A disputa Cabral-Garotinho no Rio de Janeiro

Do Valor

Cabral atrai PR e Garotinho contra-ataca

Paola de Moura | De São Paulo
22/07/2011

Um governador enfraquecido por sucessivas crises que enfrenta um antecessor de fogo morto que ataca para sobreviver. Assim é o atual cenário político do Estado do Rio de Janeiro. Cerceado em seus espaços políticos pelo governador Sérgio Cabral, o deputado federal Anthony Garotinho (PR) luta para não perder espaço político na guerra pelas prefeituras de 2012.

Desde a crise dos bombeiros, em junho, todo o ambiente positivo que dava ao governador Sérgio Cabral uma ampla aprovação começou a ruir. O clima piorou depois do acidente com o helicóptero na Bahia, que revelou as relações mais próximas de Cabral com empresários como Fernando Cavendish, dono da empreiteira Delta, que presta serviços ao governo estadual e com Eike Batista, controlador do grupo EBX.

O fim da unanimidade, que, em grande parte, era sustentada pelo sucesso das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) fez a imprensa carioca abrir espaço para denúncias de corrupção e favorecimento no governo Cabral, muitas delas vinham sendo feitas desde o governo anterior por Garotinho.

OjorO jornal ‘O Globo’, por exemplo, tem publicado denúncias sobre superfaturamento na instalação das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Em seu blog, Garotinho, que nas eleições foi o deputado mais votado do Rio, com 700 mil votos, voltou a apontar outros contratos que seriam irregulares. Além disso, também atacou o ex-deputado estadual e atual presidente regional do PMDB no Rio, Jorge Picciani, e sua família.

O deputado reage à perda de território no Estado, principalmente no interior. Picciani é o principal articulador de Cabral junto à formação de candidaturas para as prefeituras no interior do Estado.

Um delas é a disputa pela prefeitura de São João de Meriti, na Baixada Fluminense. O atual prefeito Sandro Matos (PR) pretende concorrer à reeleição. Mas o governador deve apoiar o deputado estadual Marcelo Simão do PSB, tradicional partido de oposição no Estado que não resistiu e recentemente aderiu à sua base, hoje com 23 partidos.

Por conta das negociações de Picciani, Garotinho atacou o ex-deputado e postou em seu blog informações sobre o patrimônio de toda a família de Picciani, como também de seus dois filhos, o deputado federal Leonardo Picciani (PMDB) e o deputado estadual Rafael Picciani (PMDB). O ex-governador os acusa de terem mentido nas declarações ao TRE. O resultado foi que a Procuradoria Regional Eleitoral do Rio resolveu investigar a denúncia. Com isso, o assunto ganhou repercussão na mídia expôs o nome da família Picciani negativamente.

Prontamente, a assessoria do ex-deputado procurou os jornais para esclarecer o que chama e uma “campanha de má-fé e leviandade”. Ao Valor o deputado informou que os dados enviados ao TRE são corretos porque foi informado o valor patrimonial das cotas e não o valor nominal do capital social da empresa que pertence à família. Por isso, não haveria crime eleitoral.

O governador também ganhou forte apoio do PSD, o novo partido criado pelo prefeito de São Paulo Gilberto Kassab. Índio da Costa, candidato a vice-presidência na chapa tucana na última eleição presidencial e responsável pela estruturação do partido no Rio, confirma que sua estratégia é tirar o poder de Garotinho. “Estou fazendo de tudo para reduzir seu poder”, afirma. “A bancada de Garotinho (hoje com nove deputados) vai cair à metade”, afirma.

Especula-se que os deputados estaduais Samuquinha, Samuel Malafaia e Iranildo Campos migrarão do PR para o PSD. Além disso, o deputado Roberto Henriques, que já recebeu advertência do partido por votar a favor de Paulo Melo, candidato de Cabral, à presidência da Assembleia Legislativa, será candidato a prefeito de Campos. Henriques competirá diretamente com a mulher de Garotinho, a ex-governadora e atual prefeita Rosinha Garotinho.

Picciani e o Cabral, unidos, têm tudo para usar a máquina para ajudar a tirar a família Garotinho do poder. Na próxima segunda, Picciani receberá a Frente Democrática da cidade, formada por 12 partidos de oposição para discutir a estratégia eleitoral. Fontes ligadas ao ex-deputado estadual dizem até que Picciani não aceitou o ataque pessoal de seu ex-aliado e planeja rebater na mesma moeda, com denúncias sobre desvios em Campos.

Na verdade, a briga entre os três começou no início do primeiro mandato de Cabral, em 2007. O atual governador elegeu-se com o apoio dos Garotinho e como continuidade do governo Rosinha. Na época Cabral fazia campanha contra o governo Luiz Inácio Lula da Silva, que brigava com o Estado do Rio.

Assim que foi eleito, Cabral mudou de posição. Percebendo que, no Sudeste, o PT não tinha nenhum governo, o governador aderiu a Lula, junto com o PMDB, e passou a ser o principal e único aliado do governo federal na região. A decisão beneficiou muito Cabral, que passou a governar o Estado que mais recursos federais recebeu no segundo mandato de Lula e ganhou autonomia em relação a Garotinho. 

Luis Nassif

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