Datafolha e o preço da arrogância

Por Pablo Simpson

Nassif,

Abraço, P.

Olha a manchete do IG, não é brincadeira: “Datafolha, que se orgulha de não trabalhar para partidos, repete número dos que trabalham”. 

Comentário

O Datafolha paga o preço da imprudência de Otávio Frias Filho, quando esqueceu os ensinamento do pai e aderiu ao pacto mediocrizante da velha mídia. Com isso, expos completamente a imagem do jornal e do próprio Datafolha. Sacrificou duas grandes marcas – Folha e Datafolha – pelo exercício da prepotência sem entender a lógica dos novos tempos.

Com sua decisão, potencializou os danos de todos os erros cometidos pelo jornal e seu instituto.

Os interessados em acompanhar a curva de intenção de votos na eleição presidencial deste ano tinham diante de si, até um mês atrás, dois cenários aparentemente inconciliáveis. O Vox Populi e o Ibope colocavam a candidata Dilma Rousseff, do PT, à frente de José Serra, do PSDB. E o Datafolha registrava empate entre os dois. Parecia que alguma coisa estava errada – ou com o Vox Populi e o Ibope, ou com o Datafolha. O iG, que publica juntamente com a Band as pesquisas do Vox Populi, procurou os institutos para entender a origem do conflito de dados. Vox Populi e Ibope explicaram que eles e o Datafolha usam metodologias diferentes. E listaram os efeitos de cada uma sobre o resultado final. O Vox Populi chegou a preparar a pedido do iG uma simulação feita com seus números, baseada nas opções metodológicas do Datafolha – e conseguiu reproduzir em laboratório o tal empate entre Serra e Dilma.

Mauro Paulino, diretor-presidente do Datafolha, só aceitou dar entrevista ao iG por escrito. Em meio às explicações sobre as diferenças envolvendo os resultados das pesquisas, inclui a seguinte frase:

“(O Datafolha) é o único instituto que não vende pesquisas eleitorais para partidos políticos e instituições financeiras”.

O Datafolha realmente não trabalha para partidos políticos. Vox Populi e o Ibope trabalham. Há quem possa ver alguma maldade na utilização do verbo “vender”. Mas isso não deve ser levado em conta. O importante é notar aquilo que já se tornou um mantra do Datafolha, reproduzido com insistência em algumas colunas políticas, em blogs e até em mensagens difundidas via twitter: o Datafolha não trabalha para partidos políticos.

De duas, uma. Ou a frase não quer dizer nada e é repetida sem necessidade – ou quer dizer sim, e visa sugerir, de alguma forma, que o instituto que aceita políticos ou bancos como clientes aceitaria também modificar o resultado final da pesquisa, distorcendo a realidade encontrada pelos entrevistadores. Se for este o caso, estaríamos diante de uma acusação gravíssima. Em vez de diferenças metodológicas aceitáveis do ponto de vista científico, haveria um fosso moral entre o Datafolha e seus concorrentes.

Numa rodada de pesquisas divulgada em meados de agosto, no entanto, a curva de intenção de votos pró-Dilma apurada pelo Datafolha começou a subir de forma mais rápida, tornando os resultados dos três institutos mais parecidos. O fenômeno alegado para o aumento acentuado foi a entrevista de Dilma Rousseff no Jornal Nacional. Na rodada divulgada pelo Datafolha neste sábado, 21 de agosto, Dilma aparece ainda mais distante de Serra, sendo capaz de vencer a eleição em primeiro turno. O Datafolha, único que não trabalha para políticos e único que há um mês apontava empate técnico entre Dilma e Serra, prevê agora uma possível vitória acachapante do PT – exatamente como sugeriam os resultados apurados pelo Vox Populi e pelo Ibope.

Tudo indica que Dilma vem crescendo de forma consistente. E há sinais de que realmente possa vencer a eleição em primeiro turno, caso nada aconteça. O momento em que cada instituto fotografa a tendência do eleitor muda segundo as variáveis adotadas, decididas por estatísticos sérios. A metodologia empregada pelo Vox Populi e pelo Ibope foi mais ágil para captar a subida de Dilma. O Datafolha levou mais tempo, mas captou também. Agora todos mostram um resultado muito parecido, independente de trabalharem para políticos ou não. Transformar a diferença técnica existente entre os grandes institutos do país numa disputa de cunho ético como sugere o Datafolha com seu mantra atrapalha o eleitor em vez de orientá-lo. 

Luis Nassif

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