Duas hipóteses sobre o futuro das manifestações

Por Fábio de Oliveira Ribeiro

Comentário ao post “As consequências da morte do cinegrafista

Há duas hipóteses que  podemos discutir neste momento:
 
As manifestações adquiriram uma dinâmica própria e continuarão até  serem brutalmente reprimidas pelo Estado mediante a aplicação impiedosa da nova Lei que tratará como “terrorismo” a violência política nas ruas.
 
As manifestações perderão força em razão da gravidade do resultado produzido pela ação de um manifestante. 
 
Das duas hipóteses a primeira me parece mais factível. As pessoas que são contra a Copa do mundo ou que apóiam incondicionalmente as manifestações de rua no Rio de Janeiro (aí incluídos os militantes do PSOL e freixolistas) tem dado na internet provas evidentes de que estão determinadas a seguir em frente. Não há, por parte delas, muita reflexão de natureza ética ou moral acerca do homicídio que foi cometido. Muito pelo contrário, tenho visto algumas dizerem que não podemos criminalizar a ação de jovens inconsequentes:
 
“Foi tragédia… Lugar errado, hora errada.” 
 
Estas foram as palavras de uma jovem que está longe de ser uma militante de extrema esquerda. Quando afirmei que o rapaz teria que responder pela morte do cinegrafista ela disse:
 
“Colocar um cara desses na prisão junto com bandido de verdade é a mesma coisa de amarrar o garoto nu num poste depois de espancado.”

 
A moça, que tem formação universitária e tem um filho pequeno, minimizou o crime que foi cometido. No fundo ela culpa a sociedade por querer punir o rapaz, mas não o culpa pelo ato criminoso que ele cometeu. Pior ela o iguala aos negros que estão sendo vítimas das vinganças privadas no Rio de Janeiro, como se a ação dele não fosse parecida com as dos autores destas vinganças privadas. O processo de racionalização que ela emprega a faz entrar em contradição, mas ela parece não perceber isto.
 
Vi outros garotos, inclusive um que conheço (ele é esposo da garota acima referida), preferirem discutir o processo de distorção dos fatos que levou à ligação entre Freixo e o autor do homicídio. O homicídio mesmo parece não despertar neles qualquer empatia para com a vítima ou seus parentes. Fiz aos tais a pergunta:
 
“O cadáver não conta se não for do PSOL ?”
 
A resposta que um deles deu foi exemplar:
 
“Do cadaver a midia burguesa ja esta enfatizando, estamos aqui para analisar de forma crítica como as coisas ocorreram e como a emissora rede Globo vem colocando os fatos.”
 
O processo de dissociação política/ideológica do crime é evidente, o distanciamento emocional em relação à vítima também.  No limite o cinegrafista morto está sendo coisificado pelos apoiadores das manifestações de rua da mesma maneira como vai sendo coisificado pelos políticos que aproveitam o homicídio para sacar da algibeira uma legislação ainda mais repressiva que chega a ser parecida com aquela que estava em vigor na Ditadura Militar.
 
A escalada deste conflito me parece mais evidente. Envolvida emocionalmente pela imprensa, que obviamente está dando bem mais atenção à morte do cinegrafista do que às outras mortes (inclusive aquelas produzidas pelas PMs), a população tende a apoiar o recrudescimento da repressão policial nas ruas. A maioria silenciosa vai, portanto, apoiar a aprovação da nova Lei e o Estado não deixará de empregá-la contra os manifestantes durante a Copa do Mundo.
 
É um erro aumentar a repressão diante da evidente disposição de uma parcela da população (os jovens) de fazer manifestações e apoiá-las. No limite, o rapaz que matou o cinegrafista passará a ser incensado como se fosse um mártir e muitos outros seguirão seu exemplo acreditando ser  digno o processo de martírio. Já vimos isto no passado, incontáveis vezes. 
 
Neste momento seria melhor o Congresso Nacional não aprovar a Lei do Terrorismo ou Dilma Rousseff vetá-la. Caso isto não ocorra, a escalada do conflito vai ocorrer com prejuízos imediatos para os manifestantes. Mas com o tempo a população que hoje os despreza passará a sentir empatia por eles e então ocorrerá a mesma coisa que ocorreu há algumas décadas.
 
Assim como os inimigos da Ditadura hoje governam estes jovens poderão estar governando no futuro. Mas há uma diferença entre estas duas gerações. Aquela foi compelida pela História a lutar contra uma Ditadura que iniciou com um golpe de estado. Em razão da repressão exacerbada, esta nova geração de jovens será educada a odiar a Democracia que pretende amordaçá-la. E pode vir a acreditar, irracionalmente, que a “Ditadura deles” seria um regime melhor do que aquele que temos agora.
 
Para governar é preciso ter paciência para com as gerações mais jovens, que são naturalmente inclinadas à contestação e às ações inconsequentes. A legislação em vigor já é capaz de dar ao Estado condições de combater os crimes que estão sendo cometidos nas ruas. Não precisamos de uma nova Lei do Terrorismo como não precisávamos de uma Lei de Segurança Nacional no passado. Os militares não tiveram paciência com os jovens e foram enxotados do poder. Os petistas serão mais pacientes que seus antecessores ou cometerão o mesmo erro que eles cometeram?
15 Comentários

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  1. Considerando que o autor acha que a 1ª hipótese vai se impor…

    A primeira hipótese levantada dá conta de que são, sim, protestos organizados e a sua organização já chegou a um ponto de inércia que parece vai manter as manifestações violentas indefinidamente. Segundo o autor:

    “As pessoas que são contra a Copa do mundo ou que apóiam incondicionalmente as manifestações de rua no Rio de Janeiro (aí incluídos os militantes do PSOL e freixolistas) tem dado na internet provas evidentes de que estão determinadas a seguir em frente. Não há, por parte delas, muita reflexão de natureza ética ou moral acerca do homicídio que foi cometido.”

    Na opinião dele, então, até quando o Estado deve ter paciência?!

    Interessante a tese.

  2. Eu acredito mais na sua

    Eu acredito mais na sua segunda hipótese. De qualquer forma (em qualquer hipótese) não dá para não criminalizar pessoas que jogam um rojão contra outras e matam um trabalhador. E o cinegrafista não estava no lugar errado, ele estava no lugar em que um jornalista deve estar quando há uma manifestação. Tem, na verdade, é que ir mais fundo e descobrir quem está financiando o fascismo. A História não foi muito feliz com os governos que cederam espaço aos fascistas nas ruas. Na Alemanha pré-nazista tivemos os “camisas pardas”e na Itália pré-fascista os “camisas negras”. Em ambos os locais o discurso de não repressão aos atos criminosos deram no que já é bem conhecido.

  3. Fabio esta lei eu fiquei

    Fabio esta lei eu fiquei sabendo que ela seria apresentada e aprovada a um ano e meio. Não acredito que ela seja coisa de “petista”.

    A Rede ainda não se apresentou! O importante é separar o manifestante do vândalo. Os manifestantes não podem permitir que vândalos aterrorizem a sociedade. Como também não podemos permitir que a policia agrida os manifestante.

    Posso ser um tolo, mas acho que seria necessário uma analise jurídica mas profunda da lei. A meu ver ela vai regular todo os meios de comunicação, seria quase como um código de conduta imposto com penas sérias.

    Qualquer jornalista de inclinação radical a meu ver não irá querer que esta lei seja aceita, Ele pode ser enquadrado nela por incitação, vai acabar com a farsa da liberdade de expressão, pois, com uma série documentada poderá provar perseguição e patrulhamento ideológico.

    É uma lei que atingirá todos os extremistas, forçando um discurso ético, acabando de vez com retóricas.

    Acho que ela é necessária sim! Ela regula a imprensa, a politica, os ativismo politico, os movimentos sociais, seitas, etc. e obriga que todos se respeitarem. Ela não olha para que lado ela vai bater!

     

  4. Saldo das manifestações

    Abro aqui um parentêsis para questionar qual o saldo real das manifestações (excluindo esta trágica morte da última semana)?

    Excluo também deste debate umas 2 ou 3 manifestações de junho, com mais de 100.000  pessoas, pois estas foram “um ponto fora da curva”, serviram com catarse para muitos, como micareta para alguns e como encontro social do facebook para outros.

    Desde o início das manifestações, tivemos um projeto de lei derrubado, o aumento de ônibus adiado por poucos meses e alguns outros pequenos ganhos. Mas tivemos patrimonios públicos (e particulares) destruídos, pessoas feridas e uma animosidade e descrença geral.

    Reforma política ou eleitoral não existiram, royalties do pré-sal para a educação são uma interrogação (só dinheiro não resolve). Alguns pactos (acho que 5) vazios, etc.

    Antes de decidir qual o futuro das manifestações, tem que ser decidido qual o objetivo. Cada objetivo requer uma forma diferente de agir.

    Até hoje, sinceramente, não entendo as passeatas que ocorrem há muito tempo (bem antes de junho/2013). É um bom mote para atrair atenção midiática, mas ruim para um apoio popular, pois é pouco provável que alguém que esteja indo do trabalho para casa fique satisfeito em passar 1 hora ou 2 a mais em um transporte público para chegar em casa. A impressão é que o objetivo é causar o caos, e geralmente pessoas que não tem nada a ver ou não querem ter nada a ver com a causa são prejudicadas.

    Eu gostaria de opiniões diversas, argumentos que propiciem uma mudança de pensamento de minha parte. Porque até agora não vejo futuro, passado e presente nas manifestações.

    1. As manifestações são

      As manifestações são necessárias elas representam o protestos da sociedade como também suas reivindicações.

      Não importa qual partido ou movimento social que a convoque ela deve ser respeitada desde que haja dentro da lei.

      Da mesma forma que a sociedade foi as ruas para protestar contra a polícia nas ruas em junho, foi o abuso policial que levou as pessoas as ruas, não a sua reivindicação. Tando que cada um possuía sua própria causa, ali estava a sociedade eleitores de diversos partidos, pessoas de posições ideológicas a direita e a esquerda.

      O fato mais interessante é que, só existiu comoção nacional quando repórteres foram atingidos pela policia.

      Esta situação não pode existir mais. Temos que banir a violência.

      1. Concordo em partes

        Concordo que as manifestações são necessárias quando há descontentamento com algo. O que questiono é a forma de manifestação usada. Deve haver algo de mais inteligente a fazer para protestar.

  5. O PSOL e o PSTU 

    O PSOL e o PSTU  são partidos  pequenos burgueses de meia duzia funcionarios publicos e empregados das estatais. Todos muito bem remunerados em seus empreguinhos confortáveis.  São minusculo do ponto de vista da representação social  e não tem qualquer inserção nas camadas populares. Vão sim tentar atrapalhar a Copa por que estão entediados não têm coisa melhor pra fazer. Querem impor seu “socialismo” de merda,  goela abaixo, como uma milicia  fascistas dos anos 30. Eu conheço muito bem o perfil dessa gente. Nada de novo na politica. Só a historia se repetindo como farsa. Torço para que o final disso tudo não seja tragico.

    1. mais um agente de propaganda

      Derrotar qualquer esquerda – mensalão para o PT, culpa pelas manifestações para o esquerda de oposição. NEm bem o rapaz foi preso e lindinha sininho ligou para Marcelo Freixo que a Globo e o batalhão anti-esquerda da internet já encontrou um culpado: o PSOL (a claro aproveitaram a oportunidade para enfiar o PSTU; ninguem pensou por exemplo no Bolsonaro e Familia; porque será????)

      Ah, mas tem gente filiada ao PSOL falando isso e aquilo; bom primeiro perfil falso na internet é o que não falta (conversei com não sei quem que me disse não sei o que eu publico também!); segundo a esquerda tá cheia mesmo de gente louca manipulada pela direita (alguem lembra do incencido do REichstag??? é diferença é que na época não exisita a internet!) terceiro é obvio que tem gente da ‘organização’ infiltrada em partidos de esquerda – o plano perfeito para destrui-la né? Quem ja militou em outros tempos sabe que isso é comum.

  6. As manifestações perderão força em razão …

    do fato de que os participantes mais moderados, que eram a maioria em junho passado, perceberem que as mesmas se tornarão cada vez mais perigosas na presença destes elementos mais radicais, como os tais black-blocs. 

    Ou seja, estes black-blocs fizeram um ótimo serviço em remover das ruas a maioria dos manifestantes. 

    Provavelmente só eles é que irão se manifestar num futuro próximo este ano. E então, o cassetete voador termina o serviço. 

    Se é correto este ponto de vista, cabe então perguntar: a quem interessa o fim das manifestações / manifestações pacíficas? 

    Já pedi a todos os meus familiares em não participar de manifestação alguma, a não ser acompanhá-las pela TV, o que todos tem feito.

    1. http://www.defense.gouv.fr/ge

      http://www.defense.gouv.fr/gendarmerie

      Não vão perder força de modo algum, a mansifestações vão aumentar num crescendo até a Copa. O que eles mais gostam é exposição publica e com a Copa JA CHEGARAM centenas de jornalistas caçando materias. É um movimento incontrolavel nascido dos movimentos sociais, são filhos dos manifestantes derivados da criação do PT, MST, Sem Teto, INdios, etc.

      Sem opositores naturais, com as forças de segurança desmoralizadas pelos governadores que não lhes garantem siporte legal e politico, as manifestações tem todos os motivos para crescer.

      E ainda tem gente da familia Cinderela que prega a desmilitarização das Policias Militares, esquecendo que a mais antiga delas, a Gendarmerie francesa é tropa do Ministerio da Defesa, tem até força aerea, acabam com um disturbio em cinco minutos.

  7. “É um erro aumentar a

    “É um erro aumentar a repressão diante da evidente disposição de uma parcela da população (os jovens)”    

     É muita presunção de legitimidade do lumpesinato.

     

  8. tsc tsc tsc

    Abramos o olho. Tem um pessoal entre os “manifestantes” (a maioria?) que tá achando lindo sair às ruas pra protestar contra qualquer coisa mas nem sabe direito pelo que está protestando. É uma verdadeira banalização do protesto popular. Se é capaz de ir até às últimas consequências por causa de motivos relativamente pequenos ou tão difusos que fica impossível saber pelo que se luta. Parece tudo uma aventura, uma festa.

    E o que é pior: nessa mistureba geral tem gente que vai por que está recebendo dinheiro! Parou geral! Não há democracia sem responsabilidade. Soa falso posar de puro e honesto e pagar jovens pobres para irem a “protestos”.

    Se há necessidade de radicalização é bom que ao menos se saiba o motivo, não é mesmo? Que se saiba o motivo e que se tenha a coragem de mostrar a cara e assumir a responsabilidade pelos atos que pratica.

    É duro assistir isso e mais duro admitir, mas parece mesmo que essa molecada tá longe de ser um agente de transformação. Não tem a têmpera necessária pra impulsionar o País para algo que seja melhor do que é hoje. São intolerantes e menosprezam qualquer avanço que possa estar sendo produzido pelo governo federal sob a batuta do PT, mas se deixam instrumentalizar pela alta burguesia e seus meios de comunicação.

    Parece que toda história e as lições das gerações anteriores de lutadores desse nosso Brasil é lixo pra essa molecada.

    Não os tenho como boa coisa para a causa do povo. Há um engodo, um engano aí nessa movimentação, que é pequena mas faz muito barulho por que interessa à mídia ampliar o som que produz.

  9. http://www.dilemas.cl/art2/pa

    http://www.dilemas.cl/art2/pais/1287-policia-chilena-adquiere-nuevo-armamento-antidisturbios.html

    Os canhões de aguas com tintura são equipamento anti-distrubios menos destrutivos do que bombas de gas lacrimogeneo e baslas de borracha.  Os Carabineros do Chile se equiparam com esse material que tem maior eficiencia anti-disturbio e são menos agressivos. A força da agua promove a dispersão e a tinta marca os manifestantes, é um equipamento eficiente e mais civilizado e moderno do que bombas e balas que realmente podem ferir.

    Como a moda das manifestações veio para ficar fica a sugestão.

  10. 3º As manifestações serão

    3º As manifestações serão coptadas por grupos políticos de cunho fascista… ou serão utilizadas como exemplo de que o poder deve ser entregue a grupos políticos de cunho fascita…

     

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