A disputa do PT na Câmara

Do Valor

PT ameaça reagir ao ‘paulistério’ na Câmara

Caio Junqueira | De Brasília
14/12/2010 

A insatisfação de petistas que se julgam não contemplados na composição de governo da presidente eleita, Dilma Rousseff (PT), pode hoje resultar em uma virada na disputa interna pela indicação do partido para a presidência da Câmara.

Favorito desde o início do ano, quando começaram a circular os nomes dos cotados para o cargo, o líder do governo, Cândido Vaccarezza (SP), assiste nos últimos dias uma série de episódios que reforçaram as chances dos outros dois postulantes, o vice-presidente da Câmara, Marco Maia (RS), e o ex-presidente, Arlindo Chinaglia (SP).

OsmoOs motivos da perda de fôlego de Vaccarezza na reta final são os mesmos que lhe deram o favoritismo na disputa durante meses: é o preferido do Palácio do Planalto, “paulista” (embora baiano de nascimento) e integrante da corrente majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB).

No entanto, essas credenciais fizeram com que os insatisfeitos com o excesso de paulistas e de integrantes da CNB indicados por Dilma para seu ministério gerasse uma revolta cuja maior consequência pode ocorrer hoje, na reunião da bancada. 

O principal fator de uma possível virada é o fato de a Mensagem ao Partido, segunda maior corrente do PT e que tem 23 dos 88 deputados eleitos, desistir de um acordo com a CNB, até ontem ainda em negociação. Por meio dele, a corrente majoritária indicaria o líder da bancada em 2011 em troca do apoio que receberia para presidir a Casa dos deputados da segunda maior corrente. Ocorre que, revoltada com a predominância da CNB no futuro ministério de Dilma -até agora fez oito ministros contra três da Mensagem-, os deputados desistiram do acordo e tendiam ontem a votar contra Vaccarezza.

Outro movimento se deu com os oito deputados do PT de Minas Gerais, que no sábado resolveram apoiar Marco Maia. No Estado, o desconforto é grande com a única indicação, ainda não-oficial, do ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. “Nós vamos votar todos juntos em Marco Maia. E olha que cada um é de uma tendência. Com isso nós queremos sinalizar para o PT Nacional que nós, mineiros, não concordamos com o método de decisão e que precisamos deslocar os processos de escolha dentro do partido”, afirmou o deputado Reginaldo Lopes , presidente estadual da legenda, durante o encontro de sábado.

Maia também integra a CNB, mas é gaúcho e tem perfil menos agressivo do que o de Vaccarezza, que incomoda correligionários. A mesma crítica se faz a Arlindo Chinaglia, que criou muitas inimizades dentro e fora do partido quando presidiu a Casa entre 2007 e 2008. Além disso, ele não tem apoio do Palácio. Sua corrente é o Movimento PT, que tem aproximadamente dez deputados. Por essas razões, Maia pode surpreender hoje, ainda mais se Chinaglia se retirar da disputa e apoiá-lo. “Tudo pode acontecer. Não dá para prever nenhum resultado”, afirmou o deputado Geraldo Magela (DF), que integra a mesma corrente de Chinaglia.

Petistas ontem mapeavam o voto de cada um dos candidatos. Os números que circularam confirmavam o favoritismo de Vacarezza, mas sem folga e com real possibilidade de que uma articulação de última hora virasse o jogo. Segundo esses petistas, Vacarezza teria hoje de 35 a 40 votos, Chinaglia de 30 a 35 e Maia de 20 a 25.

Até a noite, a CNB ainda se reuniria pela última vez no intuito de costurar um acordo interno e partir unida para a disputa. O acordo poderia ser relacionado à escolha da liderança, também hoje, disputada por Jilmar Tatto (SP), da corrente PT de Luta e de Massas; José Guimarães (CE), da CNB, e Paulo Teixeira (SP), da Construindo um Novo Brasil.

Havia ontem um consenso de que a disputa da liderança seria inevitavelmente um desobramento do nome vencedor para presidir a Câmara.

As eleições para a presidência da Câmara ocorrem apenas em fevereiro. O PT antecipou a escolha para este ano na tentativa de que o fato de ter mais de um pré-candidato levasse’ao surgimento de candidaturas avulsas ou paralelas. Ainda assim, o escolhido hoje deverá enfrentar um adversário vindo do grupo formado pela oposição (PSDB, DEM e PPS) e os partidos de esquerda (PSB, PDT, PCdoB). Os cotados são Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e Márcio França (PSB-SP). 

Luis Nassif

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