As críticas a UNE

Por Bruno Moreno

Nassif, encaminho este ótimo texto abordando os discursos da grande mídia e da oposição de esquerda. O caso é justamente a questão do financiamento do Congresso da UNE. Trata-se de texto de opinião com posição, mas que deve suscitar uma boa discussão.

Conluio apaixonado persegue a UNE 

Por Diego Lustosa 

Um recente episódio na mídia deu novas pistas da violenta e inconfessada paixão entre a direita e a gauche-esquerda, o caso amoroso mais interessante da política brasileira nesse início de século. Eles odeiam-se, atacam-se, ofendem-se, mas na hora de agir revelam toda a afinidade e unidade de sua práxis. A direita e a gauche-esquerda uniram-se, mais uma vez em uníssono, para insultar a União Nacional dos Estudantes e tentarem pulverizar o movimento estudantil brasileiro. Claro que sempre mantendo o distanciamento que convém a seres supostamente tão opostos, e flagrantemente afins. Nesse novo capítulo, cada um utilizou os meios de comunicação dos quais dispunha para difamar uma entidade que há 74 anos protagoniza lutas e conquistas históricas para a sociedade brasileira. Quando será que esses apaixonados enfim deixarão os caprichos ideológicos de lado e se casarão? 

Para a mídia demotucana, o recado já foi dado pelo inestimável ex-presidente. Durante o Congresso, Lula lembrou que as mesmas empresas que financiaram o 52° Conune, como a Petrobrás e a Caixa, costumam pagar altas quantias em horários nobres, mas que disso a imprensa não reclama. Resta-nos acrescentar que numa outra mídia pequenininha, muito menor do que o influente jornalismo conservador, mas que em nada destoa de sua atividade, o discurso é exatamente o mesmo. Grupos que se dizem de esquerda dedicam-se, talvez por falta de criatividade ou capacidade intelectual, a repetirem precisamente os mesmos discursos que a imprensa demotucana vomita diariamente em seus veículos de informação. Aliados a ela, incriminam os movimentos sociais, os acusam de estarem comprados pelo governo, os condenam por causa do diálogo que mantêm com o Estado e os perseguem a todo  custo, buscando todos os meios para enfraquecer e destruir as lutas sociais. A pretexto do socialismo, tem promovido uma campanha apaixonada de criminalização dos movimentos sociais, que enfraquece os atores sociais e só serve para fortalecer seus próprios partidos. E os ingênuos os seguem admirados… Muitas nobres almas que sonham com um mundo melhor acabam acreditando nessa indignação “despretensiosa” da gauche-esquerda. Iludidas com o falso discurso revolucionário, crêem que a única motivação de tais grupos é o puro propósito de mudar o mundo, esquecendo-se de que PSOL/PSTU/afins são partidos políticos, e como tais, estão na luta permanente para chegar ao poder.

Tem muita gente por aí reproduzindo os discursos fantasiosos, irracionais e ahistóricos dos partidos políticos da gauche-esquerda. Isso ocorre frequentemente com pessoas de altos valores, baixa compreensão política e pouco realismo, que desejam tão somente viver em uma sociedade mais justa e humana. Desavisados e honestamente indignados, acabam por repetir ideias, posicionamentos e raciocínios falaciosos de políticos cuja maior ambição é ocupar o governo e executarem seus interesses partidários. Atualmente no país, os dois principais grupos de oposição ao governo do Partido dos Trabalhadores são a direita conservadora, composta sobretudo  pelos moribundos tucanos e democratas; e a gauche-esquerda, representada pelos sectários do PSOL/PSTU/afins. Estão apaixonados. Mas ainda não sabem. Logo serão os dois uma só carne. A jovem e ardente gauche-esquerda está para perder os pudores que a impedem de unir-se intensamente ao decrépito direitista. Evocará Marx como padrinho de casamento. A História será a madrinha. Aprenderá finalmente que os elementos do passado podem ser reorganizados de outra forma. E matará o agonizante demotucano para utilizar a herança em seu plano catastrófico contra a democracia. Mas… terá capacidade para tanto?

Prognósticos à parte, além dos ingênuos, da gauche-esquerda e dos demotucanos, talvez existam ainda mais três espécies de pessoas que desejam destruir a UNE: os narcisistas-rancorosos, os idealistas-alienados e os masoquistas – todos eles combustível precioso no motor dos sectários. Sem pretensão de esgotar ou mesmo fornecer um quadro profissional de análise psicológica, tais categorias são úteis para indicar comportamentos típicos que podem ser encontrados por toda a parte onde há alguém com uma bomba para pôr na UNE. Os narcisistas-rancorosos são os que ainda não deixaram a adolescência, não conseguiram acompanhar o crescimento do corpo. Estão tão apaixonados por si mesmos que ainda não foram capazes de compreender que a realidade objetiva não pode ser o retrato perfeito de seus pensamentos, nem o reflexo colorido de suas fantasias. Amam tanto a si próprios que não aceitam que existem outras pessoas que também sonham sonhos diferentes e tão nobres e lúcidos como os seus. Como não entendem a impossibilidade de seus desejos, nem as razões do fracasso de seu projeto, seguem atacando rancorosamente quem quer que lhe pareça ser o responsável pela sua tragédia pessoal: os pais, o presidente, Deus, a humanidade… Sentem que algo está errado, que não é culpa sua, mas só do universo inteiro. Rejeitam com raiva e teimosia que o mundo onde nasceram existe antes e para além deles. E especialmente nesse ponto, se parecem bastante aos idealistas-alienados. Estes também são bastante irritados e costumam achar abrigo no lugar-comum do jovem rebelde. Possuem um ar de superiormente revoltados, sentem-se especiais e melhores que as outras pessoas porque pensam que são os únicos que enxergam os erros do mundo. São ahistóricos, alienados do mundo real, das pessoas reais e do movimento dialético das sociedades no tempo. Podem até discursar sobre História, mas na realidade a desprezam, pois crêem que podem fazer descer à Terra, com seus poderosos discursos, de um dia para o outro, o paraíso que tanto idealizam. São confusos, desajeitados, incapazes de aliar energia e inteligência na transformação real do mundo. Não gostam de dialogar, mas preferem as revoluções dos monólogos. Contestá-los é falar só ou tornar-se seu inimigo; um acomodado, na melhor das hipóteses. Além desses dois tipos, tem também uma pequena parte de masoquistas… Morrem de ódio contra a UNE porque, historicamente, a entidade conquistou o direito deles saírem às ruas sem serem presos, agredidos, espancados e torturados pela polícia. Vez ou outra até podemos ouvir que suspiram com imenso saudosismo: “Ai, ai… que saudades dos hematomas revolucionários…”

O Teatro dos Vampiros 

Embora existam muitos pontos de incoerências e falsidades nos discursos extremistas, nos limitemos à análise da “polêmica” do momento, criada pelo apaixonado dueto. O casal da má-fé estrondosamente anuncia em seus veículos de comunicação que o 52° Congresso da União Nacional dos Estudantes foi financiado com dinheiro público, através de ministérios e empresas estatais. Mal-intencionados, pregam que essa é a definitiva prova de que a UNE encontra-se atrelada e submissa ao governo. O principal argumento, exaustivamente repetido, é que o repasse de verba pública pelo Estado para a realização do evento é um flagrante indiscutível da corrupção da UNE. A partir desse dogma, apressam-se em concluir que a entidade não tem utilidade social, e que portanto deve ser destruída. Notem: destruída, aniquilada, exterminada! Essa é a tônica do discurso. E ainda esforçam-se para passar a ideia de que com isso estão dizendo algo novo, ou pensando numa façanha nunca antes tentada. Por acaso não é esse o antigo sonho dos inimigos dos estudantes? Não são esses os planos frustrados dos adversários da sociedade brasileira há quase um século? Há alguma novidade nesse projeto que ao longo de 74 anos vem sendo derrotado pela força da juventude e pela coragem do movimento estudantil brasileiro? Ridícula, desfila a velharia disfarçada de vanguarda.

Apesar dos ataques sofridos, a UNE não é o único movimento social criminalizado pela oposição. Alvos de insultos e acusações sensacionalistas, os movimentos sociais brasileiros tem sido ofendidos tanto pela imprensa demotucana quanto pelos radicais “de esquerda”. O conluio orquestra diariamente na mídia uma campanha de desgaste dos movimentos perante a sociedade. Afirmam que as entidades estão vendidas, submetidas e atreladas ao governo, pelo fato de serem favorecidas por recursos públicos repassados pelo Estado. Com isso, além de pôr a opinião pública contra as reivindicações e lutas dos movimentos, declaram que milhares de militantes de várias pautas sociais do Brasil são corruptos, desonestos ou idiotas. O desrespeito explícito às pessoas que lutam para a transformação da sociedade, assim como o enfraquecimento da pressão social, devem realmente favorecer muita gente, menos o povo brasileiro. A quem interessa essa derrota? Como podem certos partidos da gauche-esquerda como PSOL/PSTU/afins, que intitulam-se defensores dos explorados e oprimidos, afrontarem com tamanho desrespeito os movimentos sociais? Aliás, é curioso, mas não costuma-se ver PSOL/PSTU/afins denunciarem com tanta indignação o recebimento de verba pública por organizações civis quando trata-se de embolsar o dinheiro do Fundo Partidário. Talvez acreditem que suas organizações políticas tenham mais direito que os movimentos sociais. Talvez achem que para eles é mais natural ganharem tanto dinheiro do que para os outros. Ou talvez o problema seja mesmo a concorrência, já que apenas nos últimos três anos (até jul/2011), a independência financeira do PSTU (e da Anel) custaram ao Estado nada menos do que a singela quantia de R$ 1.064.540,03; dinheiro utilizado, entre outras nobres demandas, para difamar a UNE e atacar os movimentos sociais. No mesmo período, os cofres públicos desembolsaram para o PSOL a revolucionária soma de R$5.898.897,32; verba destinada, entre outras elevadas necessidades, para combater programas sociais como o PROUNI, o REUNI e boicotar políticas públicas que beneficiam o povo brasileiro. É interessante que haja tanto barulho pela UNE ter recebido dinheiro público para a realização de seu Congresso e tanto silêncio sobre o fato do contribuinte bancar, ano após ano, o fanatismo, o ódio e o desserviço prestado pelo PSOL/PSTU/afins à sociedade.

A pureza revolucionária do PSOL/PSTU/afins é financiada diretamente pelo Estado brasileiro, pelo dinheiro do povo. É um direito dos partidos políticos garantido por lei, que curiosamente não costuma ser questionado pelos puristas pregadores da independência ao dinheiro público. São muito revoltados contra as injustiças e explorações do sistema, mas não tremem tanto de indignação quando se trata de utilizá-las em benefício próprio. Quando falam da UNE, a falsidade que se esforçam para sustentar é que o movimento estudantil não passa de uma mercadoria, passível de ser negociada numa relação de compra e venda entre governo e líderes estudantis. Com isso, tentam ofender diretamente milhares de estudantes brasileiros, engajados na defesa de seus direitos e na construção de um movimento estudantil democrático e combativo. Um movimento social tão plural não pode ser uma mercadoria, mas é o conjunto vivo e dinâmico de consciências em efervescência. É o entrechoque de aspirações, sonhos e interesses múltiplos. E é o que qualquer participante dos Congressos da UNE consegue nitidamente perceber: a energia, o entusiasmo e a determinação com que milhares de jovens, dos diversos campos e teses, com paixão e ideologia, disputam os rumos da entidade em relação aos temas da atualidade. É um show na construção do espaço democrático, é a juventude festejando a democracia e semeando o futuro.

Se o critério do financiamento público, utilizado insistentemente pelos sensacionalistas, fosse realmente aplicado de forma justa, imparcial e não tendenciosa, quem poderia escapar ao rótulo de corrupto? Qual é a entidade neste país, com significativa representatividade, que não necessita em algum momento de patrocínio? Quem é que consegue organizar e promover um evento de dimensão nacional sem recorrer ao auxílio do Estado? Não há lei que proíba o governo de repassar dinheiro aos movimentos sociais. Tampouco há injustiça nesses financiamentos, uma vez que as verbas concedidas são um retorno insignificante dos impostos pagos por cada cidadão ali presente. Não existe, portanto, como querem a ardente gauche-esquerda e os decrépitos demotucanos, uma relação mecânica entre financiamento Estatal e  submissão política de uma organização social. Até porque, como foi demonstrado, eles próprios são favorecidos com os repasses milionários da União, e nem por isso deixam  de falar aquilo que querem. Quando será que o conluio apaixonado se cansará de disparar seus textos rancorosos contra tudo e contra todos? E quando será que vai romper definitivamente o saco de mentiras que fabricaram para colocar não só a UNE, mas também a UNEGRO (União de Negros pela Igualdade – Brasil), a UBM (União Brasileira de Mulheres), o Movimento Gay Leões do Norte, a UNICAFES/PE (União das Cooperativas da Agricultura Familiar e de Economia Solidária de Pernambuco), o MST (Movimento dos Trabalhadores sem Terra) e até campos específicos do movimento estudantil como a FEMEH (Federação do Movimento Estudantil de História)? Não apenas a UNE: ninguém escaparia do critério do financiamento público, muito menos quem a ele recorre. Não escaparia também a UNEGRO, a UBM, a UNICAFES, o Movimento Gay, o MST, e outras centenas de movimentos espalhados pelo Brasil. Não escaparia sequer a FEMEH, já que o Governo de Sergipe, o SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e a UFS (Universidade Federal de Sergipe) foram alguns dos patrocinadores do Encontro Regional dos Estudantes de História (Ereh – Nordeste) em abril de 2011.Insistimos: até quando os sensacionalistas defenderão a corrupção generalizada dos movimentos sociais? Até quando terão a prepotência de ofender cada trabalhador desse país que milita por uma realidade mais justa? Até quando tentarão negar o combate, a pressão, as frequentes mobilizações e as vitórias concretas dos movimentos sociais?

Conquistas e Desafios

Sem dar ouvidos a seus inimigos, a UNE marcha corajosamente nas ruas do país. A Jornada de Lutas do mês de março levou milhares de estudantes nas principais cidades do Brasil a ocuparem as avenidas para reivindicar dez por cento do PIB e cinqüenta por cento do Fundo Social do Pré-sal para a educação (esta última já aprovada no Senado). “Educação tem que ser 10!” é a palavra de ordem da juventude que não aceita o baixo percentual destinado à educação e que exige o aumento imediato do investimento público na melhoria do sistema educacional brasileiro. Além da Jornada de Lutas, a UNE encaminhou um documento com 59 emendas para o PNE (Plano Nacional de Educação), fruto de debates e discussões promovidos pela entidade em diversos espaços democráticos. Só neste ano, a UNE construiu o 13° Coneb (Conselho Nacional de Entidades de Base), o 59° Coneg (Conselho Nacional de Entidades Gerais), o 4° EME (Encontro de Mulheres estudantes da UNE), o 3° Enune (Encontro de Negros, Negras e Cotistas da UNE) e o 52° Conune (Congresso da UNE), eventos que reuniram milhares de militantes de diversos campos políticos. Na pauta das emendas ao PNE, a UNE propõe a criação do Fundo Nacional de Assistência Estudantil, formado por 2% do orçamento do MEC e 2% dos lucros das Instituições Privadas. A UNE está engajada na luta pela democratização do ensino superior, apoiando políticas de regulamentação do ensino privado e de ampliação na oferta de vagas no ensino público. A UNE também ergueu uma bandeira de solidariedade em defesa do povo árabe, recebendo no Congresso deste ano o embaixador do Estado da Palestina, que falou aos estudantes e agradeceu o apoio recebido. Debates, mobilizações, encontros, intervenções, diálogos… A UNE não só grita, mas também sabe dialogar, atuando de todas as formas para a consolidação das vitórias estudantis. Como podemos facilmente perceber, a única coisa inativa no cotidiano da UNE é a boa-fé de seus inimigos.

Ao contrário do que afirmam seus adversários, a UNE jamais se omitiu aos grandes debates nacionais, nem às lutas da juventude brasileira. A entidade está muito longe de oferecer apoio incondicional ao governo, como gostam de afirmar. A campanha nacional “Educação tem que ser 10!” reivindica o uso de 10% do PIB na educação, enquanto o Estado destina apenas 4%, e tem se mostrado disposto a aumentar esse valor apenas para 7%. O último Congresso reafirmou a campanha e fortaleceu o propósito de não ceder a uma porcentagem inferior. Quanto à regulamentação do ensino superior privado, a UNE propõe uma fiscalização maior do PROUNI pela comunidade acadêmica e pelo Estado, assim como o aumento do rigor nos critérios para a concessão da isenção fiscal às universidades privadas. Também não poderia deixar de ser mencionada as vitórias conquistadas recentemente no FIES, que dispensou a figura do fiador e diminuiu as taxas de financiamento para o estudante. Mas, apesar de tantas vitórias, existem também muitos obstáculos a serem ultrapassados. Um dos grandes desafios da UNE atualmente é conseguir vocalizar os questionamentos, expressar as dificuldades e canalizar o mal-estar vivenciado por todos os estudantes do Brasil. Como qualquer grande movimento nacional, em muitos casos encontra dificuldades de fazê-lo. Somando-se a isso, existe a apatia e o acomodamento de alguns que, apesar de questionarem a presença da UNE na base estudantil, nada fazem para inserir-se no processo de construção, transformação e fortalecimento da entidade. Quem quer mudar a UNE na UNE tem que lutar! A atitude de quem coloca-se confortavelmente distante do conflito nunca foi responsável por nada de útil na história da humanidade. Aqueles que pensam ter razão em suas propostas que convençam as pessoas de suas ideias e conquistem, com esforço e competência, seu merecido espaço. Obviamente, a UNE não é uma entidade perfeita. Não existe organização humana perfeita, porque não existem pessoas perfeitas. Apontar os erros dos outros é muito fácil, difícil mesmo é tomar coragem e ir à luta do que se acredita. Os que pensam que a melhor forma de mudar os erros de uma organização é fundando outra devem seguir em frente: reúnam bichos, plantas e extraterrestres, e logo terão a entidade perfeita.

O Senhor dos Anéis

Assim, na contramão do realismo, da democracia e do bom senso surge a mais libertária, a mais perfeita, a mais espetacular, a mais pura, a mais independente e revolucionária criação do PSTU! Sim, nunca antes na história deste país um partido político ousou tamanha proeza: inventar um movimento estudantil só seu e ainda denominá-lo de “livre”! Só mesmo um partido tão revolucionário para conseguir surpreendente façanha… E da vanguarda cômica do PSTU nasce a Assembleia Nacional dos Estudantes – Livre, Anel, a maior piada do movimento estudantil brasileiro. Um time que entra em campo só com ele mesmo, joga sem equipe adversária, sem juiz ou bandeirinha, e ainda faz a maior festa com o golaço marcado! Uma organização monopartidária que disputa o competitivo espaço de seu próprio quintal, e ainda é bem-humorada o bastante para intitular-se “livre”! Sim, ela é mesmo livre: livre dos conflitos de opiniões, livre das tensões democráticas, livre do insuportável convívio com o outro, livre de coerência. Sem maiores transtornos e sem ter de enfrentar a desagradável opinião de quem não pensa como eles, a Anel segue pregando o “movimento do novo”. Com essa bandeira, sem qualquer constrangimento, pudor ou escrúpulo, anuncia com cinismo e arrogância o firme propósito de destruir a UNE e firmar-se como ideologia única do movimento estudantil brasileiro. Oscilando entre o ridículo e o absurdo, a Anel vagueia pela loucura e pela politicagem de um partido político cuja ideia de democracia é a destruição incondicional de seus adversários. Tal atitude, aliás, reflete com fidelidade todo o sectarismo, fanatismo, extremismo e intolerância de seu dono. Para se ter ideia da grande piada de mal gosto, enquanto o 52° Congresso da UNE – democrático, representativo e pluripartidário – foi disputado por 19 teses diferentes, o Congresso da Anel reuniu os militantes do PSTU… os militantes do PSTU… ah, sim!… teve também os militantes do PSTU… alguns mais desvairados do PSOL… e uma pequena parcela de ingênuos desavisados, atraídos pela propaganda supostamente revolucionária do PSTU.

Uma jogada desesperada, o grande blefe político dos nossos dias: eis a tradução perfeita da Anel. O discurso indignado e raivoso do PSTU atrai alguns jovens ingênuos assim como a mariposa é atraída pela chama. Manipular a revolta e a inexperiência da juventude para alcançar seus objetivos é a maneira que o PSTU encontrou para ganhar espaço no cenário político nacional. Exploram o desejo ardente do jovem pela liberdade e pela justiça para ludibriá-lo com a sedutora proposta de uma entidade “livre”. Só que a Anel é um apêndice do PSTU. É parte de uma estratégia abertamente proclamada por um documento recentemente vazado do partido, mas que o PSTU decidiu negar a autoria. Nele, o partido declara acerca do então planejado Congresso da Anel: “a construção de nossa alternativa para o movimento estudantil nacional, a grande oportunidade no semestre para fortalecermos nossas equipes [do partido].” Em outro trecho, afirma que

“do modo como nossa juventude se estrutura hoje, a construção do partido se dá em regra no movimento estudantil. Esse é um setor policlassista, ou seja, encontram-se aí elementos de setores médios, até filhos da burguesia. […] Por outro lado, não se pode esquecer que nosso partido tem exemplos valiosos  de como é possível ganhar militantes jovens e comprometidos fundamentalmente com nosso projeto, a exemplo dos muitos jovens saídos do setor para a proletarização. Assim, a atuação no movimento estudantil permite, por um lado, que tragamos para o lado do proletariado parte dos setores médios da sociedade (…).”

E não pára por aí:

“No primeiro semestre deste ano, a construção do congresso será uma das maiores oportunidades para captarmos novos militantes, fortalecermos as equipes, vendermos mais jornais, aumentarmos nossa influência partidária. Nossa alternativa de organização ao movimento estudantil nacional deve ser, do ponto de vista da construção, uma espécie de ‘peneira’ para trazermos ao partido o melhor da vanguarda.”

Não seria preciso dizer mais nada. No entanto, para deleite dos questionadores, oferecemos o conteúdo (ainda) disponível no site do PSTU, em que é declarado com muita clareza o mesmo interesse estratégico do partido no movimento estudantil:

“Hoje o PSTU é uma alternativa revolucionária implantada em setores fundamentais dos movimentos sindical e estudantil [grifo nosso]. […] A conclusão então é clara: precisamos lutar no dia a dia, no movimento operário, estudantil ou popular. Mas devemos agregar outro elemento estratégico a esta luta: a construção de um partido revolucionário, sem o qual a revolução será impossível.”

Um braço do PSTU, nada mais. Essa é a natureza da Anel, o seu propósito e sua finalidade. A Anel é um fantoche pintado de jovem rebelde, controlado pela astúcia de políticos capazes de tudo para atingirem seus objetivos, inclusive destruir um movimento estudantil histórico simplesmente para fortalecer seu partido. É a estratégia inescrupulosa de um grupo político que tenta dividir o movimento estudantil nacional com o objetivo explícito de cooptar militantes. A “Assembleia Livre”, na realidade, é a prova mais explícita da falta de talento e competência dos dirigentes do PSTU, que não conseguindo cativar a juventude nos espaços da UNE, obviamente por seu discurso ultrapassado e falacioso, partiram para uma tática mesquinha de criminalização da UNE e fundação de seu próprio clube político. O sectarismo do PSTU subestima a inteligência dos jovens. Por isso, nada fará senão atrair por um instante a atenção da juventude, que por não ser estúpida como supõem, logo perceberá sua jogada patética.

E, para quem acha que as falsidades da Anel acabam por aí, surge mais uma situação, no mínimo, bastante interessante. Ora, o principal pilar que sustenta e justifica a existência da Anel é sua suposta independência ao dinheiro público.  Militantes do PSTU enchem o peito de orgulho para declarar que sua entidade é livre do financiamento público, que é independente das verbas repassadas pelo Estado e que não utiliza o dinheiro do povo. Surge então, inquieta, insistente e desconcertante a pergunta que não quer calar: quem vem financiando a Anel desde sua criação? Quem tem fornecido o suporte financeiro para reuniões, mobilizações nacionais, propaganda e, por fim, para a realização de seu congresso? Só para lembrar aos que vivem apenas de idealismo: transporte, alimentação, alojamentos, site, internet, telefonia, jornais, adesivos, energia e outras necessidades custam caro para serem atendidas, e muito caro! A própria Anel declara essa situação no caderno de resoluções aprovadas em seu congresso: “[…] a entidade não existe só no terreno das palavras, pois temos gastos concretos como a mensalidade do site, os jornais e adesivos das campanhas, as reuniões nacionais e estaduais, etc.” Eles afirmam, no mesmo documento, que durante os últimos dois anos tem conseguido dinheiro com os sindicatos (ligados ao PSTU, evidentemente) e “campanhas financeiras esporádicas”, um belo eufemismo para a velha “vaquinha”. Acontece que, para a realização de um congresso nacional, assim como para sustentar os gastos mensais já mencionados, uma “vaquinha” esporádica não seria nem de longe o suficiente para bancar tantos  custos. E, nesse ponto, cabe um questionamento: afinal de contas, o PSTU banhou ou não seu Anel a ouro?

Teria o PSTU fornecido ajuda financeira à Anel? Teria, por acaso, contribuído com alguma quantia para a construção da entidade? Será que, mesmo tão decididos a criarem seu próprio movimento, teriam eles dado as costas para as suas necessidades mais concretas? Estaria desamparado financeiramente pelo PSTU um movimento estudantil que dele nasceu e nele encontra a sua finalidade? São apenas ideológicos o apoio e o compromisso do PSTU com a Anel? E a perguntinha inconveniente emerge: entrou algum dinheiro do PSTU na Anel? Aliás, dito de outra forma: teria como não ter entrado? Todo o esforço, dedicação, trabalho e energia empregados na criação da Anel estão completamente livres do dinheiro do PSTU? Bem, como não temos em  mãos as contas do partido para definir matematicamente seus investimentos, resta-nos tão somente esse singelo exercício de lógica. Um simples raciocínio aliás, que  recorrendo à nossa memória, revelará uma verdade que costuma ser, certamente por mero acaso, esquecida pelos super-independentes da Anel. Ora, se a Anel recebeu dinheiro do PSTU e o PSTU recebe dinheiro do povo, quem será que financia a Anel? Reformulando: se o PSTU utiliza o Fundo Partidário para pagar suas contas (aquele  R$ 1.064.540,03 embolsado nos últimos três anos), e as contas da Anel são pagas pelo PSTU, quem é que realmente financia as despesas da Anel? Quanto custa ao PSTU sua estratégia política no movimento estudantil? Quanto será que custa ao Estado brasileiro a revolucionária independência financeira da Anel? Visualizando o fluxo do dinheiro público, encontramos: Fundo partidário – PSTU – Anel – Livres. Quanto custa aos cofres públicos o Anel dourado do PSTU?

Coerência é um dom?

Bem, enquanto as contas não são divulgadas e a submissão financeira ao PSTU não é comprovada, podemos ao menos nos divertir com algumas pérolas publicadas no caderno de resoluções do 1° Congresso da Anel. A entidade zela pela segurança e proteção dos militantes de seu dono, mas não parece muito preocupada com ativistas de outros movimentos ou partidos. Uma das propostas livres aprovadas no  tema “Conjuntura Nacional I” é: “Contra a perseguição e as ameaças de morte aos dirigentes do PSTU no PR.” Puxa… Nada em apoio ao pobre deputado Valdir Rossoni, do PSDB, que desde fevereiro recebe ameaças constantes naquele mesmo estado. Ou nada em solidariedade aos dirigentes do MST, que também vem experimentando a mesma aflição. Além disso, existem alguns pontos no caderno do congresso que comprovam a profunda formação intelectual recebida através da TV globo. A revista Veja também marca presença, revelando-se uma das grandes influências no pensamento dos revolucionários. Dela repetem: “Não ao Novo ENEM!” Sim, é aquele mesmo! O Enem que já aboliu o vestibular em várias universidades e que foi responsável pela entrada de centenas de jovens no ensino superior público e gratuito! O Enem, que como lembra Paulo Henrique Amorim, foi fortemente boicotado por José Serra – o tucano tão acariciado pela gauche-esquerda. Outra relíquia: “Pelo fim do PROUNI! Transferência imediata dos estudantes do PROUNI para as universidades públicas!” Que lírico… todo mundo estudando nos pátios e embaixo de árvores! Se com o Reuni já está trabalhoso expandir a Universidade, imagine transferir hoje milhares de jovens para a rede pública! Tem mais: “CUT, UNE e UBES seguem fiéis ao governo: fizeram campanha pela sua eleição e já mostraram que não vão se enfrentar.” Essa foi outra manchete do Jornal Nacional, aprovada no 1° Congresso… E como essas existem outras. Basta dar uma lida no caderno de resoluções da Anel, remédio eficaz contra a tristeza ou o mal-humor. Eis o Anel do PSTU, feito na Central Globo de Jornalismo; nas terras sombrias de Mordor. A aliança de compromisso, dada pelo amante demotucano, no dedo de sua apaixonada gauche-esquerda.

Diferente desse romance, marcha a UNE na luta pelo aperfeiçoamento dos programas sociais. É uma política de avanço, de melhoramento, não de destruição. A exemplo disso temos o PROUNI. Muita gente não sabe, mas a UNE se colocou contra o PROUNI quando ele foi criado por Lula, e só o apoiou após o programa ter sofrido modificações. A UNE luta pela regulamentação do ensino superior privado, reivindicação em parte atendida com a criação do PROUNI. Além disso, a UNE continua buscando melhorar o programa, defendendo um maior controle social e político das bolsas concedidas. Outro exemplo de independência política é a campanha por 10% do PIB para a Educação, discordando do governo Dilma, que apresenta a proposta de apenas 7%. A questão fundamental quando se trata do apoio da UNE à política do Estado é que ela defende o progresso das ações que beneficiam os estudantes, e mais amplamente, a sociedade. Apesar de ter apoiado o governo Lula e de hoje apoiar o governo Dilma, a entidade está longe de concordar com todas as políticas realizadas. É um posicionamento histórico da UNE. A UNE apoiou esses governos como apoiou João Goulart, após a renúncia de Jânio Quadros. A diferença é que Jango perdeu… Durante as eleições, a UNE defendeu a vitória de Lula e, anos depois, a de Dilma, porque não poderia permitir mais uma vitória da direita conservadora. Eram a alternativa real ao modelo demotucano. Entre a direita neoliberal e um partido socialista nascido da articulação de vários movimentos sociais, a UNE fez sua escolha. A UNE homenageou Lula em seu congresso porque não poderia deixar de aplaudir o presidente que mais construiu universidades federais no Brasil (14); que ergueu 126 novos campi de universidades públicas; que aumentou de 109 mil para 243 mil vagas nas universidades federais; que incluiu 410 mil estudantes pobres na universidade, apenas em 2010, através do PROUNI; que fez do Brasil o segundo país no mundo que mais evoluiu na publicação de artigos em revistas científicas, atrás apenas da China; que fez do Brasil um país com menos desigualdade e internacionalmente respeitado. É uma questão de coerência. A UNE não poderia deixar de apoiar e homenagear personalidades que efetivamente contribuíram na realização de muitas de suas bandeiras históricas.

O casal apaixonado não pode entender isso. Sobretudo a gauche-esquerda, que doente de histeria sofre bastante em matéria de coerência. Mas a UNE é um espaço generosamente democrático, inclusive para receber os militantes do PSTU, como recebe os de tantos outros partidos. Se amadurecerem e decidirem participar da luta real e democrática, a quase secular entidade certamente terá lugar para abrigar seus pontos-de-vista. O diálogo (etimologicamente, conversação a dois), não o isolamento, é certamente o melhor caminho para seres racionais e equilibrados. Não costuma funcionar muito na paixão, na irracionalidade e na loucura, é verdade. Sintomas, aliás,  que a gauche-esquerda vem apresentando a cada dia com maior intensidade. O decrépito demotucano já começa a paquerá-la… Mas ela é temperamental, voluntariosa, dura na queda… Logo não poderá mais resistir. Deixará Marx e o Capital de lado… Num beijo irresistível, de olhos fechados – como sempre – para o povo brasileiro.

A UNE SOMOS NÓS, NOSSA FORÇA E NOSSA VOZ!

Diego Lustosa é militante do campo Kizomba e membro do CA de História da UCSal

Luis Nassif

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