruba a aparente “valentia” de Ciro, que mostra não ter coragem de brigar com Lula. Para Tasso, o comportamento derruba também o discurso de Ciro contra as oligarquias, pela defesa da candidatura do irmão. “Isso é que se chama oligarquia”, teria dito Tasso. 

Luis Nassif

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