A expansão ‘Produto Interno da Brutalidade Brasileira’ no governo Bolsonaro, por Conrado Hübner Mendes

"Crescimento econômico de qualidade requer âncora civilizatória. Precisa saber como cresce e quem ganha com isso", pondera o analista

Jornal GGN – A confirmação do crescimento de 0,6% do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre, em relação a igual período imediatamente anterior, foi comemorado pelo governo Bolsonaro, apesar de ainda ser considerado um desempenho muito pequeno daquele prometido no início da gestão.

“[Esse aumento] É algo inesperado para os analistas econômicos, mas da nossa parte sabíamos que viria uma boa notícia, e ela veio em uma boa hora. E a nossa equipe econômica diz que a previsão para o próximo trimestre é crescer. O Brasil está crescendo”, disse o presidente Jair Bolsonaro, logo quando o número foi confirmado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nas semana passada.

O entusiasmo do Planalto com o “pibinho”, foi ironizado pelo colunista da Folha de S.Paulo e e professor de direito constitucional da USP, Conrado Hübner Mendes, não tanto pelo tamanho, mas pelo que diz sobre o “Produto Interno da Brutalidade Brasileira (PIBB)”.

O termo criado por ele se refere aos tristes recordes que o Brasil vem batendo em termos de violência na gestão bolsonarista.

“[O PIBB] Ilustra o Brasil que castiga, mata e deixa morrer; que intimida, lincha e esculacha; que vigia, delata e persegue; que reprime a liberdade e a diferença. É um índice que ainda não aprendemos a expressar na linguagem econômica, dada a intangibilidade e incomensurabilidade de suas variáveis”, explica Hübner.

Nesta semana, a Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou os relatório anual do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), que mostra a atuação do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) no ranking de 189 países.

A entidade verificou que, em um ano, o Brasil apresentou desempenho pírio noc crescimento do IDH, que vai de zero a um (quanto mais próximo do um, maior o desenvolvimento): 0,761 em 2018, obtendo um aumento de apenas 0,001 ponto em relação a 2017. O Brasil desceu uma posição, passando da 78ª colocação para a 79ª. Na América do Sul, o país é o quarto com maior IDH, atrás do Chile, Argentina e Uruguai.

O IDH é baseado em três pilares. O primeiro é Saúde, considerando a expectativa média de vida da população. O segundo é Conhecimento, avaliando a formação média dos anos de estudo comparada aos anos esperados de escolaridade. O terceiro e último é o Padrão de vida, ou seja, a renda bruta média per capita.

Hübner aponta que, ao reduzir ampliar políticas de cortes de gastos em serviços essenciais (Saúde e Educação) e promover uma política excessivamente concentradora, o governo Bolsonaro reforça esse quadro.

“A pibolatria esconde que o PIB é só um meio, não um fim, e que esse meio não consegue captar bem-estar e qualidade de vida. O truque da pibolatria é converter esse meio que não mede a coisa certa num fim em si mesmo. Crescimento econômico de qualidade requer âncora civilizatória. Precisa saber como cresce e quem ganha com isso”, pondera o analista.

Ao mesmo tempo, o professor de direito Constitucional observa que a gestão bolsonarista, replicada nos governos estaduais em São Paulo e Rio de Janeiro, “faz recrudescer, com método renovado, o vasto repertório do PIBB”, a exemplo do caso dos “meninos de Paraisópolis e do Complexo do Alemão aos índios da Amazônia; do disque-denúncia de professores à demissão de cientistas por pesquisas inconvenientes; da autorização para a polícia atirar em protestos à tortura das prisões; da exclusão de pessoas com deficiência da escola regular e do mercado de trabalho”.

“Desempenho econômico e desempenho constitucional devem caminhar juntos. Do ponto de vista do interesse público e de longo prazo, revigoram-se mutuamente”, analisa. “O atalho da degradação institucional revela a força de interesses privados de curto prazo. Pesquisas econômicas vêm apontando para essa correlação entre respeito a direitos e crescimento, apesar dos casos que fogem ao padrão, como o chinês”, prossegue.

“Bolsonaro é um inovador. Em vez de jogar o PIBB para debaixo do tapete e disfarçar a mediocridade política, como outros fizeram, investe no contrário: a explosão do PIBB foi sua grande promessa. Ele não só a cumpre como celebra o resultado com orgulho”, conclui.

*Clique aqui para ler o artigo de Conrado Hübner Mendes na íntegra.

Redação

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