Antes, agenda social impulsionava a economia. Agora, “pobre dá gasto”

Segundo a ex-ministra do Desenvolvimento Social, mais de 1,5 milhão de famílias deixaram o Bolsa Família por "opção" de Bolsonaro

Brasília – A ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, comenta os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2014, divulgada pelo IBGE (Valter Campanato/Agência Brasil)

Jornal GGN – A ex-ministra do Desenvolvimento Social Tereza Campello afirmou em entrevista ao Instituto Humanitas Unisinos que a brusca mudança na agenda social do País foi uma opção de Bolsonaro que não tem conexão com necessidade de ajuste fiscal. Para ela, o presidente de extrema-direta decidiu investir menos no Bolsa Família, por exemplo, porque diferente dos governos anteriores, acredita que “pobre dá gasto”.

Incitada a traçar um paralelo entre o desenvolvimento social do País nas gestões petistas e agora, Campello respondeu que as mudanças não são “circunstanciais porque nenhuma das mudanças em curso é conjuntural: a PEC do Teto dos Gastos Públicos é uma medida constitucional que nunca foi feita e que mexe em questões orçamentárias dentro da Constituição Federal.”

“Essa PEC vai durar por 20 anos, congelando os gastos do governo em saúde, educação, assistência social, saneamento básico, energia, água; em 20 anos, se perde uma geração no Brasil. Não estamos falando de mudanças conjunturais por causa de um ajuste de câmbio ou uma crise. Se observarmos as mudanças na Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, que tiveram e estão tendo um impacto na precarização do trabalho no Brasil e na desorganização do mercado de trabalho, levando à redução dos empregos e à instabilidade do trabalhador, veremos que se trata de uma reforma que é para sempre. Não são questões pontuais de caráter orçamentário ou de ajuste. Isso também ocorre com a reforma previdenciária, que muda o perfil da previdência.”

“Nós acreditávamos que a agenda social não era só parte da agenda econômica, mas impulsionadora da agenda econômica. A inclusão social não era vista apenas como uma questão de justiça social – era também de justiça social e de direito –, mas econômica. Isso porque, ao ter acesso à renda, a população ajuda a dinamizar a economia brasileira, pois consome produtos nacionais, como roupas, calçados, alimentos e isso tudo faz a economia se movimentar. Acreditávamos que isso era bom para o conjunto dos brasileiros. Era uma compreensão do modelo de desenvolvimento que o Brasil deveria seguir.”

“A visão que está no governo hoje é oposta a essa. Trata-se de uma visão de que pobre é gasto. A nossa visão era de que investir na população pobre significava gerar dinâmica econômica. Para o atual governo, pobre é uma variável de ajuste fiscal. É uma situação dramática do ponto de vista econômico, porque essas medidas só vão afundar o país e não o ajudam a sair da crise. Cortar a renda da população mais pobre só gera mais pobreza, porque essa população para de consumir, o que reduz o consumo no país e deixa de existir aquela base de renda que dá sustentação e faz o país se movimentar. Além disso, é uma tragédia social, porque essa população desempregada, com perda de renda, perde ainda com o corte das políticas sociais, num momento em que mais precisa.”

Leia a entrevista completa aqui.

Redação

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