A Universidade Federal Indígena de Roraima, por Telmário Mota

A Universidade Federal Indígena de Roraima terá cursos de biologia, geologia, agronomia onde os indígenas e não indígenas aprenderão o que a ciência diz sobre esses temas, mas poderão também levar seu conhecimento tradicional para as pesquisas relacionadas a esses assuntos feitas na própria Universidade

Por Telmário Mota

Nos últimos 15 anos foram criadas no Brasil 18 Universidades Federais. Isso é muito bom para o povo brasileiro. Mas acredito que nenhuma delas poderá ter o impacto simbólico da primeira Universidade construída dentro de uma reserva indígena no Brasil e talvez no Mundo, a Universidade Federal Indígena de Roraima – UFIRR.

Uma universidade indígena, para que? Alguns devem estar se perguntando. Ora, eu inverto a pergunta: e por que não uma Universidade Federal Indígena?

Minha experiência diz que o que mais falta à população de Roraima é atendimento médico e educação de qualidade, emprego, renda e desenvolvimento sustentável, sem destruição da floresta.

A Universidade Federal Indígena de Roraima é uma ideia dos meus companheiros indígenas, minha e, principalmente, do meu amigo semeador de universidades, o Reitor Dr. José Hamilton Gondim Silva.

Ela tem exatamente o objetivo de atender essas três necessidades: educação, saúde e desenvolvimento sustentável.

Os indígenas podem ter o que aprender sobre a ciência moderna, mas nós também temos muito a aprender com eles, sobre a região onde vivem, as plantas, o solo, as ervas medicinais, os animais da floresta, os peixes e até o modo de vida mais harmonioso com a natureza. Uma herança riquíssima em conhecimento para a saúde e desenvolvimento mundial que estão se perdendo com o avançar das gerações.
A Universidade Federal Indígena de Roraima terá cursos de biologia, geologia, agronomia onde os indígenas e não indígenas aprenderão o que a ciência diz sobre esses temas, mas poderão também levar seu conhecimento tradicional para as pesquisas relacionadas a esses assuntos feitas na própria Universidade.

Atualmente há 68 Universidades Federais, 24 estão apenas nos Estados de Minas Gerais (11), Rio Grande do Sul (07) e Bahia (06). Roraima tem apenas uma Universidade Federal, enquanto não existe Universidade alguma para atender os indígenas no Brasil. E nenhum estado seria mais apropriado do que Roraima, que possui a maior proporção de indígenas do Brasil, 18%.

E nenhum lugar seria mais apropriado do que a Reserva Raposa Serra do Sol, talvez a única grande reserva indígena brasileira com uma rede urbana, rodoviária, elétrica e de telecomunicações já instaladas dentro. A preexistência dessas redes são condições fundamentais para o sucesso do empreendimento e somente a Raposa Serra do Sol possui esses pré-requisitos entre as grandes reserva amazônicas.

Universidade Federal Indígena de Roraima – UFIRR será construída na comunidade de Placa que fica em um ponto equidistante entre os municípios de Normandia, Uiramutã e Pacaraima, o que permite atender perfeitamente aos moradores e estudantes instalados nessas três importantes cidades, que já possuem toda infraestrutura pública e comercial necessária para atender uma adicional população estudantil. A comunidade de Placa também já possui toda a infraestrutura, incluindo transporte, eletricidade e telecomunicações.

Dessa forma, este projeto poderia beneficiar diretamente os municípios de Normandia, Uiramutã e Pacaraima, para que os jovens indígenas e não-indígenas possam ter uma formação adequada para exercerem atividades produtivas e sociais nascomunidades de toda Amazônia.

Esse projeto contribuirá para o desenvolvimento agrícola, florestal, mineral e tecnológico da região, assim como na área social, especialmente em saúde e educação, que sofrem com a falta de recursos humanos dispostos a viver nas áreas mais distantes do estado e de todo o Extremo Norte do Brasil. A UFIRR formará médicos e professores indígenas e cablocos que se alegrarão em servir à população nos confins da Amazônia, o que nem sempre acontece com profissionais formados nas grandes cidades.

Hoje os tempos estão difíceis em Roraima. Mas se preparem! Com planejamento e investimentos no presente, o futuro de Roraima será glorioso. Nada gera mais retorno à sociedade do que educação!

Telmário Mota – Senador da República

Redação

2 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Parabéns aos índios do Brasil. Esta universidade que deverá ser seguida por outras do mesmo tipo, poderá ser um marco na inclusão social indígena com permanência e aperfeiçoamento de suas raízes culturais. Nela não poderá faltar, entretanto, um curso de alto nível de Antropologia. É fundamental que este curso de Antropologia seja o mais prestigiado da universidade. Os índios têm que compreender suas origens e sua posição no mundo a partir do mais profundo conhecimento científico disponível.

  2. Rezo para que as universidade saia mesmo do papel. E espero que nela haja lugar para pesquisas não só na área de Antropologia – como disse o Severino Januário – mas também de pesquisa das línguas indígenas, trabalho que, até hoje só tem sido feito, de maneira consistente pelos missionários empenhados em evangelizar esses povos.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador