O jornalismo caroço de cebola

Principal chamada de capa da Folha.com, 17:38:

“Acusações contra Erenice são graves, diz procurador-geral”

Clicando na manchete de capa, chega-se na notícia:

“Acusações envolvendo Erenice Guerra são ‘graves’, diz PGR”

Note que as “acusações contra Erenice” da capa já viraram “acusações envolvendo Erenice” na manchete interna.

Vamos ao texto da matéria, primeira linha:

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, afirmou nesta quarta-feira que são “graves” as denúncias de prática de lobby pelo filho de Erenice Guerra (Casa Civil), Israel Guerra.

Note que as “acusações contra Erenice” agora já são “denúncias” contra “o filho de Erenice”.

E contra Erenice? Segue o texto:

Ele falou, no entanto, que ainda é “prematuro” ligar diretamente a ministra ao esquema. “As notícias apontam para fatos graves, mas não temos elementos nenhum ainda que aponte a responsabilidade se envolve ou não envolve a ministra”, disse Roberto Gurgel. (…) “Temos que fazer apuração preliminar dos fatos para ver se tem elementos mínimos que justifiquem que a ministra seja ouvida”, afirmou. Roberto Gurgel também diz que o Ministério Público não será utilizado como instrumento eleitoral e que agirá com equilíbrio e imparcialidade.”O MP tem essa preocupação de não virar instrumento de campanha, falando bem claro, nem da campanha da ministra Dilma nem da campanha do governador Serra”, finalizou.

Portanto, segundo o Procurador da República, que na capa – escrita pelo patrão – dizia serem “graves as acusações contra Erenice”, na notícia – escrita pelo repórter – diz não ter “elementos mínimos” que justifiquem sequer que a ministra “seja ouvida”, e que não há “elementos nenhum ainda que aponte a responsabilidade, se envolve ou não a ministra”. E ainda termina espinafrando o repórter, deixando claro que o interesse da Folha faz parte da “campanha do Serra”.

É o jornalismo “caroço de cebola”: camadas sobrepostas até sobrar nada. É de chorar. 

Luis Nassif

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