A rejeição de Bolsonaro e de Doria cresce mais do que sua aceitação. Lula segue favorito, por Marina Lacerda

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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A rejeição de Bolsonaro e de Dória cresce mais do que sua aceitação. Lula segue favorito.

por Marina Lacerda

Temos discutido aqui os movimentos de opinião que as últimas pesquisas eleitorais indicam. Havíamos dito, em fevereiro, que Bolsonaro crescia estrondosamente, e que havia superado o máximo da extrema direita brasileira em eleições nacionais – o que segue sendo verdade. Segundo a última pesquisa Datafolha, hoje ele tem 16% das intenções de voto, 20% excluídos brancos e nulos — mais que o dobro da votação do integralista Plínio Salgado em 1955, que obteve 8,3% dos válidos.

Já em abril dissemos que Bolsonaro provavelmente havia alcançado seu limite máximo. Se Bolsonaro bateu no teto ou não a última pesquisa Datafolha não ajuda a elucidar totalmente, mas é provável que sim. Bolsonaro cresceu um ponto percentual desde abril, dentro da margem de erro. Lula também se mantém estável nessa perspectiva (30%), considerando o Cenário A.

O que chama atenção, porém, é que a rejeição de Bolsonaro cresceu muito. Consideremos os candidatos mais viáveis nesse momento.  De abril para cá, de acordo com o mesmo instituto, a rejeição a Lula cresceu 2% (de 45 para 46%), a de Marina 19% (de 21 para 25%) a de Alkmin 21% (de 28 para 34%), a de Dória 25% (de 16 para 20%) e a de Bolsonaro 30% (de 23 para 30%). Aécio e Temer nem foram considerados pelo instituto de pesquisa, e são realmente carta fora do baralho eleitoral.

A rejeição de Dória e de Bolsonaro, novatos em eleições presidenciais, cresce mais rapidamente do que suas intenções de votos, conforme o tempo passa e eles vão ficando mais conhecidos. De abril desse ano para cá, as intenções de voto em Dória cresceram 11% (ele tinha 9 e passou para 10 pontos) e a rejeição cresceu 25%. As intenções em Bolsonaro cresceram 7% (de 15 para 16), e a rejeição 30%. É possível que o tom elitista de Dória e o tom radical de Bolsonaro mais desagradem do que agradem os eleitores.

Agora, consideremos não o percentual do crescimento, mas o acréscimo de pontos na rejeição e aceitação de cada um, de acordo com o Datafolha de abril e de junho de 2017. Vamos fazer uma brincadeira: pegar o acréscimo nas intenções de voto e subtrair disso o acréscimo na rejeição de cada candidato. Temos, assim, o seguinte resultado:

 

As intenções aqui são aquelas da pergunta estimulada. “Alguns nomes já estão sendo cogitados como candidatos a presidente em 2018. Se a eleição para presidente fosse hoje e os candidatos fossem esses…, em quem você votaria?”. A evolução de Alkmin é tomada pelo Cenário B e a de Dória no Cenário C; antes quem integrava o Cenário A era Aécio. Já a rejeição indica as respostas à pergunta: “Em quais desses candidatos… você não votaria de jeito nenhum no primeiro turno da eleição para presidente da República em 2018?”.

Lula é o mais estável – sua alteração está na margem de erro. Tanto Dória quanto Marina cresceram um ponto nas intenções, e sua rejeição aumentou quatro pontos. Alkmin ganhou dois e perdeu seis. O crescimento dos tucanos é pequeno especialmente se se considerar que eles deveriam incorporar os oito pontos que Aécio tinha. Bolsonaro cresceu um ponto, mas perdeu sete. Bolsonaro tem a pior relação ganho/perda. Provavelmente os setores mais à direita já conhecem Bolsonaro e já o apoiam. Os outros setores o estão conhecendo agora e não gostam dele.

Questiona-se sobre o poder evangélico na eleição de Bolsonaro. Jair Bolsonaro é católico. Seu filho Eduardo, porém, já se elegeu pelo PSC e o Bolsonaro pai saiu do PP para o PSC recentemente. O PSC, embora não seja um partido evangélico, é o partido mais expressivo das pautas evangélicas e com maior proporção de evangélicos na Câmara. Há uma identificação entre o Bolsonaro e esse setor e uma aproximação crescente. Mas mesmo se Bolsonaro se tornar o candidato dos evangélicos (talvez ele já seja o candidato de grande parte dos pentecostais), não há tanto espaço de crescimento assim. Pelo CENSO de 2010 (já faz sete anos, mas é o dado que temos), os evangélicos eram 22% da população brasileira. Só que o evangélico é um grupo religioso heterogêneo. Os pentecostais, politicamente mais à direita, são apenas 13,3%.

Somemos a isso outra análise de opinião, a sobre o crescimento da simpatia ao Partido dos Trabalhadores. O PT desde os anos 2000 foi o partido com mais adesão, mas a simpatia ao partido caiu bastante em 2015 (ainda que continuasse sendo o favorito). A simpatia ao PT voltou a crescer, e alcançou recentemente 18%, a uma distância grande dos segundos colocados – PMDB e PSDB, com 5%.

Em resumo, temos que a esquerda se aglutinou no PT, que a extrema direita se aglutinou no Bolsonaro, e que a direita e o centro propriamente dito ainda carecem de líder, já há um ano da campanha eleitoral.

Lula está tecnicamente parado tanto na adesão quanto na rejeição. Isso indica incapacidade de a Lava-Jato lhe causar mais dano, mas também a dificuldade que o ex-presidente tem de ampliar seus apoios. Lula tem hoje, no Cenário A, 30% dos votos, ou 38% dos votos válidos. Ele supera a marca petista entre 27 e 32% dos votos válidos em primeiro turno, alcançada em 1994 e 1998, as últimas eleições em que Lula perdeu. Mas ele ainda está longe dos 46 e 48% que alcançou em primeiro turno nas eleições de 2002 e 2006, quando venceu. Está longe mesmo da marca de Dilma Rousseff no primeiro turno de 2010: 46%. No primeiro turno de 2014, com o país mais dividido, Dilma alcançou 42%.

O percentual de indecisos vem caindo, e chegou a 2%. Mesmo assim há muitos fatores de desestabilização iminente: possibilidade de condenação de Lula, possibilidade de mudança de regime (para o parlamentarismo), possibilidade de eleições a qualquer momento com a queda eventual de Temer. Tudo isso influenciará, é evidente, o cenário eleitoral.  

 
Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

12 Comentários

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  1. Bolsonaro

    A mídia de esquerda se preocupa e dá muito espaço a Bolsonaro. Esse cidadão deveria mesmo é ser esquecido desprezado pois ele não passa de uma figura patética que o povo não sabe nem que existe. Só a esquerda não esquece Bolsonaro.

  2. Mudança de regime?
    Muita cara de pau propor isso. A CF definia a escolha por plebiscito, que houve e quem ganhou foi o presidencialismo. Não ha o que se falar em mudança de regime, seria um golpe (mais um) contra a vontade do povo.

  3. Esta suéter do Dória.

    Salvo a classe média paulistana ter ficado louca de vez e com mau gosto, com seus atributos, e mais esta suéter, era dificil o Dória emplacar. Seu jeitinho autoritário/afetado sempre me faz lembrar de Dorival Cayme:

    Um Vestido De BoleroDorival Caymmi  Um casaco bordôUm vestido de veludoPra você usarUm vestido de boleroLero, lero, leroJá mandei comprarSe o casaco for vermelhoTodo mundo vai usarSaia verde, azul e brancoTodo mundo vai usarApesar dessa misturaTodo mundo vai gostarÉ que debaixo do boleroLero, lero, leroTem você yayá

  4. Em que pese o presidente Lula

    Em que pese o presidente Lula ser o favorito em qualquer cenário,é preciso ver que os golpistas (ou seja,todo o resto do espectro pesquisado e mais seus sócios da mídia e do judiciário) não fizeram todo este “esforço” em vão.

    O Objetivo deles é e sempre foi claro: O poder a qualquer custo..

    Assim,acredito que,qualquer análise que tenha como base os números apresentados e não conclua pela unidade do espectro golpista tem grande probabilidade de estar errada.

    Os golpistas,entre outras coisas,tem como melhor negociar o tempo da TV,ainda fudamental em uma campanha eleitoral,isto sem falar do tempo não oficial largamente à sua disposição.

    Além de tudo isso ainda temos o trabalho diuturno de desconstrução do presidente Lula que,se não o impediu de recuperar seus eleitores tradicionais vem logrando êxito em manter aqueles que não nutrem simpatia pelo presidente a uma distância bastante considerável.

    O Brasil passa por um momento sombrio,muito triste,talvez o pior de sua história. Assim como o golpe não foi construído da noite para o dia,desfazê-lo exigirá algum tempo que,diante de um quadro de ameaça generalizada a políticos atuais,tenderá a não ser curto.

  5. A Rebeca me pergunta: Pai, quais os motivos para votar no Bolso?

    A Rebeca, minha filha de 13 anos me dá um susto ao perguntar-me se su sei quais os motivos para votar em Bolsonaro?

    Quando minha vermelha acendeu, ela responde: Nenhum.

    Eu respiro aliviado.

  6. Sempre se esquecem

    Não vale mais o que está escrito.

    Esse bando não tomou o poder na mão grande pra entregar assim numa boa.

    Mais alguns meses dessa quadrilha: procuradores, judiciário, congresso e mídia; o que vai sobrar de Brasil?

    Nessa altura qualquer pesquisa não tem sentido algum. Qual o propósito?

    Talvez alertem Bolsonaro e o Dória para mudarem o seu marquetingue.

     

     

  7. Sou um candidato a Presidência
    Tenho meu projeto para melhorar e aprimorar a política brasileira.
    1- Cooperativa Municipal de financiamento de políticos
    2- Fundo Garantido p/ os pequenos e micros empresários
    3-Criação do deslocamento nacional brasileiro.

  8. DataFolha tem credibilidade?

     

    A reportagem só esqueceu de dizer que o instituto DataFolha não tem qualquer credibilidade. São do mesmo grupo da Folha de SP e do UOL. O UOL recentemente fez uma pesquisa on-line e assim que perceberam que Bolsonaro estava disparando, tiraram a pequisa do ar. Se você tem dúvidas, procure no YouTube por “UOL apaga pesquisa após Bolsonaro liderar”. Chega a ser triste a manipulação que este pessoal tenta impromir no seu leitores. 

  9. O Bolsonaro é o único a favor

    O Bolsonaro é o único a favor do porte de armas, porém é neo-liberal, só favorece os mais ricos e a classe média, e não o povo. Já a esquerda como o PT e o PSDB, são basicamente o poder das elites illuminati dominando o brasil e colocando todos em cheque-mate. Eu vou anular o voto, como fiz em 2010.

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