(Atualizado em 14 de março, às 15h30)
Independentemente de não concordar com idéias como “estado mínimo”, e de obviamente não engolir falácias como “…A segunda é a identificação da direita com a ditadura, o que não faz sentido…”, acho extremamente válido. Há muitas pessoas por aí, tão brasileiros quanto qualquer beneficiário do bolsa família ou industrial bem sucedido, que pensam como eles, e que tem tanto direito quanto qualquer um de expor suas opiniões e ter representação política. Penso inclusive que o país vai precisar no futuro próximo revisitar idéias historicamente defendidas por direitas (como aumento da eficiência do estado, redução da carga tributária, etc…), e é importante que existam partidos sérios e competentes para defendê-las, o que hoje não acontece.
É importante o surgimento de figuras políticas genuinamente nacionalistas e genuinamente de direita, o que não temos hoje, e que talvez só tivemos durante alguns períodos da ditadura. É impotante abrir espaço para o surgimento de políticos que defendam por exemplo o interesse das grandes empresas privadas nacionais, que defendam sua plena integração no processo de desenvolvimento do país. É importante que um fulano como o Eike por exemplo, que tem demonstrado um apetite enorme para investimentos no seu próprio país, se sinta politicamente representado, que olhe pros partidos de direita e encontre políticos que atuem de forma oposta à que atuou por exemplo o serra durante o período eleitoral, conforme exposto pelo Wikileaks, com encontros e entendimentos espúrios com multinacionais americanas do petróleo em detrimento de empresas nacionais do mesmo setor como as suas.
Era importante por exemplo haver neste momento um partido de direita com eco no povo que pudesse gritar e ser ouvido “a política cambial tem que mudar, está matando o setor manufatureiro”, defendendo portanto mais do que qualquer serra ou fhc pontos que são certamente do interesse da fiesp, fiemg, etc… Era importante por exemplo um partido de direita com eco no povo que fizesse coro com os militares nesse momento ao reclamar do absurdo sucateamento vivido a décadas no nosso exército, a apresentar o problema, propor soluções. Era importante um partido que queira sim discutir privatizações, mas que o faça com responsabilidade para com o país, sabendo discutir quais setores estão de fato a sobrecarregar o estado, como substituí-los sem perda de acesso às pessoas que dependem desse serviço (muito diferentemente do que tem sido feito pela nossa “direita” por exemplo com a explosão das “universidades” particulares), como fazê-lo de forma a garantir que o mesmo serviço não perca qualidade, como regulá-los apropriadamente (muito diferente do que aconteceu com a telefonia móvel, hoje das mais caras e ineficientes do mundo), como fazê-lo de forma a garantir que seu lucro continue no país, gerando riqueza e investimento no país, de uma forma ou de outra (muito diferente, novamente, do que temos hoje na telefonia móvel).
Eu não teria nenhum problema em votar em um partido assim.
PS: acho que o título é injusto, desmerecendo algo que não necessariamente é ruim. Pelo que está escrito, parece ser algo muito diferente da babaquice do “cansei” e afins, e merece portanto mais atenção e, porque não, respeito.
Por Luiz Horacio
Não há problema algum com a direita, em princípio, “teoricamente”, mas isso também se aplica à esquerda. O problema começa com as radicalizações, com a ideologização e, acho que é este o caso, quando não representa de fato os setores mais responsáveis, conscientes, legítimos e equilibrados da direita. Quando querem apenas se aproveitar dessa bandeira para uma aventura política, porque é a esquerda que está no poder.
Essa direita progressista, equilibrada, legítima e de fato representativa da sociedade brasileira, de sua estrutura social, de sua produção econômica, terá ainda de se reorganizar e reapresentar no Brasil. Ou será que a esquerda tem o mesmo talento para ser empreendedora e produtora de riquezas gerais (é só ver o que ocorreu em todos os países ou regimes da esquerda)? Dizer que a direita não contribuiu para a construção do país, de tudo que há no Brasil hoje, é de um desconhecimento absurdo. Existe de fato uma grande distorção sobre a imagem da direita. E não saber o que é a direita apenas prejudica o nosso país. Mas a direita também não é o desvio da direita, também não é a distorção da direita, e também não é o extremismo da direita. Bem, da mesma forma isso se aplica a esquerda, e nos dias atuais há muitos problemas com a esquerda. Por isso o discurso do “endireita”. Sua legitimadade, contudo, será totalmente questionável, se não tiver como base essa direita legítima, mas mais uma tentativa de José Serra, de tentar assumir o controle do país.
Por enquanto, a direita como força construtiva, responsável e progressista continua ausente do processo político brasileiro, e trata a política como mais uma “assessoria”, como mais um “fator” a ser “solucionado” em seus problemas cotidianos. Então mesmo essa direita está errando, e está colhendo seus prejuízos, ou não. Porém, apenas está tendo grandes lucros porque tem de participar dessa integração ao atual modelo que deseja reformular. Então está em conflito. Que não poderá ser resolvido por uma radicalização da direita. Quer dizer, a questão política, da contraposição democrática de forças legítimas, está em aberto. E isso faz com que a esquerda também derive, sem uma oposição mais sistemática e bem fundamentada. Vemos apenas a briga pelo poder e uma sequência interminável de ações ilegítimas, quando não ilegais, no quadro político. Então para endireitar, teria de endireitar mesmo, sem trocadilhos, o que não é o caso até agora. Tem de se endireitar pelo equilíbrio, pela pluralidade e pela responsabilidade. Quer dizer, quem fizer coisa errada, tem de ser responsabilizado.
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