Há cálculo na loucura de Bolsonaro, por Breno Altman

O que lhe importa é avançar na consolidação de seu poder, e das frações burguesas que representa, sobre o Estado brasileiro

HÁ CÁLCULO NESSA LOUCURA…

Por Breno Altman

Tratar o neofascista Bolsonaro como “louco”, por conta de seus últimos atos e do discurso de hoje, me perdoem os que discordam, atenua e despolitiza a intensidade da oposição que devemos fazer.

O energúmeno opera a campanha contra o coronavírus, à semelhança de Trump, a partir de um cálculo frio, ainda que cheio de riscos.

Ele tenta se colocar como defensor dos interesses dos milhões de micros, pequenos e médios empresários que constituem sua base eleitoral, se situando sozinho de um lado do ringue contra todas as demais forças políticas, de outro lado, que advogam medidas mais fortes para mitigação ou supressão do vírus, mas que afetariam mais pesadamente a economia, a renda e o emprego.

Caso os números de infecção e morte comecem a declinar, ele apontará o dedo contra seus adversários, acusando-os de terem adotado providências desnecessárias e destruidoras da atividade econômica.

Se os números sobem, ele também irá para o ataque, embora com menor credibilidade, claro, denunciando como ineficientes as estratégias de contenção.

O que lhe importa é avançar na consolidação de seu poder, e das frações burguesas que representa, sobre o Estado brasileiro.

Pretende derrotar, ao mesmo tempo, a oposição de esquerda e a direita tradicional, e vê a luta contra o coronavírus como uma janela de oportunidade.

O fascismo sempre coloca seus interesses políticos e de classe acima de qualquer outra questão, mas isso está longe de ser loucura.

Precisa ser combatido e desmascarado por sua essência, para que possamos formar uma consciência mais avançada que leve à derrubada não apenas de Bolsonaro, mas de todo o projeto e do bloco de poder que ele representa.

Redação

6 Comentários

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  1. Perversidade ilógica:
    – como o bolsonazi sabe que os governadores e os prefeitos (em sua maioria) não mudarão suas políticas de combate ao vírus.
    – ainda, que o ministério sem saúde só reporta nas estatísticas o números de infectados internados, em tese, pela pequena
    quantidade testes disponíveis.
    – também, que a subnotificação e as políticas estaduais e municipais fazem reduzir o número de infectados “oficiais”.
    – quanto mais todos batalharem para controlar a disseminação, sem que os testes abranjam a maioria das pessoas, como na coreia
    do sul, por exemplo,
    – mais o bolsonazi se vangloriará da “gripezinha” que ele atleticamente está atravessando sem maiores transtornos.
    – e o gado, hein?

  2. Brenno como boxeador, usou muito bem a imagem do sujeito que se coloca no corner, para chamar o adversário e sair atacando. Bozo fez – e faz – isso o tempo todo. E funciona.

    Vou além. Com seu discurso de ontem, não apenas avançou algumas casas, como se consolidou em posição muito mais vantajosa que anteontem.

    O monstro conhece bem o pântano em que pisa.

  3. Pois é, caro Breno, faz tempo que não me surpreendo nem me escandalizo com o que Bolsonaro faz; me espanto, sim, é que haja ainda quem fique indignado com o que Bolsonaro faz, que ainda acha que ele deveria ou poderia fazer diferente.

    O que Bolsonaro prometeu é exatamente o que ele entrega: selvageria. Algo como “sob meu governo a prevalência será sempre do capital, no geral, e do dólar dos EUA especialmente. Temos potencial para aprofundar a condição do Brasil de colônia a ser espoliada pelos EUA, e minha equipe, prepostos daquele país. Seremos sempre estado enfraquecido para que a iniciativa privada seja livre e forte, sinta-se à vontade para praticar o Capitalismo na sua mais selvagem forma. E quem não conseguir se inserir, que morra.”

    Bolsonaro e a turma que se alinha a ele acredita profundamente em coisas como “só sobrevivem os mais fortes”, como se o Capitalismo fosse mesmo um regime de liberdade, justiça, democracia e oportunidades, como se não fosse um regime cheio de travas, de ilegalidades e acessos restritos aos privilegiados, para impedir que todos tenham oportunidades… Sabe aquela história de derrubar uma escada que todos ajudaram a construir para que só poucos subam? Então… Esse é Bolsonaro. Sua frase é “junte-se aos bons ou fracasse”, como se bons fossem apenas a sua turma. Exclusivismo, a orientação do capitalismo e o oposto de democracia.

  4. Dessa vez tenho que bater palmas para o Breno Altmann. Foi na mosca, está certíssimo. Já estão circulando no WhatsApp os textos de ultradireita conclamando o povo para defender o Bolsonaro do Golpe do Congresso, Imprensa, STF e PT, dizendo que Bolsonaro está defendendo o emprego do povo. É um jogo. Que ele ganhará caso a pandemia desacelere rapidamente sem muitas mortes. A ultradireita que orienta Bolsonaro lá do Norte é craque. Sua especialidade é jogar com o medo dos pobres.

  5. Breno, Breno.
    Irretocável.

    A defesa da centralidade do capital e dod interesses de quem o controla está na pauta do déspota.

    Ao mesmo tempo que se aproveita as medidas de exceção sanitária para tocar essa agenda, veja o piloto de teste da redução de vencimentos de servidores e ou a tentativa frustrada de suspender contratos de trabalho exonerando patrões do pagamento de salários, faz a defesa da retomada do funcionamento da economia como prioridade.

    Sugiro a leitura de Slavoj Zizeck:

    https://tradutoresproletarios.wordpress.com/2020/03/17/zizek-monitorar-e-punir-sim-por-favor/

    Esse texto está inserido em outro ótimo publicado aqui:

    https://jornalggn.com.br/artigos/coronavirus-e-o-sonho-erotico-totalitario-jornalismo-no-alcool-em-gel-panelas-e-papel-higienico/

    Trágico.

  6. suicídio tb é necropolítica, inerente a bolsonaro.
    as mentiras não surtem mais tantos efeitos quanto antes e, agora, desacreditado, parte para o confronto com todos – arranjar inimigos parece um vício dele, ou criação, sei lá….
    concordo que, de louco , não tem nada..ou tem alguns sintomas!!!
    mas tudo parece bem calculado, esta é uma boa sacada do articulista…
    o mais complicado de tudo para o analist político ou pra qualquer pessoa é lidar com o fato de que bolsonaro é um necropolítico, um necrotudo. AO TER COMO BASE A MORTE, FAZ COM QUE SE PERCA QUaLQUER REFERÊNCIA HUMANA PARA ANALISÁ-LO.

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