Crônica de mais uma guerra que o Ocidente vai perder, por Manuel Carvalho

A Europa (e o mundo) vai ter de se preparar para uma crise como já não se via desde, pelo menos, a segunda guerra do Iraque, de 2003

Por Manuel Carvalho

Em Publico.pt

A zona do Golfo estava transformada num barril de pólvora que evitava o surgimento de um detonador. O ataque com drones que matou o general iraniano Qassem Soleimani é esse detonador. Um assassinato intencional e seletivo de uma alta figura do Estado é um ato de guerra. O Irã vai retaliar custe o que custar, quanto mais não seja para manter o seu estatuto de potência regional, e faça-o através de uma confrontação aberta ou, como todos os especialistas militares admitem como mais provável, através de manobras da “guerra assimétrica”, o Oriente Médio volta a ser a zona mais infecciosa do planeta. Seja pela germinação de grupos terroristas, seja pela perturbação nos mercados de matérias-primas, a Europa (e o mundo) vai ter de se preparar para uma crise como já não se via desde, pelo menos, a segunda guerra do Iraque, de 2003.

É crucial procurar respostas para o que aconteceu. Para preservar o prestígio ou para a segurança dos Estados Unidos e a dos seus aliados na região, era mesmo necessário assassinar o número dois do grande rival na zona do Golfo? Há muito que é disparate acreditar que gestos destes invertem as tendências de fundo. O clima de tensão, os discursos rufias, o abate de drones ou o confisco de navios mercantes tinham criado todas as condições para que uma das partes cometesse um ato imprevisível. A escalada de tensão entre potências rivais raramente se gere com o apaziguamento. O ataque que matou Soleimani é a prova dessa impossibilidade.

A relação conflituosa entre o tirano de Teerão e a bazófia imprevidente de Washington tinha tudo para gerar este prefácio digno de uma guerra em larga escala. É impossível o Irã não retaliar e é impossível os Estados Unidos não reagirem a essa retaliação. Estaria Trump consciente das consequências do ataque? Avaliou com zelo as consequências de criar um mártir que vai reforçar a coligação antiamericana no Golfo?

Nos próximos dias saberemos o que se começou a desenhar nesta sexta-feira. Não se espera nada de bom. O Irã, o herdeiro da Pérsia, é uma potência histórica na região. Não pode ficar quieto. A vingança tornou-se uma exigência do povo e uma indispensável prova de vida para o regime. Depois dos enormes esforços de Obama para pacificar a região e trazer o Irão para o concerto das nações, o espectro da guerra está de volta à zona do Golfo e pode envolver tanto os sauditas como Israel. O Ocidente nada ganhará com ela. Mas pode haver quem ganhe. Como na Síria, lá estarão os russos, os turcos e talvez até os chineses à espera dos despojos.

Redação

4 Comentários

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  1. A Rússia e a China são os únicos que têm poder para evitar uma guerra em grande escala no Oriente Médio, guerra essa que é de interesse do complexo industrial-militar estadunidense com a vantagem (para eles) de ser bem longe dos EUA. A proximidade e a confiança mútua entre russos, chineses e iranianos é a chave da solução e li hoje que os governos da Rússia e da China já estão trabalhando nisso. No que depender dos estadunidenses eles incendiarão o Oriente Médio para roubar mais e mais petróleo e gás, como já vêm fazendo na Síria e no Iraque.

  2. Que texto pobre.
    Obama tocou o terror no oriente médio, norte da África e Afeganistão.
    Qual o tirano do Irã que ele referencia? A revolução islâmica, nos anos 70, foi um resultado direto do golpe ocorrido em 1954 no Irã, sob o comando dos EUA e que colocou um títere no governo para defender os interesses dos EUA .
    Por onde se olhar, se verá quem é o bandido da história.

    1. Portugueses, como de resto a maioria dos europeus, são incapazes de fazer uma leitura do mundo extra-norte ocidente, senão aquela proposta pela máquina financista que movimenta as engrenagens mediáticas tradicionais e quetais.

  3. O “tirano” do Irã é um herói dos povos do Oriente Médio por ele ter combatido os terroristas estado unidenses, inclusive , o senhor Obama e a sua chefe de estado Killary Clinton!
    O Público pt age como a nossa imprensa golpista quando chama Maduro de ditador e passa pano no Bozonazzi!

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