O pós-Lula e o fator Jim Jones

A estupefação com o desempenho de José Serra não é restrita a serristas, mas ao próprio PT paulista.

Ontem conversei com uma liderança destacada da tropa serrista. Está órfão, sem saber direito para onde ir. Brinquei que ele deve estar se sentindo como os seguidores do pastor Jim Jones – o tresloucado que levou dezenas de fiéis ao suicídio. Ele sorri amarelo e concorda. Jamais imaginou que Serra pudesse ser tão ineficiente na atuação política.

Hoje conversei com uma liderança petista paulista. Mesma surpresa com a atuação de Serra. No ano passado me disse ter conversado com um jornalista político que lhe havia antecipado que Serra era raso, incapaz de trabalhar situações complexas, travando quando sob pressão. Ele não acreditou. Era tão ampla a barreira de desinformação da velha mídia, sobre as qualidades excelsas de Serra, que o próprio PT embarcou nessa fantasia.

Lembrei-me de um almoço que tive em 2009 com velhas raposas mineiras. Não conseguiam entender o fato de Serra ter rifado Geraldo Alckmin e ficado com Gilberto Kassab nas eleições municipais paulistanas. Mas supunham haver um grande lance estratégico, não percebido por eles, porque era inconcebível que um grande estrategista como Serra pudesse ser tão primário quanto eles supunham, à luz das informações divulgadas. Devia haver outros desdobramentos que eles ignoravam.

Não havia.

Agora, o jogo fica assim.

Em São Paulo, segundo análise desse petista, o serrismo irá debandar. Seus principais líderes sabem que não terão espaço seja qual for o resultado das eleições estaduais. O principal órfão é o próprio Kassab, que já colocou parte de seus liderados para ajudar Aloizio Mercadante. Já aceita a derrota de Serra e prepara uma caminhada rumo a um partido de centro.

No PPS, em breve eclodirá uma guerra interna, destinada a tirar o comando da ala ultra-serrista do partido. Se  os dissidentes não conseguirem tomar o controle do partido, a tendência será o rompimento.

Há outras lideranças paulistas, como o ex-presidente do PSDB, José Anibal, que não seria refratário a participar de uma oposição não deletéria à Dilma Rousseff.

Em todas essas análises, a constatação de que esgotou o modelo de oposição, fundado na aliança PSDB-DEM, sob a liderança de Fernando Henrique Cardoso.

Passadas as eleições, haverá um novo partido, de ultra-direita, constituído por lideranças como Jorge Bornhausen. Provavelmente Serra não embarcará nesse partido, apesar de sua candidatura ser a expressão acabada da nova agremiação. Seu vice, o Índio da Costa, não tem estofo para liderar nada. Ainda não está claro o que irá fazer César Maia, ACM Neto ainda não mostrou a que veio e José Carlos Aleluia está em vias de perder a eleição.

Mesmo ainda não desenhado, haverá esse bloco mais consistente de ultra direita, dependendo do resultado das eleições para se conhecer as novas lideranças.

Do lado da situação, ainda não é clara a posição do PMDB. A bancada do Senado provavelmente contará com Roberto Requião, do Paraná, Luiz Henrique, de Santa Catarina, Germano Rigotto, do Rio Grande do Sul e Jader Barbalho, do Pará, refratários à liderança de Michel Temer. Lá encontrarão, estabelecidos, José Sarney e Renan Calheiros, que não são aliados de Temer. Ou seja, na prática não existe a tão propalada unidade do PMDB.

A incógnita maior é com o PSDB em nível nacional. Aécio Neves poder ganhar em Minas e não necessariamente compor com Alckmin em São Paulo, pois tem o sonho de ser o pós-Lula – o que o levará a exercer uma oposição menos radical. Poderá abandonar o PSDB ou tomar o seu controle e fazer oposição responsável. Embora mais “paulista”, Alckmin não é visto como alguém tão radical quanto Serra.

FHC continuará como uma referência para o que restar do PSDB. Para Serra restará apenas disputar a prefeitura nas próximas eleições. Se ganhar volta à cena política, embora em papel secundário. Sem cargo, não tem envergadura nem ideias para exercer uma liderança tal qual a de FHC. 

Luis Nassif

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