De 2013 a 2018: interpretações sobre as jornadas de junho cinco anos depois

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornadas de Junho não podem ser categorizadas como um evento da direita ou da esquerda / Pablo Vergara

Por Rafael Rezende, Simone Gomes e Marcelo Borel*

No Brasil de Fato

Aquele parecia ser mais um junho qualquer. Um mês comum para os brasileiros comuns. Tudo pronto para os tradicionais festejos de São João e o país, mesmo sem muito entusiasmo popular, aguardava o início da Copa das Confederações. O que ninguém previu foi que, naquele mês de 2013, as ruas seriam tomadas por multidões e se tornariam palco do maior ciclo de protestos da história do Brasil pós-redemocratização. Exatos cinco anos se passaram desde então e o Brasil ainda busca compreender o ocorrido. Sejamos claros: o objetivo deste não é explicar, mas pensar Junho de 2013.

Poucas vezes na história recente brasileira vimos um evento histórico suscitar análises e avaliações tão polarizadas. As chamadas Jornadas de Junho tornaram-se uma espécie de boneco de Judas, sobre o qual todos podem lançar suas paixões e frustrações. Os diagnósticos mais correntes se polarizam em duas leituras não contraditórias: as que buscam um sentido político imediato, qualificando as Jornadas de Junho como revolucionárias ou fascistas; e as que situam o governo PT ao cerne da análise, colocando-o em posição em embate com as manifestações. Ambos acabam por se mostrar análises vazias, que partem do nada rumo a lugar nenhum.

Para melhor pensarmos as Jornadas de Junho é necessário complexificar o debate. Em primeiro lugar, buscar compreender o ciclo de protestos não como uma convulsão social espontânea ou um evento premeditado, mas como um processo que não começou e nem se encerrou naquele mês. As entendemos como fruto de uma série de variáveis que envolvem um sentimento de indignação difusa, a proliferação de identidades, o desenvolvimento de novas tecnologias de comunicação, e o surgimento de renovadas formas de organização que, até então, se constituíam de forma latente no tecido social.

Em segundo lugar, destacamos é que as Jornadas de Junho não podem ser categorizadas como um evento da direita ou da esquerda. A ausência de uma articulação central e de uma reivindicação unitária, entre outros motivos, fizeram com que grupos e indivíduos dos mais diferentes posicionamentos políticos fossem às ruas, muitas vezes compartilhando o mesmo espaço. As demandas apresentadas eram inúmeras e heterogêneas, assim como a composição social dos protestos, que foi muito mais diversa do que algumas análises apresentam. Por esses e outros motivos, será malsucedida qualquer tentativa de reduzir esse processo a uma categorização unitária e totalizante do seu sentido político.

Tentar compreender o processo de Junho de 2013 e seus desdobramentos é tarefa que envolve uma série de dificuldades: distintas motivações, atores antagônicos no espectro político-ideológico e pautas contraditórias. Dos vinte centavos ao descontentamento com o governo petista; da esquerda revolucionária à direita fascistoide; do clamor por um Estado mais forte e poroso à participação popular, ao “fora todos” e às reivindicações por reforma política. Passados cinco anos, já com certo distanciamento temporal e metodológico, podemos apontar a inclusão de novos repertórios de protesto, a reorganização ativista da direita, o aumento das manifestações em vias públicas – tanto por setores progressistas quanto conservadores –, e uma socialização política da juventude, além de crises institucionais notadamente atribuídas ao turbulento Junho. Todavia, há ainda uma densa neblina que não nos permite enxergar com total clareza os acontecimentos de Junho de 2013 em sua completude, observando-os para além das dicotomias políticas que lhes são inerentes.

*Rafael Rezende é doutorando em Sociologia no IESP/UERJ, Simone Gomes é professora de Sociologia da UFPel e Marcelo Borel é doutorando em Ciência Política no IESP/UERJ.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

16 Comentários

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  1. jornadas de 2013

    Basta ver os resultados pra entender que 2013 foi a hora da virada pra direita sem voto. Viram que dava e fizeram o que agora deviamos fazer com o  governo do vampirão: enfiaram a faca e torceram.

    Com aquele bla-bla-bla de padrão fifa, usaram o padrão cbf pra meter a mão , com o auxilio valiosissimo da globo e assemelhados. E  o roubo foi do meu voto, que foi cassado logo em seguida.

    Quem era mais progressista naquela época se dividiu e alguns foram seduzidos pelo canto da sereia golpista.Ficou facil bater na Dilma e no PT e com isso foi-se o boi da democracia com a corda do desenvolviento economico.

    Agora podiamos ao menos entender e copiar a direitona sem voto na tatica de se unir contra o inimigo comum, como eles fizeram em 2013. Nâo temos a globo ao nosso lado, mas acho ate vantagem pois se passa na globo é pra me enganar.

     

  2. Junho de 2013 ferrou com o Brasil.
    Não esqueçamos a esquerda purista que encampou o movimento dos 20 centavos não negociava com o prefeito petista, mas comparecia em programas da mídia golpista. Mas os petistas também! Sim. E esta esquerda não se colocava como nova e purista? Depois o movimento foi tomado pela direita. E chegamos a onde estamos. Se pago 5 reais na gasolina hoje foi por causa daquela moçada covarde. Sim covarde. A Onde está aquela esquerda agora? A direita eu encontrei nas filas da gasolina com bandeira do Brasil e tudo mais, sem dar um pio. Brasil sem rumo.

  3. ASSIM NASCEM AS DEMÊNCIAS

    ASSIM NASCEM AS DEMÊNCIAS COLETIVAS,INICIOU-SE EM 2005 SEU AUGE FOI 2013 E O DESFECHO 2016.COMBATI QUASE SOLITÁRIO EM 2013,PERDI INÚMERAS AMIZADES,FUI COLOCADO DE CASTIGO EM VÁRIOS SITES DA “EXQUERDA”,SOMENTE EDUARDO GUIMARÃES DO BLOG DA CIDADANIA COMBATIA AS CAGADAS DE JUNHO O RESTANTE DA MÍDIA DE “EXQUERDA” SEM EXCEÇÃO NUNCA ENTENDERAM AS TAIS PRIMAVERAS NO ORIENTE,EU GRITAVA:- É GOLPE,ACUSAVA OS SITES DE GOLPISTAS,INCONSEQUENTES,BURROS E VINHAM OS MODERADORES CENSURANDO MINHAS POSTAGENS.ME ERA INCOMPREENSÍVEL QUE GENTE SUPOSTAMENTE INTELIGENTE,JORNALISTAS,ACADÊMICOS,CIENTISTAS POLÍTICOS,SOCIÓLOGOS E ARTICULISTAS ARGUMENTAREM QUE O PT PRECISAVA COMPREENDER ESSE TSUNAMI DEVASTADOR E EU BERRAVA:- É GOLPE! HOJE NINGUÉM ASSUME QUE ERROU E EU DIZIA:- VOCÊS SERÃO RESPONSABILIZADOS POR ESSA INSANIDADE,O BRASIL ESTÁ DOENTE,VOCÊS SÃO LOUCOS. HOJE TODOS VIRAM QUE O BURACO SEMPRE FOI MAIS ABAIXO.AINDA ESPERO A HUMILDADE DE SE RETRATAREM MAS A ARROGÂNCIA NÃO PERMITE QUE O FAÇAM.

  4. Inexatidão…

    “Exatos cinco anos”

    Não, não são “exatos cinco anos”. São mais ou menos cinco anos, aproximadamente cinco anos, algo como cinco anos, ou simplesmente cinco anos. Mas não são “exatos” cinco anos.

    A Falha de Sumpaulo introduziu esse maneirismo ridículo no jornalismo brasileiro, e pelo visto ele colou. Daqui a pouco vai ter gente escrevendo que os dinossauros foram extintos “há exatos 60 milhões de anos”, ou que o Big Bang ocorreu “há exatos 13 bilhões de anos”.

  5. “As chamadas Jornadas de

    “As chamadas Jornadas de Junho tornaram-se uma espécie de boneco de Judas, sobre o qual todos podem lançar suas paixões e frustrações”

    Traduzo: As chamadas Jornadas de Junho tornaram-se uma espécie de ferro grosso* e duro enfiado no nosso rabo, sobre o qual todos podem lançar suas paixões e frustrações.

    * para muitos trata-se de uma panela, “com cabo, com tudo.”

  6. Para mim o golpe se iniciou

    Para mim o golpe se iniciou com aquele boato sobre o fim do bolsa família que levou multidõs aos caixas eletrônicos da CEF.

    Foi um teste para ver como seria a reação do governo. Daí para frente foram aumentando suas apostas e como o governo era “republicano”, acreditava no “controle remoto”, defendia “manifestações democráticas” os ataques foram aumentando a partir da globo. 

    O governo jamais realizou uma investigação sequer sobre de onde partiam as mentiras que abundavam na internet(lembram de todos aqueles boatos sobre a fortuna do Lula e de seus familiares?).

    Houve os tiros dados do policais federais na cara da foto da dilma e nada de providências. Deu no que deu.

    Tudo aquilo que ão tem limites acaba de forma trágica, inclusive a democracia.

  7. Faltou acresentar um

    Faltou acresentar um ingrediente, talvez o mais importante, o fator externo. Se aqui se chamou “jornadas” nos países árabes não alinhados ao império se chamou primavera. 

    Certo que em paises como Egito, havia a questão da ditadura do Mubarac e nesse sentido a comparação parece falha. Só que o resultado acabou sendo o mesmo. A subistituição de governos independentes por capachos do Tio Sam.

    Respeitando a abordagem dos pesquisadores, que corretamente evitam os reducionismos, quem mais chega perto de decifrar o fenômeno, é o jornalista Pepe Escobar com seu conceito de guerra híbrida. 

    O evento é para ser comprendido por um olhar geopolítico em primeiro lugar antes de considerar as particularidades de cada país. Isso está ficando cada vez mais claro. Snowden e Wikileaks tem os dados é só juntá-los, como faz o Pepe

  8. Como os sociólogos se perdem em denominações.

    O grande erro dos sociólogos, quando analisam fatos sociais, é que ficam inebriados com a teoria e não com a prática.

    Colocar que as jornadas tiveram participação desde a  “esquerda revolucionária a direita fascistóide” é simplesmente é verdaeiramente uma enorme burrice conceitual. Esquerda revolucionária não é uma esquerda em que o sujeito se diz “olha eu sou da esquerda revolucionária”, mas sim que praticam atos revolucionários. Se fica claro que os atos resultaram em pautas da direita, eles NÃO SÃO DA ESQUERDA REVOLUCIONÁRIA, por mais que batam o pézinho e digam:

    – Sou revolucionário, sou revolicionário e sou revolucionário (e de esquerda).

    Por outro lado gostaria de saber qual é a definição de uma “direita facistóide”, acho que isto não é uma denominação política nem sociológica, é mera retórica (como a maioria deste artigo).

  9. contrariar o discurso

    O Lula até tentou o qto pode, conciliar as bases que o sustinha com os interesses do mercado, da economia ou da elite, como preferirem rotular.

    Acontece que venhamos e convenhamos é uma tarefa impossivel. Agradar a Gregos e Troianos é até anti-histórico.

    E deu no que deu.

    Cada região no mundo é caracterizado pela história que a compõem.

    E hoje são o que são em razão do passado que viveram.

    O mundo encontra-se cada vez mais em uma encruzilhada. Todos são chamados a estabelecer o que realmente são e o que pretendem neste mundo globalizado e de tecnologia cada vez mais sofisticada.

    Até 2012 qdo a coisa toda estorou a economia contava numeros extraordinarios, o mercado estava surpreendentemente aquecido, o PIB atingia alturas jamais conseguida, de um jeito ou de outro o governo conseguira a proeza de turbinar a economia e o populacho contava com uma euforia quue mantia a popularidade, independentemente dos analistas afirmarem que a prosperidade toda estava baseada em terreno não sólido. Poiticamente o povão não queria saber o que realmente acontecia, contava com a vida de consumo e era o que interessava.

    Se naquela ocasião, de alta popularidade, o governo tomasse a iniciativa de mudar a trajetória, de equilibrar com os fundamentos da economia afim de manter o aquecimento conquistado, muito provavelmente teria escapado dos adversarios que nada mais fizeram na hecatombe que atingiu o governo do que aproveitar a oportunidade.

    Impossivel. Assim vivemos cada dia estabelecendo a historia.

     

  10. Escrevestes pouco, mas não

    Escrevestes pouco, mas não dissestes nada. Cadê a mídia comercial partido político do mercado na sua análise, cadê a classe média descontente com os pobres na sua “área”?!

  11. Jornada de asnos

     

    Jornadas de asnos
    Conduzem o fio
    Desencapado do choque
    Que sequestra almas
    Que liberta monstros
    Que aprisiona sonhos.

      1. E o título está inadequado…

        Se ainda fosse “algumas consideraçoes sobre as jornadas de 2013”, OK, algumas consideraçoes ele fez. Mas interpretaçoes? Qual(is)?

  12. Agora está mais claro o que houve
    As jornadas de junho de 2013 foram a manifestação de um descontentamento difuso que vinha se acumulando desde 2011. O povo estava acostumado com as rápidas conquistas do tempo de Lula, o crescimento das bolsas e dos empregos, o aumento dos salários, e se cansou do reme-reme do governo Dilma. Tanto foi assim, que não houve de cara nenhum ataque direto contra o PT, coisa que só começaria a acontecer 3 anos depois, e foi isso que causou toda a confusão: afinal, esses caras estão contra quem? Em um momento inicial, muito hilário, Dilma chegou a acreditar que o movimento era de esquerda e a favor do governo, e lançou a proposta da tal constituinte para instituir a democracia participativa, “esquecendo-se” de que para convocar constituinte precisa de 2/3 do congresso. Não colou. Mas o ocorrido mostra bem claramente que a intenção do governo petista sempre foi dar um autogolpe para instituir uma constituinte a la Maduro, escolhida por movimentos sociais controlados pelo PT ao invés de sufrágio universal, o que foi efetivamente feito na Venezuela.  Na ocasião as reivindicações foram subjetivas, “contra tudo isso que está aí”, e não mencionavam pessoas ou partidos. Só depois, com o agravamento da crise, as manifestações se tornaram explicitamente anti-governo. 

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