África: novo horizonte industrial e digital?, por Luiz Felipe de Alencastro

‘Lista do FMI sobre as dez economias que mais crescerão em 2019, mostra que seis são africanas, entre as quais a Etiópia, chamada, desde 2015, de 'China da China'’

Jornal GGN – O processo de industrialização da África é um dos fatos mais importantes do nosso tempo. A análise é do economista Noah Smith, citada na coluna do historiador e cientista político Luiz Felipe de Alencastro, desta terça-feira (4), no UOL.

“Um artigo do economista Noah Smith, publicado pela Bloomberg, retoma os pontos principais do livro de Irene Yuan Sun, The Next Factory of the World (2017), para dar relevo à industrialização da África. Os motivos da mudança são múltiplos. Frente à guerra comercial e tarifária sino-americana e aos custos crescentes dos salários chineses manufaturas multinacionais se mudarão para a África, onde a mão de obra é abundante e barata”, destaca Alencastro.

Empresas independentes chinesas estão criando novas fábricas no continente. “A previsão mais recente do FMI, citada no artigo, mostra que na lista das dez economias que mais crescerão em 2019, seis são africanas, entre as quais a Etiópia, chamada, desde 2015, de ‘China da China'”.

Alencastro ressalta, ainda, que em 2017, a África foi a região do mundo que registrou a maior porcentagem de crescimento de usuários da internet: 20%. “Os polos de desenvolvimento de startups (Tech Hub) crescem em vários países africanos, com destaque para a Nigéria e a África do Sul, segundo o site especializado Tech News 24-7”, completa.

A “evolução” recente africana está criando um novo marco no século XXI, pontua o cientista político. É um desenvolvimento baseado nos moldes do capitalismo ocidentalizado e chega à região que apresenta grande quantidade de mão de obra barata, terras disponíveis para exploração, inclusive de minérios.

Alencastro lembra que os 54 países que compõe o continente africano “lidam com um problema grave desde seu nascimento: a artificialidade de suas fronteiras territoriais”.

Assim como aconteceu na América, na África as fronteiras foram quase todas desenhadas pelos colonizadores europeus. “Mas na América, as independências nacionais foram obras dos colonos. Enquanto na África, onde a presença europeia era mais reduzida, foram os colonizados que lideraram as independências rearfirmando culturas enraizadas na época pré-colonial”.

Ainda assim, ao analisar o desenho das fronteiras entre os países africanos o que se vê é uma “flagrante manipulação europeia”.

“A média mundial de fronteiras nacionais que seguem linhas geométricas é de 25%. Porém, na África esta média salta para 42%, ilustrando a intervenção decisiva da régua e compasso de europeus que pouco ou nada conheciam dos povos africanos”, destaca o cientista político.

Um exemplo, é o mapa da Guiné Equatorial: um retângulo quase perfeito cortado em 1885 para a Espanha, entre o território do Gabão francês e dos Camarões, então colônia alemã.

A partilha da África pelos europeus aconteceu a partir da Conferência de Berlim (1884-1885). “Seguindo muitas vezes esquemas arbitrários desenhados nas chancelarias europeias, três quartos das atuais fronteiras nacionais africanas foram traçadas entre 1885 em 1910”, pontua o historiador. Para ler a coluna de Luiz Felipe de Alencastro na íntegra, clique aqui.

Redação

1 Comentário

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  1. Sem querer chater, mas chateando: excelente matéria, mas no mapa o “Sudão” aparece com a configuração antiga, sem a separação do Sudão do Sul. Abraços.

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