
O nome do médico Luiz Teixeira da Silva Júnior ganhou o noticiário na noite desta sexta-feira (4), após o influenciador e candidato à Prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal (PRTB), publicar um suposto laudo contra o seu adversário político na corrida eleitoral e deputado federal Guilherme Boulos (Psol), numa última tentativa de associar o psolista e o uso de drogas ilícitas, às vésperas do primeiro turno das eleições municipais.
Em publicação nas redes sociais, Marçal apresentou um prontuário médico forjado que aponta a internação de Boulos por uso de cocaína, em uma clínica da Mais Consulta, da qual Teixeira é dono, no ano de 2021. O suposto documento continha uma série de erros grosseiros de digitação, além de ser assinado por um profissional de saúde já falecido.
Também nas redes sociais, Boulos afirmou que já solicitou à Justiça a prisão de Marçal e do administrador da clínica. “O dono da clínica tem um vídeo com o Pablo Marçal, é apoiador dele, e nós vamos publicar aqui no meu Instagram esse vídeo assim que eu terminar a live“, afirmou.
Em decisão do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), o juiz Rodrigo Marzola Colombini, da 2ª Zona Eleitoral de São Paulo, citou a “falsidade do documento” e mandou excluir conteúdos sobre o tema.
Nas redes, o parceiro de Marçal se apresenta como biomédico, patologista clínico, perito judicial do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), perito judicial federal, escritor, diplomata adido de saúde, além de CEO da Clínica Gianoto – um estabelecimento de luxo de saúde e estética. O GGN lista agora uma série de casos evolvendo empresas de Teixeira e desvios de dinheiro da saúde pública.
Prisão por desvios de recursos públicos
Em 2017, Teixeira da Silva e sua esposa, Liliane Bernardo Rios da Silva, foram alvos da Polícia Federal (PF) e da Polícia Civil, na Operação Pégaso, deflagrada no Rio de Janeiro e em São Paulo. À época, o médico foi preso acusado de fraudar e desviar cerca de R$ 20 milhões da saúde pública municipal.
Segundo informações obtidas pelo Metrópoles, a fim de esconder os responsáveis pela transação financeira, o casal colocou a empresa envolvida no caso em nome da empregada doméstica e do motorista da família.
“Ao que tudo indica, os Réus Luiz Teixeira da Silva Júnior e Liliane Bernardo Rios da Silva fazem do crime um hábito de vida. Conforme já referido, o Réu Luiz Teixeira da Silva Júnior é reincidente em crime doloso. Já a Ré Liliane Bernardo Rios da Silva, embora aparente não ser reincidente, já teve passagem por solo policial”, diz trecho do decreto de prisão expedido pela Justiça.
“Mais grave que isto, no entanto, é o fato de que ambos vêm praticando crimes de maneira seriada, em detrimento do erário e do sistema de saúde pública municipal, causando prejuízos de ordem milionária e colocando em risco serviço público essencial”, prossegue o documento.
Segundo os investigadores, Teixeira sacava constantemente valores da Medical Rio, a partir de emissão de notas fiscais frias de prestação de serviços, em benefício da empresa de fachada Pratice Administradora de Cartões LTDA, com sede na cidade de Mairiporã, no interior paulista. Essas operações falsas permitiam a volta do dinheiro para Teixeira
Em 2018, o caso foi parar no Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro Alexandre de Moraes, que era o responsável pelo caso, negou um pedido da defesa da esposa Teixeira, para que a prisão preventiva fosse convertida em domiciliar.
Os escândalos do Instituto Hygia Saúde e Desenvolvimento
Barueri
Em um outro caso, movido pela Prefeitura de Barueri, município do interior de São Paulo, Teixeira também é citado como responsável pela Organização Social (OS), Instituto Hygia Saúde e Desenvolvimento, junto com Necionita de Souza Oliveira, que consta como presidente da instituição. Acontece que o Instituto Hygia é citado em inúmeras denúncias de má gestão, incluindo também desvio de recursos públicos.

No caso de Barueri, a instituição teria deixado um rombo de R$ 50 milhões nos cofres do Hospital Municipal da cidade, entre os anos de 2014 e 2016, quando o equipamento público foi administrado pela OS.
Conforme noticiado pelo DCM, Durante, os procuradores (advogados) do município de Barueri levaram mais de três anos colhendo provas das irregularidades até propor a ação civil pública por improbidade, em 2020.
Ao todo foram listadas mais de 18 irregularidades na gestão do hospital à época: desde a suspensão de procedimentos por falta de materiais médico-hospitalares; falta de manutenção de equipamentos; não pagamento de impostos; não pagamento e dívida acumulada com fornecedores; não pagamento de rescisões trabalhistas; gasto indevido; até pagamentos ilegais de R$ 3,96 milhões a empresas fornecedoras de propriedade de parentes dos dirigentes do Instituto Hygia.
Aparecida
Em outro caso no interior de São Paulo, na cidade de Aparecida, a Justiça atendeu pedido do Ministério Público estadual e determinou, em 2019, o bloqueio de bens e o afastamento do cargo da secretária de Saúde do município, no âmbito de ação civil por improbidade administrativa que apontou irregularidades na contratação do Instituto Hygia, para gerir o serviço de saúde no município pelo prazo de 60 meses.
Neste caso, foi constatado irregularidades na celebração do contrato de gestão. Já na fase da execução do contrato, foram identificadas inúmeras falhas sobre a prestação de serviço que se repetiram ao longo dos anos.
O Conselho Municipal de Saúde e a Comissão de Avaliação chegaram a recomendar ao então prefeito a rescisão contratual e restituição dos valores empenhados. Contudo, os requeridos não adotaram nenhuma providência.
Salvador
Em 2017, o Instituto Hygia esteve no centro de outro escândalo, desta vez envolvendo a Maternidade de Referência Professor José Maria de Magalhães Netto, localizada no bairro do Pau Miúdo, em Salvador, na Bahia.
Naquele ano, foi anunciado que a Santa Casa da Bahia deixaria de administrar a Maternidade, que atende pelo Sistema Único de Saúde (SUS), e passaria a ser gerenciada pelo Instituto Hygia.
Meses depois, a Secretaria de Saúde municipal afirmou que substituiria o Hygia na maternidade, por conta da falta de estrutura financeira, em meio a diversas denúncias de atrasos salariais dos profissionais da unidade hospitalar.
Desde 2016, casos semelhantes ao citados acima e envolvendo o Hygia ocorreram em outro municípios paulistas como Sorocaba, Americana, Jundiaí, Caraguatatuba e Avaré, conforme já lembrado pelo jornalista Luís Nassif.
Ainda, vale ressaltar, que apesar desses casos, o Hygia continua atuando na gestão da saúde em pequenas prefeituras. Conforme descrito em seu site, a instituição tem como clientes o governo do Amazonas, a prefeitura de Campo Grande, de São Bernardo do Campo, Ribeirão Preto, Japeri e mais.
Mais escândalos
Além disso, Teixeira foi condenado em 2021 por usar documentos falsos para obter registro profissional de médico. Segundo o Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul, ele apresentou um diploma de graduação em Medicina e uma ata de colação de grau falsos, emitidos pela Fundação Educacional Serra dos Órgãos, que negou que tenha sido aluno do curso.
Neste episódio, Teixeira teria desembolsado R$ 27 mil aos falsificadores. A 22ª Vara Federal de Porto Alegre o considerou culpado e determinou dois anos e quatro meses de reclusão, a serem cumpridos incialmente no regime semiaberto. A condenação foi analisada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), que substituiu a pena por restrição de direitos.
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