FHC: Dilma demorou para ouvir oposição sobre reforma

Da Folha

Agora é tarde para Dilma ouvir oposição sobre reforma, diz FHC

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) afirmou nesta segunda-feira que a presidente Dilma Rousseff demorou para chamar a oposição para o debate sobre a reforma política. “Acho que a presidente Dilma deveria ter chamado a oposição logo. Agora é tarde, já está tudo cozinhado. Agora é tarde”, afirmou em entrevista ao programa “Roda Viva”, da TV Cultura.

O ex-presidente afirmou também que foi procurado pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo (PT), para conversar a respeito do assunto na última semana.

“Achei um bom sinal o ministro da Justiça conversar. Ele não citou [assembleia] constituinte. Ele falou do plebiscito e eu não achei um bom caminho.”

O fato de o governo federal ter procurado o tucano incomoda setores do PT ligados ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Dilma propôs a convocação de uma assembleia constituinte para discutir exclusivamente a reforma política, como resposta às manifestações das últimas semanas. Diante da repercussão negativa, desistiu da proposta no dia seguinte.

 O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso durante o programa "Roda Viva", da TV Cultura

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso durante o programa “Roda Viva”, da TV Cultura

FHC voltou a criticar a proposta e defendeu que algumas das mudanças no sistema eleitoral podem ser feitas por meio de leis, sem necessidade da convocação da constituinte. “Você tem de ter uma ruptura. Mas não houve um ruptura, não se está pensando nisso.”

“Tanto que a presidente Dilma recuou logo. Deve ter falado com quem entende, O que me chama a atenção é: por que não falou antes?”

O ex-presidente afirmou ainda que foi a reação de Dilma aos protestos que “chamou para o colo do governo” a insatisfação expressa pelas manifestações.

“A reação do governo chamou a si a questão. Porque nas ruas não estava a crise de legitimidade. Quando Dilma reage dizendo que há necessidade de reforma, chamou para o colo do governo a questão. Era de governadores, dos prefeitos. Puxou o problema.”

Para o tucano, a diferença entra “a maravilha que você vê na propaganda” do governo e a vida cotidiana da população é um dos fatores que motivaram a onda de protestos.

“As pessoas querem melhorar a vida. E por mais que você diga que melhorou, não acreditam, porque a vida é dura. A vida para maioria da população não é a maravilha que você vê na propaganda. Há dissonância cognitiva. Bate uma na outra.”

Disse também que um “fator novo” é que as pessoas passaram a exigir “modelo Fifa” para os serviços públicos. “Eu quero modelo de alta qualidade. Isso é novo. Não é só pobreza, os que estão subindo na viva querem modelo Fifa. E os pobres também. E isso é bom.”

Sobre a reação de Dilma aos protestos, o tucano disse ainda que “faltou talvez conversar mais com o país”. “E não fazer o que é moda, ler um texto que foi escrito por um marqueteiro. Mas eu não quero criticar, porque é uma situação difícil, não quero jogar pedra.”

Para o tucano, “não é momento de partidarizar”. “Quem tentar tirar proveito perde. É muito mais sério do que isso, mas é um bom momento para chamar a atenção de que nossas instituições não estão correspondendo.”

FHC disse também que “quem mais perdeu” foi o governo. “Todos os demais ganharam um pouco”.

PROTESTO

Antes do início da entrevista, grupo protestou em frente à sede da emissora contra o que chamava de “tucanização” da TV Cultura. Os manifestantes reclamavam do fato de dois tucanos terem sido entrevistados pelo “Roda Viva” nas duas últimas edições do programa –na semana passada, o ex-governador José Serra foi o convidado.

No segundo bloco, o jornalista Mario Sergio Conti, que medeia o programa, tratou da repercussão do assunto em redes sociais.

Ele lembrou que, antes de Serra, os líderes do Movimento Passe Livre foram entrevistados e que o presidente do PT, Rui Falcão, foi convidado e participará em breve.

Luis Nassif

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