A vertente teórica do socialismo chinês

Comunista a China não é mesmo. Socialista, numa acepção materialista-dialética-histórica também não. Trata-se, com efeito, de uma deformação positivista, cuja base está na visão particular de socialismo que Lenin detinha e foi copiada pelo mundo – admitam os chineses ou não, mas Mao foi um mero plagiador das experiências soviéticas. Trata-se de algo que o velho Marx não poderia imaginar, uma ditadura totalitária na qual o partido, uma organização tecno-burocrática que paira sobre tudo e todos e conduz, à marcha forçada, nos trilhos de um progresso que só os inteligentes entendem, agindo em nome do povo.

Quando pensava no socialismo como fase para alcançar o comunismo, o pensador germânico considerava uma fase de transição emancipatória da opressão do capital com o uso dos instrumentos políticos vigentes para socializar a produção, submetendo-a, inclusive, ao controle operário. Socialismo, em suas variadas vertentes e concepções, é marcado por um processo bastante elementar: Operários assumindo controle dos meios de produção – como nos lembra o anarco-sindicalista ChomskyComunismo é o estágio final no qual a socialização se completou e, por um processo natural das relações econômicas, os mecanismo coercitivos do Estado – e ele mesmo – se extinguem por desnecessidades – isto é, num ponto onde ele já está submetido a uma lógica que vai para além da própria democracia, nunca negando-a.

Esse socialismo que se realizou historicamente não corresponde a isso, seu projeto teórico em Kautsky e Lenin já apresentava claras falhas projetivas – como denunciava Rosa Luxemburgo – e isso se concretizou na prática. No Vietnã, inclusive – muito embora de uma forma muito menos desumana que na China. A Possibilidade de existência dessa forma de socialismo, fruto de um processo revolucionário, não era claramente considerada em Marx. Usando uma classificação de formas de governo do mundo antigo – seguida pelos modernos -, falamos de uma espécie dearistocracia, onde os melhores, os aptos a governar por saberem coisas que os reles mortais jamais serão capazes de alcançar, são os membros do Partido, corporação maior do país, abrangendo desde a política ao funcionamento direto da economia. Trata-se de um eco do projeto teológico de Platão. Uma deformação que nada tem a ver com o Esclarecimento.

Luis Nassif

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