O voto dos latinos nos EUA

Da Folha

Desânimo de latinos ameaça democratas

Pesquisas apontam tendência à abstenção de eleitores hispânicos nas eleições legislativas de 2 de novembro

Falta de iniciativa do governo em promover reforma imigratória e o crescente cerco aos ilegais explicam atitude

CRISTINA FIBE
DE NOVA YORK

O grande medo dos democratas, nas próximas eleições legislativas nos EUA, em 2 de novembro, é perder a maioria tanto na Câmara dos Representantes (deputados) quanto no Senado.

Enquanto se preocupa em vencer os republicanos até nos Estados “azuis” (de maioria democrata), o partido do presidente Barack Obama se esquece de um elemento que poderia virar o jogo: o voto latino.

Duas pesquisas divulgadas neste mês indicam que os eleitores hispânicos estão desestimulados, com pouca vontade de ir às urnas -e a percepção de que os democratas “nada” fazem para reverter o quadro. O voto não é obrigatório no país.

O Pew Hispanic Center, que entrevistou 1.375 hispânicos entre 17 de agosto e 19 de setembro, detectou que 65% dos aptos a votar apoiam o candidato do Partido Democrata em seu distrito, contra 22% favoráveis ao Republicano.

“Se essa margem pró-democrata se mantiver, será tão grande quanto em 2008, quando os latinos apoiaram Barack Obama para presidente, contra John McCain, por 67% a 31%”, diz Mark Hugo Lopez, diretor associado do Pew Hispanic Center.

Ele ressalva, porém, que os “hispânicos parecem menos motivados” do que outras parcelas de eleitores.

Segundo a pesquisa, apenas 32% dos latinos que votam nos EUA responderam ter pensado “muito” nas eleições, contra 50% de todos os eleitores do país.

E a metade dos eleitores do grupo diz ter certeza de que irá às urnas, contra 70% dos eleitores em geral.

DESINTERESSE RECORDE
E o que os democratas estão fazendo para estimular os latinos? “Nada”, afirma Matt Barreto, cientista político da Universidade de Washington e um dos autores da pesquisa semanal Latino Decisions.

Em março, um estudo do grupo concluiu que o interesse dos hispânicos havia caído a um índice recorde.

Em 2006, quando os republicanos eram maioria no Poder Legislativo, o interesse nas eleições para o Congresso atingiu o ápice.

Em setembro daquele ano, uma pesquisa da Latino Policy Coalition indicava que 89% dos latinos se diziam determinados a ir às urnas -mas, em novembro, cerca de 60% votaram.

Em março deste ano, apenas 49% dos eleitores desse grupo se diziam entusiasmados para votar.

Desde então, subiu para 50,2% os que se dizem “muito interessados” nas eleições, e 74,9% disseram ter “quase certeza” de que votarão, segundo os últimos resultados da Latino Decisions.

A diferença entre 2006 e 2010, dizem analistas, se deve principalmente ao fato de que, há quatro anos, os latinos buscavam apoiar os democratas para ver as suas demandas atendidas.

Neste ano, diante da falta de ação do governo para levar à frente uma reforma imigratória e do crescente cerco aos ilegais -com reforço de segurança nas fronteiras e a lei anti-imigrantes do Arizona-, os latinos estão mais céticos com relação ao que os políticos podem fazer.

Mesmo assim, afirma Barreto, os democratas tinham nas mãos uma chance valiosa de ganhar ainda mais votos latinos, entre os que simpatizam com o Partido Republicano, mas estão decepcionados com o apoio à lei do Arizona.

“Os democratas, incluindo o presidente, fizeram muito pouco em termos de correr atrás do voto latino. Quem está fazendo isso são os grupos civis, apartidários, só para incentivar o voto”, afirma o cientista político. 

Luis Nassif

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