A exploração midiática do escândalo

O assunto já está “vencido”, as pessoas envolvidas já foram denunciadas pela PF e exoneradas ou afastadas pela presidenta Dilma, mas continua a exploração midiática do “escândalo” da secretária que se corrompeu por uma passagem num cruzeiro entre Santos e Ilha Grande e uma cirurgia plástica (a mídia não diz qual, mas deve ter tirado uma verruga. Se fosse algo mais caro já estariam fazendo o maior barulho).

A Folha foi atrás de vasculhar a vida da moça, mas não encontrou indícios de enriquecimento ilícito, já que ela mora num apartamento modesto, segundo a própria PF, no modesto bairro do Bexiga, SP. Nem encontrou jóias, carros, lanchas, fazendas, casas de praia. Mas encontrou um material explosivo: a secretária da presidência havia viajado várias vezes na comitiva presidencial para 23 países, com passaporte especial.

Tal passaporte dá a seu portador algumas regalias, como prioridade na fila de imigração e dispensa de visto de entrada, quando em viagens oficiais. À parte a relevante informação de que o passaporte é emitido sem custo para o titular, a Folha o chama de superpassaporte (denominação inexistente) e passaporte diplomático, o qual é totalmente diferente, pois libera o portador de todas as burocracias de imigração e alfândega.

Isso deu assunto para a Folha fazer uma extensa matéria, em que a secretária é identificada como ex-assessora de Lula, com direito a arte – mapa, calendário de viagens, valor das diárias. Detalhe: o tal passaporte foi emitido em 2007 e  venceu em 2010 e não foi renovado desde então.

Da Folha

Ex-assessora de Lula indiciada pela PF teve passaporte especial

A Presidência da República concedeu um passaporte que prevê tratamento especial a Rosemary Nóvoa de Noronha em viagens internacionais para acompanhar Luiz Inácio Lula da Silva, então titular do Palácio do Planalto.

Entre 2007 e 2010, ela viajou com o então presidente para 23 países, em virtude de pelo menos 30 eventos –de posses de presidentes a encontros de chefes de Estado.

Rose, como é conhecida, ex-chefe do escritório regional da Presidência em São Paulo, foi indiciada na semana passada na Operação Porto Seguro da Polícia Federal.

Ela é acusada de fazer parte de uma organização infiltrada no governo para obtenção de pareceres técnicos fraudulentos. No sábado, Rose foi exonerada do cargo de confiança que ocupava.

Em janeiro de 2007, a pedido da Presidência, o Ministério das Relações Exteriores concedeu a ela um passaporte diplomático, conhecido como “superpassaporte”. Caracterizado pela capa vermelha, ele é destinado a poucas autoridades.

O documento, emitido sem custo para o titular, permite acesso a fila de entrada separada nos aeroportos e torna dispensável o visto nos países que o exigem. O tratamento tende a ser menos rígido.

INTERESSE DO PAÍS

O passaporte de Rose esteve válido até 31 de dezembro de 2010, véspera da posse da presidente Dilma Rousseff. Em 2011, o documento não foi renovado. Não há registro de viagens internacionais de Rose a serviço do governo desde então.

O documento especial de Rose foi concedido sob a justificativa de ser do “interesse do país”, um caso excepcional, já que o cargo que ela ocupava não consta da lista de autoridades do decreto que regulamentava a concessão à época.

O decreto 5.978/2006, assinado pelo ex-presidente Lula, dava os “superpassaportes” para presidentes, vices, ministros, parlamentares, chefes de missões diplomáticas, ministros de tribunais superiores e ex-presidentes.

Entre os países visitados por Rose estão Alemanha, Portugal (duas vezes), México, Cuba (duas vezes), El Salvador (três vezes), Rússia, Coreia do Sul, França, Inglaterra, África do Sul, Guatemala, Costa Rica, Paraguai, Venezuela, Chile, Argentina (duas vezes), Gana, Peru, Espanha, Ucrânia, Bolívia, Bélgica e Uruguai.

Em dezembro de 2007, ela foi com Lula à posse da presidente da Argentina, Cristina Kirchner. Também participou da posse do presidente de El Salvador, Mauricio Funes, em junho de 2009.

No mesmo ano, acompanhou Lula na 2ª Cúpula dos países do G20, em Londres. Em 2008, novamente foi a uma cúpula do G20, em Seul, na Coreia do Sul.

HISTÓRICO

Em janeiro de 2010, a Folha revelou que filhos e netos de Lula haviam recebido, a pedido do ex-presidente, passaportes diplomáticos, também “por interesse do país”.

As reportagens geraram uma ação do Ministério Público Federal para cassar os documentos. Quatro filhos os devolveram e outro o teve cancelado pela Justiça.

O Itamaraty resolveu alterar as regras de emissão 19 dias após a primeira reportagem: agora, só com “solicitação formal fundamentada” e com a divulgação no “Diário Oficial da União”.

Entre 2006 a 2010, durante o segundo mandato de Lula, o Ministério das Relações Exteriores concedeu 328 passaportes diplomáticos por “interesse do país”.

OUTRO LADO

Rosemary Nóvoa de Noronha, foi procurada diversas vezes entre a tarde de domingo e o início da noite de ontem para comentar sobre seu passaporte e a operação da PF, mas não foi localizada.

Foi deixado recado na secretária do celular utilizado por Rose, mas não houve retorno. Contatado, um assessor de Rose na Presidência disse que iria repassar o recado da reportagem.

A assessoria do Instituto Lula informou que só o Ministério das Relações Exteriores poderia explicar a expedição do passaporte diplomático em nome de Rose. Sobre as tarefas desempenhadas por ela nas viagens, respondeu: “As perguntas podem ser feitas para a chefia de pessoal do Itamaraty, que coordenava as comitivas”.

O Itamaraty confirmou que o pedido da Presidência ocorreu em 2007 com a justificativa de que Rose iria “participar do escalão avançado da viagem de uma autoridade brasileira ao exterior”.

Também informou que o passaporte foi dado em caráter excepcional, “em função do interesse do país”.

A propósito da resposta, que atribuiu o pedido do passaporte à Presidência, a Folha voltou a enviar pergunta ao Instituto Lula, mas não houve resposta até a conclusão desta edição.

Luis Nassif

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador