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Jornal GGN – Sociólogo e professor em universidades de Portugal e dos Estados Unidos, Boaventura de Souza Santos concedeu uma entrevista a um jornal português demonstrando preocupação com a implementação de um “regime híbrido” por Jair Bolsonaro, o presidente eleito desde o dia 28 de outubro de 2018. Mas indicou que a oposição e os movimentos sociais brasileiros têm condições de organizar a “resistência” à agenda de retrocessos que será apresentada nos próximos anos, principalmente na economia e direitos trabalhistas.
O regime híbrido se dá porque conserva traços da democracia, como a chegada ao poder pelas urnas, mas é altamente marcado pelo autoritarismo e moralismo dos militares que acompanham o deputado de extrema direita na Esplanada dos Ministérios.
Para Boaventura, o aspecto positivo é que o Brasil, “ao contrário de outros países da América Latina, tem uma sociedade civil bastante organizada, com muitos movimentos sociais. É evidente que vai haver resistência.” A questão é saber como “é que vai ser enfrentada? Pela concertação ou pela repressão? Se acreditarmos no discurso do Bolsonaro, será pela repressão.”
O pensador destacou, contudo, que Donald Trump também bradava contra vários setores enquanto candidato a presidente dos Estados Unidos. Mas, uma vez dentro do governo, teve de flexibilizar ou atenuar seu discurso.
No caso da imprensa como parte do sistema de freios e balanços a atuar sobre o governo Bolsonaro, Boaventura comentou que é um cenário difícil porque o WhatsApp e o Facebook, principais difusores de fake news, mostraram uma influência e “capacidade tóxica muito grande”.
Quanto ao papel do Judiciário, “a minha preocupação também é grande. Vejo que foi a fraqueza dos checks and balances que levou Bolsonaro ao poder. Isto é, toda a operação Lava-Jato e atropelos à legalidade que se cometeram nesta investigação fizeram com que ela não fosse apenas uma luta contra a corrupção — que é perfeitamente legítima — mas uma luta de desestruturação do sistema político.”
Apesar disso, para Boaventura, o que preocupa mais em Bolsonaro é sua agenda econômica, que não deverá trazer nenhum boom de crescimento significativo, ao contrário do que imagina seus eleitores.
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