Sobre análises políticas

Compare a qualidade das análises que se tem na Blogosfera e na velha mídia. Aqui há um conjunto de analistas de primeira, avaliando pesquisas, entrando nos detalhes, jogando com cenários, tendências, exibindo vícios, virtudes de cada metodologia.

Vamos comparar com a análise de um dos principais nomes da velha mídia: Clóvis Rossi, logo abaixo.

Sua análise é simples. O PSDB oculta FHC. No horário gratuito,  candidato ao senado paulista pelo PSDB, Aloysio Nunes, foi o único a não esconder. Também foi o único que subiu, de 5 para 9 pontos. Logo, o Aloysio, ao se associar a FHC, é o único certo na história.

A riqueza da análise de pesquisas reside na capacidade de levantar todas as variáveis envolvidas e saber extrapolar corretamente conclusões de um universo para outro.

Por exemplo, nossos analistas jamais deixariam de considerar os seguintes dados:

1. De todos os candidatos, Aloysio era o mais desconhecido do público eleitor. Portanto, pode ter sido o mais beneficiado pela visibilidade da campanha gratuita. Desses 4 pontos, quantos se devem a FHC e quantos se devem ao simples conhecimento de que Aloysio é candidato?

2. Em todas as eleições, existem os candidatos de nicho. 4 pontos é votação de candidato de nicho. Mesmo se a exploração do nome de FHC permitiu ganhar 4 pontos, o padrinho continua sendo de nicho. Como pretender, a partir de 4 pontos percentuais, extrapolar as conclusões para todo o conjunto da campanha do PSDB?

3. Agora, Rossi está coberto de razão, quando aponta o erro do PSDB de apagar parte da história. Ficaria mais completa a análise se lembrasse que nenhuma nova história foi colocada no lugar da história esquecida.

Da Folha

CLÓVIS ROSSI

O PC soviético, o PSDB e FHC

SÃO PAULO – O PSDB age, em relação a Fernando Henrique Cardoso, como o Partido Comunista da extinta União Soviética: lá, os dirigentes caídos em desgraça eram apagados das fotos oficiais, por mais relevantes que tivessem sido os cargos por eles ocupados.

Aqui, a imagem de FHC é apagada (no sentido de não exibida) de toda e qualquer propaganda eleitoral desde que terminou o seu mandato, exatamente o mais relevante jamais conquistado pelo partido.

Parece uma paródia da frase (“esqueçam o que eu escrevi”) que se atribui ao ex-presidente, mas que ele nega ter pronunciado. No caso do PSDB, fica “esqueçam que ele existiu” -exatamente como os comunistas de antanho faziam até com amigos de infância quando caíam em desgraça.

Confesso que eu acreditei na sabedoria convencional tucana segundo a qual FHC tira votos. Afinal, se quem é do ramo tem tanta certeza disso, eu, que não entendo nada de disputar eleições, não tenho o direito de duvidar.

Por isso mesmo, fiquei curioso com um dado da pesquisa Datafolha sobre a disputa pelo Senado em São Paulo, divulgada ontem: Aloysio Nunes Ferreira Filho foi o único dos tucanos candidatos a cargos majoritários (Senado, no caso dele) que subiu. Pulou de 5% para 9%.

O que tem a ver Aloysio com FHC? Tudo. Foi o único tucano que desafiou a sabedoria convencional e tascou fala do ex-presidente no horário de propaganda eleitoral. Suspeito até que foi o único a fazê-lo em todo o país.

OK, é um dado muito, mas muito, preliminar para se concluir que a sabedoria convencional é equivocada. De todo modo, está claro que não deu certo “apagar” quem foi parte da história do partido -a mais relevante, de resto.

O PSDB perdeu todas e, agora, corre até o risco de se tornar tão irrelevante como o PC soviético do qual copiou o método. 

Luis Nassif

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador