Há um Brasil no fim do túnel?, por Fábio de Oliveira Ribeiro

As forças centrípetas que mantinham o Brasil foram enfraquecidas. Os predadores de países já começam a explorar as rivalidades regionais em seu próprio benefício

Um realinhamento internacional expulsou o Brasil do centro das atenções norte-americanas. Abandonado à própria sorte, Jair Bolsonaro já começou a perceber que não concluirá o mandato que lhe foi outorgado pelo General Villas Boas.

A questão que se coloca nesse momento é o que vem depois dele?

Em 21/05/2017, aqui mesmo no GGN, disse que Jair Bolsonaro era um cometa e que se ele caísse no Palácio do Planalto o resultado seria extremamente perigoso e destrutivo para o Brasil. Não posso dizer que fiquei surpreso com o resultado devastador do governo Bolsonaro. Ele destruiu a credibilidade do Itamaraty, incendiou a Amazônia, comprometeu a produção cultural e científica brasileira e está asfixiando mortalmente as universidades federais. Quando sair da presidência ele deixará um país em escombros.

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Do ponto de vista do império norte-americano, a Lava Jato e sua consequência eleitoral (a brevíssima estadia do cometa Bolsonaro no centro do poder) conseguiram atingir todos seus objetivos. A economia brasileira está em frangalhos e vai demorar para se recuperar. O Judiciário perdeu a aura de imparcialidade e a capacidade de distribuir justiça. A política brasileira se tornou caótica e imprevisível. O fundamentalismo religioso se tornou uma força política considerável que pode ser facilmente radicalizado. A aquisição da Embraer e da Base de Alcântara foram bônus permanentes. O ódio regional, racial, sexual, religioso pode ser mobilizado para impedir a consolidação de qualquer projeto nacional de esquerda.

O Brasil deixou de ser um concorrente em potencial. É desprezível o papel que o nosso país poderá cumprir num cenário internacional polarizado ou pacificado. O isolamento geográfico, econômico e diplomático brasileiro aliado à uma instabilidade política, jurídica e social estrutural e permanente se tornará uma vantagem comparativa para todos os grandes predadores de matérias primas (Europa, China e EUA).

As forças centrípetas que mantinham o Brasil foram enfraquecidas. Os predadores de países já começam a explorar as rivalidades regionais em seu próprio benefício. Nossas Forças Desarmadas e desmoralizadas por Olavo de Carvalho e Jair Bolsonaro serão capazes de garantir a integridade territorial brasileira?

Nenhuma imagem simboliza melhor o tombo que foi dado no Brasil do que a de Eduardo Bolsonaro, Olavo de Carvalho e Ernesto Araújo discutindo política nos EUA. O primeiro fez carreira política sendo o filho do cometa, o segundo se tornou o mentor da intolerância anti-intelectual que criou rachaduras dentro das Forças Armadas e o terceiro usou a religião para reduzir a presença diplomática do Brasil no mundo. Cegos de ódio pelo PT, os três agiram como se fossem “agentes secretos” dos EUA e não foram nem mesmo capazes de cobrar honorários da CIA, do Departamento de Estado ou do Pentágono.

Sérgio Moro e Deltan Dallagnol deveriam emergir como salvadores da pátria, mas afundaram na lama. Mas quem destruiu as ambições de ambos foi um jornalista norte-americano. Vítimas da pressão internacional irresistível dos EUA, os brasileiros se tornaram coadjuvantes de sua própria história. O Brasil não precisa ser anexado ao império dos olhos azuis. Nosso país continuará sendo uma colônia, pois ainda não foi capaz de produzir uma elite livre dos condicionamentos intelectuais, emocionais e psicológicos que fazem o Brasil ficar de joelhos ao invés de se levantar para enfrentar seus adversários.

Durante a era FHC o Brasil sofreu o impacto negativo da crença que os tucanos devotaram à teoria do fim da história. Com Jair Bolsonaro nosso país foi uma vez mais condenado ao fracasso no momento em que a história recomeçou. Os bolsominios acreditaram que seu mito seria salvo pelo Tio Sam. Mas o Tio Sam só cuida dos seus próprios interesses e despreza aqueles que lustram as suas botas.

É impossível responder a questão colocada no início. Talvez a pergunta mais apropriada fosse outra: Restou alguma coisa do Brasil depois da era Bolsonaro? De passagem pelo Brasil, David Harvey disse que o maior perigo nesse momento é o pessimismo. Sou obrigado a discordar dele.

Na raiz de todos os nossos problemas está o otimismo norte-americano. Foi ele que transformou Sérgio Moro e Deltan Dallagnol em destruidores do Dharma brasileiro. Também foi ele que fez Bolsonaro acreditar que poderia ser mais do que um paspalho descartável do império dos olhos azuis. O otimismo norte-americano não deve servir de paradigma intelectual para a esquerda. De fato, se realmente queremos construir um país ativo e altivo devemos parar prestar tanta atenção nos norte-americanos, sejam eles de direita ou de esquerda.

Fábio de Oliveira Ribeiro

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