Homens feministas, brancos contra racismo: reflexões sobre posição política

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Por Maíra Zapater

Do Justificando

Não é raro – para não dizer frequente – nos depararmos, em alguns setores de movimentos sociais, com palavras de ordem a bradar que homens não podem ser feministas, heterossexuais não podem lutar contra a discriminação de homossexuais, “brancos” (e ficam aqui as aspas para indicar a frágil definição conceitual da categoria “raça”) não podem militar contra o racismo, cis-sexuais não podem defender direitos dos transsexuais, “ricos” não podem combater a exclusão social.

Todo esse “não-pode-não-pode-não-pode” geralmente procura ser justificado pelo argumento da qualidade inata de opressor, ou seja: que homens “nascem” machistas e não sabem o que passa uma mulher, heterossexuais “nascem” no privilégio da heterossexualidade e jamais poderão experimentar uma manifestação homofóbica como um homossexual, o “branco” “nasce” racista e não será alvo de discriminação racial, e assim por diante, muitas vezes acompanhando-se tais argumentos de acusações de “hipocrisia” e “petulância”.

Mas será produtivo continuar a despender tanto tempo e energia na fogueira das vaidades de disputa pelas caixinhas e prateleiras mais bem-acabadas e detalhadas onde colocaremos, indicados por abas coloridas, as feministas cis-brancas, as defensoras dos direitos das trans-negras, os militantes do movimento negro homossexual, as lésbicas brancas periféricas, os bissexuais deficientes, e toda a miríade de combinações possíveis entre vulnerabilidades sociais?

É evidente ser imprescindível reconhecer as especificidades de demandas de todos os grupos, muitas vezes obscurecidas pela essencialização dos sujeitos de direitos – daí o problema em se falar de demandas para “A” mulher, “O” negro, “O” homossexual, “O” transsexual, ignorando as diferentes realidades e trajetórias experimentadas pelos indivíduos que compõem as categorias, negando-lhes suas identidades. Mas é importante não confundir identidade com posição política: ser negro é identidade, militar contra o racismo (qualquer que seja o tom da sua pele) é posição política. Ser (uma das muitas possibilidades de) mulher é identidade, ser feminista (qualquer que seja seu sexo ou seu gênero) é posição política. Ser homossexual é identidade, lutar contra a homofobia (qualquer que seja sua orientação sexual) é posição política. E esta confusão entre identidade e posição política e a disputa por essas categorias podem trazer ainda mais cisão e intolerância entre os grupos sociais, ou seja, o efeito contrário do que (imagino) se pretende.

Para agregar mais elementos a essa reflexão e possibilitar que diferenciemos o que é identidade e o que é posição política – e poder constatar que não são condicionantes entre si – vale a pena esmiuçar alguns conceitos que ajudam a compreender a construção cultural e social da exclusão de determinados grupos: a ideologia discriminatória, o preconceito e a discriminação.

A ideologia discriminatória pode ser descrita como um conjunto de crenças na inferioridade de determinado grupo, construindo uma identidade alvo de preconceito. A ideologia discriminatória opera por meio de uma lógica perversa, pois forma e fomenta mentalidades de modo a ensinar, desde muito cedo, que situações de injustiça e exclusão são normais e fazem parte da vida. E todos crescemos e formamos nossas identidades expostos às mais diversas ideologias discriminatórias: quando crescemos assistindo a um programa de TV de sucesso que nos ensina que um homem de trejeitos classificados como afeminados é algo digno de riso (e não de respeito), aprendemos que “isso é assim mesmo”, da mesma forma quando meninas são ensinadas “a sentar direito para se dar ao respeito”, ou quando se afirma que negros “de sucesso” são cantores de determinados estilos musicais ou atletas de determinadas modalidades (alguém aí lembra de um violoncelista ou esgrimista negro?).

O preconceito, como se depreende da própria análise semântica do termo, é um “pré-conceito”, ou seja, o julgamento de pessoa ou situação com base na ideologia discriminatória, e não no que de fato se conhece sobre aquele indivíduo. A ideologia discriminatória alimenta os preconceitos construindo estereótipos negativos, que são representações essencializantes e coletivamente compartilhadas, inclusive por quem sofre o preconceito. Sendo mulher e crescendo sendo ensinada a “sentar direito para me dar ao respeito”, internalizo a norma segundo a qual somente serei digna de respeito se me portar de determinada maneira (e acreditarei que as mulheres que não “sentam direito” não são dignas de respeito). Sendo negro, cresço aprendendo que para ter sucesso há apenas um leque bem estreito de opções que me restringirão a determinadas trajetórias de vida, e me faltarão modelos de outras experiências. Sendo homossexual, aprendo que serei objeto de ridicularização e marginalização. E, nem é preciso dizer, que os grupos imunes a alguns preconceitos, internalizarão e serão empoderados pela assimetria de poder imposta pela ideologia discriminatória.

Esse aprendizado da norma preconceituosa (e, portanto, injusta) conduz à ponta do iceberg, que é a discriminação: ação decorrente do julgamento preconceituoso construído e legitimado pela ideologia discriminatória. Quando se acredita que meninas tem que “sentar direito para se dar ao respeito”, ensina-se desde cedo a julgar a menina que “não senta direito” como não sendo digna de respeito, e, como consequência deste julgamento, ela poderá ser preterida em determinadas situações em decorrência do julgamento de seu caráter a partir de sua vida sexual. Quando se acredita que negros somente fazem sucesso quando são músicos ou atletas, ensina-se que não são capazes de outras trabalhos, e, como consequência deste julgamento, serão discriminados quando ousarem exercer outro tipo de atividade.

Desta forma, é importante o reconhecimento de identidades de grupos histórica, cultural e socialmente vulnerabilizados para que se possam ressignificar signos como aparências, comportamentos, roupas, sotaques e recolocá-los no campo da representação coletiva como algo positivo: daí a importância de movimentos como a Marcha das Vadias, a Parada do Orgulho LGBT, ou o clássico “black is beautiful”. Mais importante ainda é dar voz a essas pessoas, que em geral são subrepresentadas nas arenas de debate político, para que possam falar por si mesmas a respeito dos obstáculos que precisam transpor, e pensar as melhores estratégias para tanto.

Porém, há que se cuidar para não transformar a militância pela igualdade de direitos em uma busca pelo inimigo: classificam-se rapidamente todos os homens como machistas inatos, todos os heterossexuais como homofóbicos de nascença, todos os “brancos” racistas de pai e mãe, em uma reedição da ideia do pecado original. Na melhor das hipóteses, recebem na testa o carimbo indelével com os dizeres “em desconstrução”, como se fosse razoável atribuir culpas a sujeitos determinados, diagnosticar maldades individuais passíveis de tratamento ou punição, a ignorar quase que por completo o processo de construção de mentalidades preconceituosas, legitimadas por ideologias seculares e manifestadas por atitudes discriminatórias.

Mais justo, eficaz e maduro é sermos todos indignados pelas mais diversas discriminações: não preciso ser mulher para me indignar com o machismo, não preciso ser negra para me indignar com o racismo, não preciso ser homossexual para me indignar com a homofobia, não preciso ser transsexual para me indignar com a transfobia, não preciso ser pobre para me indignar com a exclusão social. Acusar esse novo “outro” de privilegiado afasta do debate e impede a empatia imprescindível para erradicar toda forma de preconceito e discriminação.

Então, na minha identidade de cidadã (como indivíduo que ocupa uma relação de direitos e deveres com o Estado e com os demais cidadãos), considero que sim, é problema meu se um negro sofreu preconceito racial, se uma mulher foi alvo de machismo, se um homossexual foi discriminado. É de meu interesse viver em uma sociedade libertária e igualitária.

Maíra Zapater é graduada em Direito pela PUC-SP e Ciências Sociais pela FFLCH-USP. É especialista em Direito Penal e Processual Penal pela Escola Superior do Ministério Público de São Paulo e doutoranda em Direitos Humanos pela FADUSP. Professora e pesquisadora, é autora do blog deunatv.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

17 Comentários

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  1. Essas feministas metidas a

    Essas feministas metidas a modernetes consideram que todo homem é um estuprador em potencial, faz parte da ideologia delas.

    Logo, não podem aceitar o nosso apoio, pois se assim o fizerem não poderão nos demonizar.

     

    1. É evidente que nem todo homem

      É evidente que nem todo homem é um “estuprador em potencial”: quando feminista, ele sabe perfeitamente respeitar as mulheres, pois reconhece que ambos tem direitos iguais. Inclusive sobre o próprio corpo…

      (Putz, é cada uma!)

       

       

       

      1. (Putz, é cada uma!)
        Você

        (Putz, é cada uma!)

        Você parece não querer enxergar o caráter radical de boa parte dessas neo-feministas.

        Veja abaixo um link de uma recente postagem aqui no blog, em que uma feminista se esforça ao máximo para não parecer radical e com isso enganar incautos, mas comete uma escorregada no meio de seu texto. Denunciei o preconceito contido na frase da feminista, e, surpresa, rapidinho outras feministas apareceram não para refutar o que escrevi, mas para negativar meu comentário e me desancar pessoalmente.

        O link para o texto:

        https://jornalggn.com.br/noticia/nova-onda-de-feminismo-responde-ao-conservadorismo

        A frase que demonstra o ódio da autora contra o gênero masculino:

        “É uma manifestação de repúdio contra a tendência dos homens de considerar que todas as mulheres são pasto para seus desejos”

        Meu comentário, denunciando o preconceito da autora:

        Justíssima a luta por direitos iguais, salários iguais, contra esse conservadorismo evangélico tacanho, pelo fim da violência contra a mulher.

        De se lamentar que, para isso, boa parte das chamadas feministas mal consiga disfarçar o ódio e ressentimento que sentem de todo o gênero masculino, como na assertiva “É uma manifestação de repúdio contra a tendência dos homens de considerar que todas as mulheres são pasto para seus desejos.” (grifei)

        Aqui se está a generalizar todo o gênero masculino, pois a autora utiliza a expressão “os homens”, e não “boa parte dos homens”, “muitos homens”, “alguns homens” etc. Portanto, parece que para a autora “os homens” (todos) são desrespeitosos, objetificadores, agressores e até mesmo abusadores de mulheres. 

        Além disso, visa a autora a bestializar o gênero masculino, pois quem “pasta” é gado, ser irracional ao qual a autora quer comparar “os homens” com tal assertiva. 

        Enfim, tem todo o meu apoio na luta pelos direitos. E acredito que para isso não seja necessário generalizar, comparando “os homens” a bestas irracionais agressoras e abusadoras de mulheres.

        1. Charlie

          O único problema com a “assertiva” em questão é seu extraordinário poder sintético: ela condensa uma série de estudos sociológicos, antropológicos e históricos sobre a preeminência simbólica do masculino sobre o feminino nas mais diversas sociedades. Preeminência que se manifesta socialmente, nas práticas cotidianas, pela “dominação masculina”, vulgo “machismo”. Por isso há essa “tendência [predisposição, propensão] dos homens de considerar que todas as mulheres são pasto para seus desejos”. E como homens e mulheres partilham um mesmo sistema de representações, as mulheres “tendem” a achar essa situação de opressão normal, pois o “machismo” é naturalizado, incorporado, passa a fazer parte da “ordem natural do mundo”.

          O problema começa justamente quando essa relação de poder, tão estruturante das relações sociais, é interrogada pelo feminismo. Aí, meu caro, rola o maior mimimi por parte daqueles que não aceitam que sua visão de mundo seja desestabilizada. A maior prova disso é a sua própria incapacidade de perceber o machismo destilado em seu comentário – e isso, justamente, quando pensa estar sendo muito consciente (ou seria condescendente?) ao criticar o “conservadorismo evangélico tacanho”.

          Amigo, o conservadorismo evangélico tacanho, por ser absolutamente explícito, é o mais fácil de combater! O mais difícil é combater esse machismo nosso de todo dia, incrustado em nosso modo de ser e nos mais “polidos comentários”; esse machismo que faz boa parte dos homens tão engajados desse blog se queixarem de que as feministas estão muito “radicais” e “ressentidas” (para não dizer… “feminazis”… )

          Putz, quer saber? Acho que a mulherada nem começou a radicalizar o tanto que deveria. 

  2. Como não vestir a carapuça e não engrossar o coro conservador

    Como não vestir a carapuça e não engrossar o coro conservador

    O juridiquês de Maíra Zapater no texto Homens feministas, brancos contra o racismo: reflexões sobre posição política revela a dificuldade de conciliar e criar situações de diálogo entre a sociedade civil organizada com o pensamento acadêmico que fundamenta e alimenta a máquina pública. De uma lado temos um discurso que luta pela urgência de mudanças, no outro lado temos um discurso que pensa a questão política a partir da criação de arranjos e consensos que definem e possibilitam a cidadania.

    O diálogo entre “o jurista” e “o militante social” é permeado por uma dificuldade de comunicação no que tange ao conteúdo e a forma das diferentes esferas discursivas. Enquanto na esfera jurídica a questão da justiça social se encerra no processo legal e na renovação e defesa das leis, a sociedade civil é uma esfera de ação complexa que opera a partir de justaposições de determinantes culturais, econômicos e jurídicos. A justiça social não é um ideal que se realiza na via estreita da “igualdade abstrata” e os movimentos sociais atuam a partir das “falhas” e “impossibilidade” da ordem jurídica atual.

    Nas lutas cotidianas a demanda é por “igualdade substantiva”, os movimentos sociais lutam não apenas para mudar as leis, evidente que é fundamental uma legislação que puna e iniba todo tipo de intolerância e preconceito, mas lutam por respeito à diferença que é efetivado de forma plena quando os costumes mudam em sincronia com a esfera política e econômica.

    Maíra Zapater reduz as pautas dos movimentos sociais à pauta jurídica, reduz as diversas opressões ao conceito histórico e insuficiente de cidadania e comete o duplo erro de tornar a cidadania um conceito formal estritamente autorreferente que potencialmente silencia as vozes dissonantes que sinalizam situações de vitimações que no limite apontam e interpelam o Direito no sentido que este deve ser refundado. A figura do “cidadão” deve ser resultado de movimentos inclusivos e não um elemento estático que cria o elo, a identidade entre o indivíduo e o Estado.

    Rotular e afirmar que movimentos sociais e coletivos de discussão e mobilização que se organizam a partir de variações específicas da atual cultura de exclusão como sendo portadores de uma ‘”ideologia discriminatória” é uma atitude temerária, pois ignora que a necessidade da auto-organização setorial é uma reação defensiva, para ter voz os afetados pelas diversas exclusões precisam se organizar e o sentido da organização é sim – e deve ser – a luta contra o “inimigo”. É um devaneio imaginar que é obrigação do oprimido incluir a necessidade de absolvição daqueles que apesar de estarem em situação de privilégio não se identificam com o “opressores”.

    A exigência de relativizar a crítica social endossa de forma no mínimo ingênua as diversas opressões. Luta política é luta e não um tribunal para inocentar quem não tem razões para se considerar machista, homofóbico, racista, etc. Aos diversos grupos de oprimidos o que interessa é identificar os responsáveis pela opressão, é lutar contra leis e costumes que legitimam e reproduzem situações de exclusão. Não podemos acreditar que diferenças são anuladas pelo voluntarismo bem intencionado e forçar o reconhecimento imediato de que as lutas setoriais são as mesmas que a luta pela cidadania e portanto todos são igualmente responsáveis e gozam do mesmo protagonismo.

    É a sociedade que separa os cidadãos. Que separa o opressor do oprimido. É uma inversão cruel o mero ato de sugerir que os oprimidos possuem responsabilidades pela segregação que estão submetidos e lutando contra.

    1. Nao vi “juridiquês” nem reduç à pauta jurídica no coment d Maira

      Minha crítica parcial ao comentário dela seria outra, que postarei em comentário separado. Em compensaçao no seu comentário abunda nao um juridiquês, mas discurso abstrato e pretensioso.

      1. Concordo que meu comentário

        Concordo que meu comentário foi enrolado. Não quis ser pretensioso, mas a forma que redigi o texto pode ter passado isso. Quanto a ser abstrato, nenhum texto é ruim por ser abstrato, boas teorias são sempre válidas, teoria ruim ou fora de contexto (o que provavelmente foi o meu comentário) não presta. Eu interpretei que o texto da autora caiu no “juridiquês” por este defender que todos somos cidadãos e por isso somos igualmente responsáveis, acredito que existem diferenças e que intelectuais deveriam ser mais atentos para não produzirem álibis para conservadores.

        1. OK. Mas vc se prendeu apenas a um aspecto pequeno do texto…

          Na verdade o texto dela foi longo, e seguiu um percurso argumentativo meio complicado, em que às vezes parecia estar assumindo uma posiçao mas depois deixava claro que nao estava. Acho que, no fundo, nós três concordamos em 80% ao menos…

          1. A intenção da autora foi boa,

            A intenção da autora foi boa, mas nas entrelinhas fui uma jurista dizendo como os movimentos sociais devem se portar. Não concordo com essa postura que vejo muito em pessoas que por estarem em um lugar de “autoridade” de quererem dirigir a sociedade. Quem tem vivência em algum movimento social sabe como é chato alguém de fora criticar sem respeitar o contexto e a dificuldade de se organizar. A crítica ela pode e deve existir, mas ela deveria ser feita com mais respeito. Existem muitas pessoas querendo definir como os movimentos sociais devem ser, mas pouca gente lutando de verdade. Ainda no Brasil existe muita teoria (boa e ruim) e pouco diálogo. Eu sou professor e convivo com muita gente querendo dizer como eu devo agir sem nunca me perguntar como eu vejo e qual a minha opinião sobre a minha realidade de trabalho. Eu tento ser solidário com os movimentos quando vejo “pessoas de fora” dando opinião demais sem dialogar corretamente.

          2. Nisso estamos de acordo, como vc pode ver pelo meu outro comentá

            Mas acho que a autora do post tb está, mesmo se deu a impressao do contrário. Veja a frase abaixo:

            “Mais importante ainda é dar voz a essas pessoas, que em geral são subrepresentadas nas arenas de debate político, para que possam falar por si mesmas a respeito dos obstáculos que precisam transpor, e pensar as melhores estratégias para tanto.”

            a

          3. Eu considerei as censuras no

            Eu considerei as censuras no texto mais significativa, chamou mais a atenção no texto o trecho:

            “Todo esse “não-pode-não-pode-não-pode” geralmente procura ser justificado pelo argumento da qualidade inata de opressor, ou seja: que homens “nascem” machistas e não sabem o que passa uma mulher, heterossexuais “nascem” no privilégio da heterossexualidade e jamais poderão experimentar uma manifestação homofóbica como um homossexual, o “branco” “nasce” racista e não será alvo de discriminação racial, e assim por diante, muitas vezes acompanhando-se tais argumentos de acusações de “hipocrisia” e “petulância”.”

            Eu me pergunto depois de ler trechos como o que citei acima: “Quem defende explicitamente nos movimentos sociais que existe uma condição “inata de opressor”? Se por acaso alguém se pronunciar de forma que confirma a afirmação da autora, é justo a partir de uma atitude individual generalizar e criticar todo o movimento social?

            Eu considero a postura de “dar voz” para o outro na prática uma ação que foi mais no sentido de fazer uma concessão e que isso é suficiente. Na prática o discurso da autora agrada mais quem é crítico dos movimentos sociais do que contribui para quem está mobilizado e lutando.

             

          4. Nao concordo, acho q vc se prende a alguns aspectos

            porque se colocou contra desde o início. Esse trecho que vc cita é o mesmo que critiquei, mas é apenas UM ENTRE OUTROS. Acho tb que já esclarecemos nossas interpretaçoes relativas, nao vejo muito sentido em continuar discutindo. Me parece que estamos de acordo no essencial, menos na má vontade contra o texto da autora do post, rs.

          5. Minha leitura foi

            Minha leitura foi “maliciosa”, eu no lugar da autora, ainda mais que a autora é movida por uma boa vontade legítima e isto está claro no texto, não ficaria feliz de dar margem para pessoas que pensam o contrário usarem meu texto por causa de um trecho para criticar o feminismo (vide os comentártios abaixo). Não faz sentido ser contra o machismo, racismo, homofobia, etc. e dar margem para pessoas que são contra a organização desses grupos argumentarem.

  3. O ponto fraco do texto, no meu entender, está no parágrafo abaix

    “Todo esse “não-pode-não-pode-não-pode” geralmente procura ser justificado pelo argumento da qualidade inata de opressor, ou seja: que homens “nascem” machistas e não sabem o que passa uma mulher, heterossexuais “nascem” no privilégio da heterossexualidade e jamais poderão experimentar uma manifestação homofóbica como um homossexual, o “branco” “nasce” racista e não será alvo de discriminação racial, e assim por diante, muitas vezes acompanhando-se tais argumentos de acusações de “hipocrisia” e “petulância” “

    Nao me parece que o argumento dos que defendem que SOBRETUDO mulheres devem falar sobre feminismo e negros sobre racismo etc seja esse. E sim que é quem sofre com uma situaçao que sabe melhor onde o calo lhe dói.

    A crítica, no caso do feminismo, é sobretudo com relaçao a homens que se autoproclamam feministas para pretender ditar quais deveriam ser os objetivos dos movimentos (por ex, o discurso, que já vi aqui no blog, que devem se centrar na desigualdade salarial, e nao nessas “bobagens” de identidade de gênero, etc.) Apoios de homens feministas sao benvindos, até porque o machismo tb oprime homens, mas nao podem querer, mais uma vez, falar em nosso nome.

    E o mesmo vale quanto ao racismo, homofobia, etc. Sou mulher, feminista, mas tb branca, heterossexual, falante de dialeto privilegiado; luto aqui sempre contra todos os preconceitos, mas é claro que nao vou pretender ensinar o movimento negro como lutar contra o racismo, ou quais objetivos sao ou nao importantes para os homossexuais. A única luta contra preconceito que nao me atinge diretamente em que pretendo poder ensinar algo é quanto ao preconceito linguístico, porque as vítimas deste ainda nao têm consciência explícita do mesmo — elas mesmas muitas vezes crêem que “falam errado” –, e, como linguista, eu sei que isso nao é verdade.

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