Do Terra Magazine
A tragédia em Fukushima, no Japão. Longe de ter acabado
Rui Daher
Logo após o tsunami que provocou grave tragédia no Japão, folhas e telas cotidianas nacionais se esmeraram em mostrar a rápida recuperação do país diante da devastação.
Não foi e nem será a primeira vez que a potência do Sol Nascente mostra tal capacidade. Assim como também não foram poucas as situações que ela criou para depois ter de remediar.
A lembrança serve para que residentes desta Federação de Corporações a que deram o nome de Brasil não se autoflagelem com o velho complexo de vira-latas.
Se esse é um depois espetacular de uma nação voluntariosa, disciplinada e tecnologicamente bem aparelhada, os desdobramentos hoje reportados a partir de Fukushima mostram-se extremamente desastrosos e preocupam a humanidade.
Transcrevo relato do jornalista Harvey Wasserman, do site da revista The Progressive, editada nos EUA desde 1909:
“Quantidades massivas de líquidos radioativos estão vazando, através do reator destruído, para o Oceano Pacífico. E o que tem vazado é muito mais letal do que o ‘mero trítio’ que dominou as manchetes até agora”.
Não está aí apenas o alerta de uma publicação de esquerda. É a própria Tepco, proprietária e operadora de Fukushima, uma das maiores e mais avançadas empresas de tecnologia elétrica, que admite não poder controlar a situação, quase 30 meses após três dos seis reatores terem explodido.
Além de estar numa região propensa a terremotos e sujeita a tsunamis, os reatores estavam situados sobre um grande aquífero, fato ausente de quase todas as discussões sobre o acidente desde que ele ocorreu. Isto faz difícil imaginar não contaminada a água do lago subterrâneo e ora vazando.
Até hoje, a empresa e as autoridades regulatórias asseguraram que o único contaminante da água é o trítio primário, um isótopo relativamente simples, de oito dias de meia-vida, o que faz proliferar a ilusão de que não há muito com que nos preocuparmos.
Wasserman acrescenta: “relatos agora indicam que o vazamento em Fukushima também inclui quantidades substanciais de iodo radioativo, césio e estrôncio”.
Traços desses elementos, vindos de Fukushima, foram detectados em pescados na costa da Califórnia.
Ainda segundo o jornalista da The Progressive, “não é claro se o vazamento está ou não se acelerando. (…) Continua incerto o que ocorreu com os núcleos derretidos dos três reatores que explodiram. (…) Também é incerto o destino de centenas de toneladas de combustível nuclear acumulado precariamente num tanque suspenso no ar, 100 pés acima da Unidade Quatro”.
Como tudo que está ruim sempre pode piorar, sabe-se que autoridades japonesas falam em voltar a operar os 48 reatores que continuam fechados desde o acidente. A Tepco e outras empresas privadas querem evitar mais prejuízos, e pressionam pelo recomeço das operações em outras usinas.
Para Wasserman, “o que sabemos muito bem é que Fukushima foi a pior catástrofe atômica do mundo e está muito longe de terminar”.
A nós, brasileiros, resta lamentar por aqueles que estão no Oceano Pacífico, e agradecer por estarmos no Atlântico. Por enquanto.
O documentário abaixo (em inglês) do ativista Michael T. Snyder é um libelo que as autoridades japonesas precisam esclarecer à humanidade.
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