Doria não ouviu a ciência nos últimos meses e deixou de impor restrições duras no tempo certo, diz Marcos Boulos

"Estamos a três ou quatro dias de acabar todos os leitos no estado e as pessoas vão morrer por falta de assistência", afirma o infectologista e membro do Centro de Contingência do Coronavírus

Jornal GGN – O descontrole da pandemia em São Paulo está associado à flexibilização que ocorreu a partir de novembro de 2020, quando houve eleições gerais, seguidas de festas de fim de ano sem que o governo do Estado acolhesse todas as recomendações do Centro de Contingência do Coronavírus e determinado medidas mais duras de restrição de circulação no tempo certo. É o que afirma o médico infectologista e membro do Centro de Contingência do Coronavírus no Estado, Marcos Boulos.

Com o surgimento de novas variantes do coronavírus, a lentidão do programa nacional de vacinação e a politização da pandemia – que leva milhões de pessoas a abandonar o uso de máscara e o distanciamento social – o Brasil chegou ao seu pior momento desde o início do surto, com mais de 2 mil pessoas falecendo todos os dias de complicações do coronavírus.

Diante deste cenário, o governador João Doria declarou uma “fase emergencial” em que fechou todos os serviços não essenciais, além de escolas e igrejas. Mas, para o infectologista Marcos Boulos, a medida é insuficiente. Só um lockdown de verdade, com apoio do Exército na rua, por 30 dias, daria um alívio para a crise sanitária.

Boulos é professor da Faculdade de Medicina da USP. Em entrevista à Folha de S. Paulo, divulgada neste sábado (13), ele disse que o governador João Doria não ouviu a ciência nos últimos meses, ao contrário do que sempre afirma em seus pronunciamentos. “Ele falava isso até o ano passado: ouvir a ciência para preservar vidas. Nós falamos várias vezes da necessidade de impor medidas restritivas que não foram acatados pelo governo”, revelou.

“O discurso do ano passado estava correto quando ele estava levando em consideração dados que a gente passava. Depois, acho que ele foi extremamente pressionado pelo setor de restaurantes, bares e outras coisas não acatou os dados da ciência para as restrições de circulação no tempo adequado. Por isso hoje estamos assim”, disse o médico.

Segundo Boulos, em dezembro, Doria foi advertido sobre “a necessidade de fazer um arrocho em relação à circulação. Perto das festas de fim de ano, alertamos o governo para a possibilidade de um impacto grande.” Mas o governador não determinou, por exemplo, o fechamento de praias e restrições duras para conter as aglomerações que marcam as semanas de Natal e Ano Novo. “Em janeiro [essa bomba armada desde as eleições] explodiu.”

A partir de segunda (15/3), até o começo de abril, as aulas presenciais nas redes públicas e privadas estão suspensas em São Paulo. Haverá, em várias cidades, restrições ao horário de funcionamento de supermercados no período noturno e também do transporte público, entre outras medidas. O Estado anunciou a abertura de novos leitos e pode, ainda, decretar uma “fase roxa”, ainda mais dura do que a fase emergencial.

Redação

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