O desafio do Datafolha

Divulgada no Jornal Nacional, na noite de sexta-feira, a pesquisa Datafolha para a presidência da República trouxe muitas indagações sobre o papel e a confiabilidade das pesquisas eleitorais.

Há tempos, os demais institutos – Sensus, Vox Populi e IBOPE – vinham apontando crescimento gradativo na diferença em favor de Dilma Rousseff. Até a última pesquisa, 15 dias atrás, o Datafolha era o único a apontar vantagem para José Serra.

De repente, na última pesquisa, Serra cai 4 pontos, Dilma sobe 5, uma diferença de 9 pontos em relação à última pesquisa, no espaço de apenas 15 dias.

De lá para cá não houve nada que justificasse esse salto. Houve o primeiro debate na TV Bandeirantes – no qual Serra teria saído vitorioso, na opinião dos analistas da Folha – e entrevistas dos candidatos no Jornal Nacional, favoráveis a Serra.

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Sabia-se há tempos que a metodologia do Datafolha era falha, especialmente nas circunstâncias das eleições atuais.

Pesquisas rigorosas entrevistam eleitores nas suas residências, de acordo com sorteios que obedeçam ao perfil do eleitorado medido pelo IBGE. Vox e Sensus fazem isso. O IBOPE concentra 85% das pesquisas nas residências e 15% na rua. O Datafolha entrevista 100% das pessoas em pontos de movimentação. E só os questionários de quem têm telefone podem ser checados.

O eleitorado rural representa 15% do total – e, junto a ele, Dilma tem grande vantagem. Apenas Vox e Sensus vão até o campo; Datafolha e IBOPE,não.

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Ocorre que, nessas eleições, eleitores de menos instrução tem menos informação do que eleitores de maior renda e maior instrução – ao contrário de outras eleições em que Lula participou, onde havia identificação clara do candidato. Na atual, leva algum tempo para o eleitor tomar consciência de que Dilma é candidata de Lula.

Ao montar a pesquisa em pontos de tráfego, o Datafolha acaba reduzindo a participação do eleitorado que tenderia a votar mais em Dilma.

Mais do que isso. Como a intenção da pesquisa é saber o resultado final do jogo – e não apenas a situação do momento – outros institutos tratam de informar os pesquisados que Dilma é candidata do PT, partindo do pressuposto de que, até as eleições, essa informação estará disseminada pelo horário gratuito.

O Datafolha esconde.

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Diferenças metodológicas explicam a distância do Datafolha dos demais institutos. Mas nada explica o fato da distância entre Dilma e Serra ter alargado 9 pontos em apenas 15 dias, no próprio Datafolha.

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Há implicações muito fortes dos erros anteriores do Datafolha. A primeira grande diferença do Datafolha – uma pesquisa extemporânea, na véspera da convenção do PSDB, dando 10 pontos de vantagem para Serra – poderia ter impedido a debandada de partidos aliados, desanimados com os resultados dos demais institutos.

Esses quase três meses em que o Datafolha manteve Serra à frente devem ter tido reflexo nas doações de campanha, já que empresários não costumam ser generosos quando julgam que o candidato não tem chances.

De qualquer modo, mesmo depois do ajuste de sexta, o Datafolha terá um longo caminho para recuperar a credibilidade perdida. 

Luis Nassif

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