Aumento da fome no mundo

 

Pela primeira vez, nos últimos 10 mil anos, a humanidade pode satisfazer a necessidade alimentar de todos. Contudo, as previsões menos catastróficas, demonstram que a cada seis segundos uma criança morre de fome no mundo. Seis segundos. Ao total são 925 milhões de crianças, homens e mulheres que acordam e dormem todos os dias com fome. Por incrível que possa parecer, o cenário era ainda mais grave, pois pela primeira vez em 15 anos o número de pessoas com fome no mundo caiu. É isso o que nos informa a FAO (Fundo das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura).

A causa da fome está na falta de dinheiro para comprá-los. Como na sociedade capitalista os alimentos também são mercadorias, somente podem obtê-los quem pode pagar. Mesmo que estejam sobrando.

 

A fome tende a se aprofundar na medida em que os preços mundiais dos alimentos estão batendo recordes consecutivos de alta nos últimos meses. Segundo a revista The Economist os alimentos estão com os preços mais altos desde 1984. Relatório publicado em fevereiro pelo Banco Mundial revela que os preços dos alimentos continuam a subir. Entre outubro de 2010 e janeiro de 2011 aumentaram 15%. O aumento dos preços ocorreu principalmente com os alimentos básicos: trigo, milho, açúcar e óleos comestíveis.

O que não poderá ocorrer em 2050 com 9 bilhões de bocas se a situação já é calamitosa com uma população mundial de quase 7 bilhões? A produção de alimentos terá de aumentar 70% para acompanhar o aumento da população. Caso contrário a estimativa é de que tenhamos 3 bilhões de famintos no mundo.

 

Causas da Fome

 

Essa situação pode ser agravada com as mudanças climáticas, falta de água, aumento da demanda por fertilizantes e estagnação econômica, haja vista que a fraca e lenta recuperação mundial da última crise financeira pode ser dificultada ainda mais pela situação política no Oriente Médio devido às elevações nos preços do petróleo.

Obviamente, o fato de os alimentos, em nossa sociedade, serem considerados commodities globais, está na raiz do problema. Isto é, os alimentos – como qualquer outra mercadoria mundial – estão à mercê da especulação de investidores que atuam livremente visando somente lucros, especialmente em um mercado desregulamentado, leia-se “livre para se fazer o que se bem quiser”. Roberto Graziano, ex-ministro de Lula de Segurança Alimentar e Combate à Fome e indicado por Dilma para presidir a FAO (órgão da ONU sobre alimentação e alimentação) afirma ser necessário regulamentar o mercado global de commodities para evitar a “financeirização” da fome. Ou seja, para diminuir a possibilidade de especulação na compra e venda de alimentos. Grandes multinacionais e fundos mundiais aumentam ainda mais os preços quando eles estão em alta e aceleram as baixas quando os preços estão em queda; o que pode levar agricultores à ruína e consequente diminuição da produção; mas garante os lucros estratosféricos aos grandes especuladores. Segundo artigo de John Vidal, no The Observer, a atual epidemia de fome tem sido causada pelos mesmos bancos e fundos de investimento de risco que foram os responsáveis pela última crise financeira global a partir da especulação junto às hipotecas de alto risco (sub-prime).

 

Fome na Superpotência

 

Nos Estados Unidos, mais de 42 milhões de cidadãos dependem de ajuda do governo para não passarem fome, trata-se do food stamps. Mesmo assim, Obama reservou 708 bilhões de dólares para financiar a guerra no mundo em 2011.

Concomitantemente a Superpotência é o país mais obeso do mundo e a taxa de mortalidade infantil é maior do que em Cuba. Contradições que precisam ser resolvidas.

 

Medidas mundiais necessárias

 

Sugestões óbvias para o fim da fome no mundo:

 

Políticas sociais: programas de transferência de renda direcionados à alimentação como o “Oportunidades” do México e o “Bolsa Família” do Brasil conseguiram uma substancial diminuição da fome. No Brasil o programa Bolsa Família, muito criticado pela oposição, salvou da fome 12,8 milhões de famílias em 2010. Além disso, foi elogiado no último dia 04 de fevereiro por delegação do governo do Canadá como modelo em gestão. Em nosso caso, o recebimento do benefício está vinculado à manutenção da criança na escola e acompanhamento básico da saúde.

 

Remoção de barreiras comerciais e cortes de subsídios: isso possibilitaria um aumento da produção e exportação de alimentos pelos pequenos agricultores. Como exemplo, citamos o Brasil, onde a agricultura familiar é responsável por 70% dos alimentos consumidos no país. A agricultura familiar é fundamental não só para a diminuição da fome por meio do consumo dos alimentos que produz, mas também porque melhora a situação social no campo. Desde 2003 até hoje houve uma ampliação de 72% da classe média rural (3,7 milhões de pessoas) com aumento médio de 30% da renda. Atualmente mais de 4,3 milhões de famílias vivem da agricultura familiar. A agricultura familiar também tem servido aos programas sociais de alimentação de estudantes, doação a entidades assistenciais, regulação e recomposição de estoques estratégicos entre outras políticas públicas que visam acabar com a fome.

 

Pesquisa: A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) tem contribuído, com suas pesquisas e desenvolvimento tecnológico, significativamente para a redução da fome no Brasil e também mais recentemente em outros países. Desde 2010 tornou-se uma organização internacionalizada atuando nos Estados Unidos, França, Holanda, Inglaterra, Venezuela, Panamá e principalmente em vários países africanos: Gana, Moçambique, Mali e Senegal. Sua atuação tem possibilitado efetivamente a melhoria da produtividade (planejamento agrícola, uso das terras, melhoramento genético), diminuição do desperdício, melhoria da gestão agropecuária, sustentabilidade etc. Seus inúmeros programas e projetos têm obtido grande reconhecimento mundial. Aliás, uma maior parceria entre a organização brasileira e a FAO poderia difundir ainda mais pelo mundo as ideias de sucesso no combate à fome.

 

Slow Food

 

É um movimento mundial que não só se contrapõe ao fast food, mas também busca resgatar as culinárias regionais e questionar o ritmo convulsivo de nossas vidas. Contesta igualmente a falta de interesse das pessoas em saber de onde se origina e como foi produzido o alimento que consumimos, nisso se inclui as formas de trabalho e relação com a natureza para a elaboração do que se come. Hoje o costume de toda a família em se sentar à mesa para as refeições e ingerir alimentos caseiros e de qualidade junto a uma dieta equilibrada e saudável está se acabando. Comemos desesperadamente assistindo à “excelente” programação da televisão. Essa situação dificulta o diálogo e convívio familiares. Come-se mal, vive-se pior ainda. Conclusão: uma parte da humanidade não come nada, a outra come muito e mal, daí a obesidade com suas nefastas consequências para a saúde.

A saída não é impossível e está ao nosso alcance. Cada um de nós pode começar de forma simples e imediata: abolir refrigerantes, gordura, fritura, açúcar, alimentos industrializados entre várias outras “bombas” que jogamos diariamente para dentro de nosso corpo e ainda ensinamos nossos filhos a fazê-lo.

Alimentos naturais como frutas, legumes e verduras normalmente são muito mais baratos do que os que nos fazem mal. Desligar a televisão, além de fazer bem à inteligência, também contribui para a reunião em família durante as refeições. São esses momentos preciosos que devemos cultivar. São atos básicos e de baixíssimo custo. Fazendo nossa parte teremos maior razão para exigir dos governos e das empresas uma mudança. Por que você não começa hoje?!

Redação

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