As articulações de Aécio para 2011

Do Valor

Aécio tenta aproximar PSDB do PSB e PDT

César Felício, de Sabará (MG)
30/08/2010

Favorito para ser um dos senadores eleitos este ano com maior votação proporcional, o ex-governador mineiro Aécio Neves (PSDB), com 70% de intenções de voto segundo a última pesquisa Datafolha, começa a estruturar uma linha de ação para 2011 “que independa do resultado da eleição presidencial”, segundo afirmou. A provável derrota do candidato tucano à presidência, José Serra, ainda é um tema interditado por Aécio em entrevistas.

O projeto de Aécio envolve aproximar o PSDB do PSB dos irmãos Cid e Ciro Gomes, respectivamente governador e deputado federal pelo Ceará, e do PDT do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, apostando que a dualidade entre petistas e tucanos irá permanecer.

“Ainda vamos ter esta polarização por mais algum tempo. O que é necessário é criar no Congresso uma agenda de Estado que permita convergências e assim não cair no que chamei algumas vezes de ‘armadilhas plebiscitárias”, afirmou Aécio, em um hangar do aeroporto de Pampulha, a poucos metros da mãe, Inês Maria Neves, com quem viajou na tarde de sábado para São João Del Rey, onde iria realizar gravações para a campanha.

NestaNesta agenda, segundo Aécio, estão a reforma política, a previdenciária e o que chamou de “refundação da federação”: um pacto entre o Congresso e governadores que reduza a dependência econômica dos Estados em relação à União e assim permita maior autonomia política frente ao Palácio do Planalto. “Não podemos ter um Congresso tutelado. Não podemos ter um Senado formado por ‘senadores do Lula’, ‘senadores da Dilma’ ou ‘senadores do Zé’. Este Senado já foi absolutamente caudatário do presidente. Excetuando a derrota da emenda constitucional que prorrogava a CPMF, não houve mais nada”, afirmou o ex-governador, insistindo que o raciocínio contempla tanto a possibilidade de eleição da candidata presidencial do PT, Dilma Rousseff, quanto a de Serra, “Ninguém dentro do PSDB jogou a toalha”, garantiu.

A presidência do Senado não é uma possibilidade que Aécio aceite discutir. “Presidência de Casa Legislativa é da maioria. O grupo congressual que representar a maioria vai fazer o presidente. O PSDB, pela estimativa da direção nacional, deverá crescer para 15 senadores”, afirmou o candidato tucano.

Pouco antes da conversa no hangar, Aécio não escondia a euforia com o resultado das últimas pesquisas, enquanto percorria as ruas do centro histórico de Sabará, em Minas, ao lado do governador Antonio Anastasia (PSDB), que tenta a reeleição, e do ex-presidente e ex-governador Itamar Franco (PPS), que tenta a segunda vaga ao Senado. O trio contava com a companhia do presidente estadual do PSB, o deputado estadual Wander Borges, e do prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB).

Segundo pesquisa do instituto Ibope, Anastasia ultrapassou Hélio Costa (PMDB) e atingiu 35% das intenções, ante 33% do rival. O tucano cresceu oito pontos percentuais e o pemedebista caiu cinco. A mesma pesquisa, divulgada sexta-feira, mostrou Serra com 27% das intenções de voto no País, ante 51% de Dilma. Na pesquisa Datafolha, realizada entre os dias 23 e 24 de agosto, Hélio Costa continua com 14 pontos de dianteira sobre Anastasia e Aécio mostrou-se sem competidores que possam lhe tirar a vaga no Senado. A coligação de Costa lançou apenas um candidato com chances efetivas de vitória, o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel (PT), que está com 25% das intenções de voto. O segundo colocado na pesquisa, e portanto favorito para a segunda vaga, é Itamar, com 44%.

“A pesquisa é boa para o Brasil”, disse Aécio. Dentro de um helicóptero, já a caminho do hangar na Pampulha, explicou: “Existe um descolamento das eleições regionais em relação à eleição nacional. É um movimento horizontal, não vertical. Isto está se mostrando não só aqui em Minas Gerais, mas também no Paraná, e em São Paulo, também. Não vai haver virada lá”, afirmou o candidato. Nestes dois Estados, os tucanos Beto Richa e Geraldo Alckmin lideram a disputa.

Sobre a eleição presidencial, Aécio limitou-se a comentar: “Esta é uma eleição nacional fria, em que a emoção não tem dado o tom na decisão do voto. Mas é importante lembrar que os bons resultados dos candidatos da nossa aliança nos Estados vão dar impulso ao Serra”. No mesmo helicóptero, Anastasia comentou: “Há alguns analistas que dizem que existe uma sentimento difuso de bem estar que favorece a manutenção dos atuais governos”. Aécio e Anastasia têm agendas praticamente superpostas na campanha, enquanto Itamar frequentemente cumpre uma agenda própria.

Instantes antes, ao subirem na carroceria de uma picape para um minicomício improvisado em Sabará, os dois se referiram ao candidato presidencial do partido. “Não vamos deixar a peteca cair, a virada está acontecendo em todos os níveis”, disse Anastasia. “Esta é a minha turma, este é o meu lado, estou com Serra para presidente”, afirmou Aécio.

Tanto um quanto o outro não esperavam resposta tão rápida da propaganda eleitoral do rádio e TV nas pesquisas.

“Não havia como o Anastasia entrar em um patamar diferente na eleição, porque, no meu caso, eu não tinha como colocar uma ministra no telejornal todo o dia falando de investimentos durante meses e meses. As pessoas se informam pela televisão e a televisão só chega com o horário eleitoral”, afirmou Aécio.

Com a dianteira de Anastasia, Aécio prevê como efeito imediato dificuldades de Hélio Costa em manter a base de prefeitos a seu lado . “Há uma grande preocupação com 2012 e os prefeitos vão se realinhando ao começarem a ver qual é a perspectiva de poder estadual. Estavam esperando o cenário se definir para entrar de fato em campo”, comentou.

O ex-governador adiciona outro fator que estaria impulsionando candidatos da oposição federal nos Estados. Para determinados segmentos do que se convenciona chamar de “formadores de opinião”, haveria um incômodo com o fortalecimento excessivo que a eleição deste ano poderá trazer ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Nunca é bom existir um partido hegemônico, sobretudo no Congresso Nacional”, disse. 

Luis Nassif

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