A revolução no Cefet

Por daniel diniz

Prezado Nassif,

assunto que tem me chamado muito a atenção é a insistência do Serra na questão do ensino técnico.

Sou professor de um Instituto Federal, antigo CEFET, e tenho acompanhado uma verdadeira revolução nessas escolas. Mas é revolução mesmo! São inúmeras as vagas abertas todos os anos para efetivação de professores, expansão impressionante do número de alunos, fundação de inúmeros campi novos, dinheiro para obras de infraestrutura (salas de aula, laboratórios, etc), verbas para pesquisa, a transformação dos centros em institutos (gerando aumento substancial do número de graduações tecnológicas e licenciaturas inclusive), melhoria salarial, perspectiva de crescimento tanto vertical como horizontal, reforço da assistência estudantil (com melhoria dos restaurantes universitários e com bolsas alimentação e trabalho para alunos necessitados).

No ensino superior, também, o quadro é impressionante. Dias atrás conheci o canteiro de obras da Universidade Federal os Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), em Diamantina, e – sem exagero – fiquei boquiaberto… Parecia a construção de Brasília dada a quantidade e o tamanho dos prédios. Um campus inteiro brotando do nada, no meio do interior do país. Tenho notícia de que isso se repete em várias universidades e inúmeras outras escolas técnicas.

Nossos alunos, além disso, dada a política de valorização profissional a que nós professores estamos submetidos nas escolas técnicas, contam com professores mestres e doutores nas mais diversas áreas do conhecimento, inclusive nas disciplinas básicas. Um técnico em mineração que formamos hoje, por exemplo, em nosso campus, além de cursar as disciplinas técnicas com excelentes professores, possui aulas de filosofia, literatura, matemática, história, geografia, dentre outras, com doutores ou doutorandos formados pelas melhores universidades brasileiras, num quadro que tem se expandido rapidamente nos últimos anos e que tende a ser massificado em caso de continuação da política atual.

Então vem Serra dizer, diariamente, que vai investir em ensino técnico como se tivesse descoberto um grande filão, uma grande ausência do atual governo e como se não soubesse que a política do governo FHC para as escolas técnicas foi homicida: transferia para municipios e iniciativa privada tal modelo de ensino – algo tão furado que nem mesmo o governo de São Paulo, sob Serra, adotou.

Além disso, Serra parece realmente que não compreende que o filho das classes mais baixas e média baixa, e inclusive seus pais, não desejam que o filho se forme apenas um técnico e migre para o mercado de trabalho. Isso foi assim no passado. Hoje, nosso aluno sabe que sairá de nossa escola e migrará para a universidade pública.

Há cerca de um ano eu conversava com uma aluna nossa, excelente por sinal, que dizia que ao concluir o curso de mineração faria vestibular provavelmente para engenharia civil, pois seu pai era pedreiro e ela pensava que, formando-se na civil ela poderia, com ele, montar algum tipo de negócio em que aliasse seu conhecimento ao expertise do pai. Ela não falava isso como um sonho inatingível; antes, era uma realidade, uma opção dentre outras. Ela sabe que pode escolher pois há universidades por perto e há sua formação que é sólida, numa escola pública (e por isso, inclusive, é tão importante ter bons professores nas disciplinas básicas).

O que Serra finge não perceber é que muitos até sairão da escola técnica e migrarão diretamente para as empresas, mas isso será opcional e não destino único. O que não percebe, ou finge não notar, é que seu discurso sobre as escolas técnicas não cola entre professores, alunos, pais de alunos, vizinhos e familiares de alunos e professores da rede de ensino técnico e tecnológico no Brasil atualmente, sobretudo por que essas pessoas são muitas e estão espalhadas dada a capilaridade que somente no quadro atual se alcançou. P

ara quem discursa, então, o candidato do governo que entre 1995 e 2002 quase desmontou essa mesma rede que hoje diz querer expandir? Por que acreditar naquele que participou de um governo que quase não contratou professores e negou sistematicamente melhoria das condições salariais e de trabalho aos técnico-administrativos e professores da rede federal de ensino técnico e tecnológico e não naquela que representa o governo que não apenas salvou o modelo, como lhe deu estatuto legal (que não possuía), lhe dobrou o número de escolas e mudou, radicalmente, sua qualidade? Por fim, por que Serra fala indistintamente sobre isso sem que ninguém o questione ou duvide de suas boas intenções? 

Luis Nassif

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