Cientistas políticos se dividem ao avaliar atos pró-Bolsonaro

Ao contrário de Collor, Bolsonaro tem um núcleo duro de eleitorado para levar às ruas caso haja tentativa de derrubá-lo, avalia Ricardo Ismael

Jornal GGN – O balanço das manifestações pró-Bolsonaro aponta que, ao contrário do que aconteceu com o ex-presidente Fernando Collor de Mello, que chamou à população às ruas e a resposta foi o oposto, levando à rápida derrocada de seu governo, Bolsonaro tem sim um núcleo duro de eleitorado, como mostrou as manifestações deste domingo, 26 de maio. Essa é a avaliação do cientista político Ricardo Ismael, em entrevista ao repórter Thomas Milz do DW Brasil.

“[Compareceu] mais gente do que eu esperava, apesar do pouco tempo que se teve para convocar”, observou. Mesmo com a ausência de grupos que contribuíram para a vitória de Bolsonaro, como o Movimento Brasil Livre (MBL) do Vem Pra Rua, e de políticos do próprio partido (PSL), Ismael aponta que “existem setores da direita e setores de bolsonaristas sangue-puro que certamente estão mobilizados em defesa do governo e da agenda do governo”.

“Se por acaso tentarem derrubar Bolsonaro com manifestações, haverá uma reação nas ruas”, completou o cientista político.

Durante este domingo, Bolsonaro fez manifestações ambíguas em relação aos atos. Em diversos momentos usou as redes sociais para compartilhar vídeos de manifestantes, incluindo de um que apoiava a CPI Lava Toga, para investigar ministros do Supremo Tribunal Federal. Ele também participou de eventos públicos voltando a indicar que parlamentares representam a velha política, dizendo ser ele o único presidente da história do país que “está cumprindo o que prometeu durante a campanha”.

“É uma manifestação […] com respeito às leis e instituições. Mas com um firme propósito de dar um recado àqueles que teimam com velhas práticas não deixar que o povo se liberte”, disse pela manhã no Rio, durante um culto evangélico. Antes do chegar o dia dos protestos, o próprio presidente falou publicamente da organização dos atos como algo “espontâneo” defendendo a convocação.

Por outro lado, além de desistir comparecer pessoalmente às ruas e orientar os ministros do seu governo a também não comparecerem nos atos, Bolsonaro disse ontem na igreja evangélica que a convocação não tinha a ver com a sua figura. “Hoje é um dia em que o povo está indo às ruas. Não para defender um presidente, um político ou quem quer que seja. Está indo para defender o futuro desta nação. Uma manifestação espontânea.”

Bolsonaro também publicou em uma rede social que é contrário ao fechamento do STF ou do Congresso, ações defendidas por manifestantes aliados. “Há alguns dias atrás, fui claro ao dizer que quem estivesse pedindo o fechamento do Congresso ou STF hoje estaria na manifestação errada”, escreveu.

Quanto a esse ponto, Ismael aposta que o presidente esteja totalmente de acordo com os atos. “É evidente que ele estava apoiando. É a base social dele, uma parte daqueles que o elegeram e ainda continuam fiéis a ele, apoiando ele. E ele precisa disso.”

O cientista político também aponta como legítima às críticas ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e ao chamado centrão, nome informal dado ao grupo de partidos no Congresso que reúne cerca de 200 parlamentares de siglas como PP, DEM, PRB, MDB e Solidariedade.

“O presidente eleito foi Bolsonaro, e não Rodrigo Maia (…) É para começar a negociar com o centrão numa nova base, mostrando que ele tem o apoio das ruas”.

Ismael entende que a partir dos atos de ontem, Bolsonaro pode dizer ao Congresso: “Não vou aceitar chantagem por cargos ou que vocês agora pautem o governo. Vamos negociar.”

A avaliação de Ismael, entretanto, não é compartilhada por todo mundo. Também entrevistado pela DW Brasil, o cientista político Sérgio Praça, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), disse que “as manifestações foram um pouco maiores do que se imaginava, mas não foram todas exatamente pró-governo”.

“Foi uma pauta muito difusa, com alguns manifestantes contra as instituições, como o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF), e essa não é uma posição oficial do governo”, ponderou.

Ele ainda avaliou que “não foi uma jogada esperta” a de Bolsonaro ter lançado as manifestações poucos dias antes de domingo, “pois a direita está dividida”.

“Acho que ele convocou esses atos imaginando que seria uma resposta muito forte aos protestos contra os cortes na educação. E rapidamente percebeu que não seriam manifestações tão grandes assim”, analisou.

O cientista político destacou também não fazer sentido os manifestantes usarem Maia como bode expiatório nos protestos, como alguém responsável por atravancar a reforma da Previdência, uma vez que o parlamentar é um dos membros do Congresso comprometidos com a medida.

Segundo informações da Folha de S.Paulo, em uma reunião com aliados do centrão na tarde deste domingo, Maia comentou que os protestos do dia 15, contra o governo, foram três vezes maiores em relação aos atos de ontem, que tiveram oito vezes mais compartilhamentos nas redes, sugerindo que robôs estão sendo utilizados para inflar o apoio a Bolsonaro.

Praça não acredita ainda que o presidente da Câmara e os partidos do centrão ficaram intimidados com as manifestações deste domingo. “Não acho que o centrão se incomodou”, pontuou acrescentando que as manifestações de ontem não vão alterar a conjuntura política. Leia também: Atos pró-bolsonaro não preocupam ministros do STF e políticos alvos nos protestos

Não há dados oficiais sobre o número exato de pessoas que foram às ruas e em quantas cidades, isso tanto nos protestos do dia 26 de maio (pró-Bolsonaro), quanto nos protestos de 15 de maio (contra o governo). Mas a percepção geral é que o ato dos estudantes contra os cortes na educação levou mais pessoas às ruas contra o presidente Bolsonaro. Para ler a matéria da DW Brasil na íntegra, clique aqui.

Segundo informações do G1, aconteceram atos em favor do presidente em 156 cidades de 26 estados mais o Distrito Federal. Já no dia 15 de maio, aconteceram protestos em 222 cidades de 26 estados mais o Distrito Federal.

Redação

7 Comentários

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  1. O que o Ricardo Ismael costuma fazer, disfarçada de análise, é torcida. Desde os tempos em que palpitava num programa na TVE, acho que se chamava “Espaço Público”, ao lado da jornalista Lúcia Leme, fazia dobradinha com esta nas teses que já então flertavam com o golpismo. Era um tremendo descaramento. Suas opiniões, análises, o que for, são sempre carregadas de conservadorismo, imobilismo, derrotismo. Esse não conta.

  2. Não me deixem só, diria Collor aos seus eleitores e apoiadores. Mas foi tudo em vão.

    Collor assumiu a Presidência em 1º de janeiro de 1990 e saiu em setembro de 1992. Até bem pouco tempo antes do impeachment, Collor teria levado muito mais idiotas às ruas do que o Bolsonaro levou no começo do seu mandato.

  3. Depois de ler o artigo do Maringoni , suscitou-me a criação de um título para a ciência de certos politólogos, como o Sr. Ismael: a ciência política matrix. É o que fazem para agradar a direita, seja ela qual for.

  4. Evangélicos do Espirito Santo foram “convocados” pelos pastores para irem as manifestações, inclusive por um que é miliciano e pertenceu ao grupo de extermínio Scuderie Le Coque

  5. Bullshit.

    Como algumas pessoas comentaram corretamente, basta pararem de tocar o “berrante” que a massa idiotizada que apoia Bolsonaro desaparece das ruas. Ou não perceberam toda a estrutura de carros de som, marketing e materiais que foi colocada nessas manifestações a favor de Bolsonaro? Essas manifestações foram FABRICADAS, tire o marioneteiro que as marionetes deixam de existir.

    O “presidente” brasileiro só têm apoio real entre os grupos mais bestializados do país e esses grupos não representam 5% da população brasileira, o resto é espelhos e fumaça.

  6. Quantas pessoas, que foram no protesto do dia 15 contra os “cortes na educação”, sabiam do que se tratava o protesto?

    Não se pode pedir o fechamento de poderes como o STF e o Congresso pois, seria idêntico ao que foi feito na Venezuela. Isso é inaceitável! Bolsonaro tem o mesmo pensamento e não deseja nem aprova isso.
    Não quer dizer portanto, que daremos apoio, incondicional a Bolsonaro.
    Seja nosso apoio, aquilo que é lógico e racional. O que esta apresentado, até o momento, é lógico e racional portanto, tem que ser aprovado.
    Dizer que falta articulação é dizer que se deseja contrapartidas ou negociatas em causa própria. Isso a nação está enojada de ouvir e ver. Ceder à isso sim é uma grande derrota. Caso aconteça, mesmo que aprove todas as proposta de Bolsonaro, ele sofrerá uma rejeição maior que a do PT.

  7. TODOS aqueles que estavam na manifestação do dia 15 sabiam perfeitamente do que se tratava, ao contrário dos que foram às ruas ontem pelas razões mais diversas, quase todas anti-democraticas.

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