A “mancha vermelha” e o “arco azul”

 

Fechadas as urnas e encerrada a apuração do 2º turno das eleições municipais, nota-se uma reorganização geográfica do voto entre governo e oposição no país. Como já foi dito por tantos analistas, PT e PSDB, nossos dois partidos mais competitivos em termos nacionais, continuam a polarizar as grandes cidades, o PSB cresce e se nacionaliza e o PMDB continua sendo o detentor do maior número de prefeituras, ainda que a grande maioria delas de pequeno e médio porte. Chama a atenção, no entanto, que o PT e seus aliados tenham tido resultado tão expressivo no Sudeste, e em especial no estado de São Paulo, a grande fortaleza oposicionista, e que a oposição tenha colhido resultados bastante positivos nas regiões Norte e Nordeste, nas quais o governismo havia se dado tão bem nas eleições presidenciais de Lula e Dilma. 

O PT conquistou não apenas a jóia da coroa, que é a cidade de São Paulo, como manteve as cidades de Guarulhos, Osasco, São Bernardo do Campo e Mauá. Além disso, passará a administrar a partir de 2013 os municípios de Santo André e São José dos Campos, e estará também na administração de Jundiaí, em parceria com o PCdoB, seu tradicional aliado. Trata-se de uma espécie de “mancha vermelha” que se constitui no entorno da principal região metropolitana do país, e que só não é mais extensa porque o PT não conquistou Campinas e Taubaté. Já a oposição, a qual tantos davam como derrotada nesta eleição, se vê relativamente revigorada pela conquista de diversas capitais nas regiões Norte e Nordeste, constituindo um arco que vai de Manaus (PSDB) a Salvador (DEM), passando por Belém, Teresina, Maceió e Aracaju. Nos dezesseis estados que compõem as duas regiões, o PT, por seu lado, só teve êxito nos seus dois extremos geográficos: Rio Branco (AC) e João Pessoa (PB). 

Obviamente o governismo se capilarizou pelo Norte e pelo Nordeste, conquistando prefeituras de pequenas e médias cidades do interior dos estados das duas regiões, assim como o PSDB e seus aliados estarão a frente de inúmeras pequenas e médias cidades do interior de São Paulo. Mas de certa forma não deixa de ser curioso um cenário em que as forças mais à esquerda do espectro político obtêm vitórias em São Paulo e as forças mais conservadoras têm êxitos eleitorais nas regiões Norte e Nordeste, como acontecia no passado. Qual das duas configurações desenhadas pelas urnas, a “mancha vermelha” ou o “arco azul”, irá ser mais importante para a eleição presidencial e dos governos estaduais dentro de dois anos só o tempo poderá nos dizer. 

Wagner Iglecias é doutor em Sociologia e professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP. 

Redação

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